Para desenvolver e consolidar uma cultura de inovação, uma cooperativa deve ter dois olhares. O primeiro é para dentro, valorizando seus colaboradores e estimulando a geração de ideias e a experimentação “dentro da caixa”. Deve buscar ideias de todos os colaboradores e, principalmente, aquelas oriundas de conversas, desafios e discussão de problemas levantados entre colaboradores de diferentes setores. Quanto maior a diversidade de percepções e visões, da cooperação interna, melhor a qualidade da ideia gerada, da sua experimentação e da inovação potencial resultante, sejam inovações de produto, serviço ou de processo.
O segundo olhar é para fora, buscando no seu entorno elementos que possam contribuir para captar ideias e desenvolver projetos em parceria com os demais atores técnicos, científicos e sociais da sua região. Nesse olhar, o objetivo é experimentar em conjunto, aumentar o horizonte de informações, articular soluções de diferentes fornecedores de “fora da caixa”. Em sua essência, o objetivo é cooperar para inovar mais e melhor.
Para praticar esse segundo olhar, a melhor estratégia que a cooperativa pode desenvolver é participar de um hub de inovação que, normalmente, está vinculado a um ambiente físico e virtual que congrega os mais diferentes atores de um ecossistema de inovação. Entre os atores estão os órgãos municipais, estaduais e federais ligados à inovação, as universidades, os institutos de pesquisa, incubadoras, parques tecnológicos fornecedores e startups, entre outros. Dentro de um ecossistema de inovação podemos ter, inclusive, mais de um hub de inovação.
E para tratar com toda essa diversidade de atores, a cooperativa precisa, antes de entrar, ou logo após entrar no hub de inovação, tomar algumas decisões preliminares sobre o que vai compartilhar de problemas e desafios. A cooperativa precisa ter clareza dos seguintes aspectos: “1) Por que estamos participando do hub de inovação? Qual o nosso propósito nessa participação?; 2) O quanto estamos dispostos a compartilhar informações? Até que nível iremos abrir nossos problemas ou demandas?; 3) Com o que iremos contribuir para o hub de inovação? Abriremos nossas portas e processos?; 4) Quanto de tempo estamos dispostos a investir nas atividades do hub? Vamos colocar um representante fixo ou enviamos um diferente para cada reunião?; 5) Estamos preparados para desenvolver projetos com startups ou empresas incubadas? Temos uma Política de Inovação Aberta?; 6) Como trataremos a Propriedade Industrial dos produtos, serviços ou processos inovadores decorrentes das parcerias?”.
Essas são algumas das perguntas para reflexão. Sugiro que a cooperativa defina um roteiro de abordagem e de cooperação. Como um passo a passo de participação, cooperação e articulação, principalmente com as startups ou empresas nascentes.
Após refletir sobre as questões anteriormente apresentadas, esse roteiro deve incluir pelo menos seis grandes etapas: 1) Planejamento e definição de diretrizes para participação em hubs e em ecossistemas de inovação; 2) Definição e uso de técnica ou ferramenta de apoio à prospecção e seleção de propostas de oportunidades de inovação; 3) Definição dos critérios e instrumentos de internalização e realização de prova de conceitos, como modelos de acordos de cooperação mais amplos; 4) Definição dos formatos e procedimentos necessários para realização de pilotos dentro da cooperativa, como modelos acordo de cooperação mais específico; 5) Definição dos formatos e questões jurídicas relativas a um contrato formal de parceria, desenvolvimento, internalização e propriedade intelectual; 6) Métricas de acompanhamento do desempenho da articulação, da parceria e dos resultados provenientes de participação da cooperativa no hub e no ecossistema de inovação.
Ao responder às questões e se preparar para as etapas sugeridas, a cooperativa estará melhor preparada para ser um ator relevante na sua região e poder colher bons resultados para os seus cooperados.
*Por Hélio Gomes de Carvalho, Assessor de inovação e Tecnologias 4.0 do Centro Internacional de Tecnologia de Software (CITS)
Artigo publicado originalmente na edição 107 da Revista MundoCoop