O presidente da Cooperativa Coopavel, Dilvo Grolli, esteve no Sistema Ocepar, em Curitiba, na tarde dessa terça-feira (06/06), quando conversou com a equipe de Comunicação da organização sobre a produção da safra 2022/2023 no Paraná, estimada em mais de 47,12 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), e os gargalos no escoamento da produção. Confira:
Qual o papel das cooperativas nessa super safra?
O Paraná é bastante pujante na agricultura e na pecuária. E também temos uma agroindústria muito forte, tanto é que o estado é o primeiro produtor de frango do Brasil, o segundo maior produtor de carne suína e o terceiro maior produtor de leite. Isto tem uma forte influência do cooperativismo, basta olhar a estrutura fundiária do Paraná e quanto dessa estrutura tem relação com o cooperativismo. Mais 70% dos agricultores ligados a cooperativas são pequenos produtores rurais. E são as cooperativas que dão sustentação para essa. As cooperativas hoje recebem é mais de 70% da soja, mais de 60% do milho, e 55% do trigo produzido no estado. Se fossemos uma empresa normal de trade, simplesmente compraríamos e venderíamos esses produtos. Mas as cooperativas não são meras intermediárias, como a grande maioria das trades. As cooperativas agregam valor à safra, por meio da industrialização. As cooperativas transformam essa safra agrícola em prosperidade.
Então, esse papel de apoio ao pequeno produtor e de agregar valor à produção, é a principal contribuição das cooperativas no Paraná?
Sim, como eu disse antes, as cooperativas transformam a safra, gerando emprego na área urbana e aumento de renda na área rural. E isso vai além de grãos. As cooperativas, respondem por 35% do leite produzido no Paraná, por 56% do suíno, 44% do frango e 30% do peixe. Um ponto importante, também, é que a importância do cooperativismo não se restringe ao fator econômico, que é receita gerada. Precisamos lembrar também do amparo ao pequeno produtor. Qual é a empresa que se preocupa com uma estrutura, em que 70% dos produtores são pequenos? Qual é a grande empresa que dá assistência a um pequeno produtor que planta, por exemplo, 10 hectares ou um pequeno produtor cuja propriedade está a 40 km da cidade? As cooperativas olharam para esses produtores. Então, quando se pensa na grande safra do estado do Paraná, nós temos que olhar o associativismo.
A Coopavel foi uma das pioneiras na industrialização da produção agropecuária?
Sim, a Coopavel tem uma presença forte na agroindústria. Tanto é que 90% do seu faturamento vem da área indústria. A Coopavel tem, por exemplo, uma indústria de esmagamento de soja, que fornece farelo de soja para a produção de aves, suínos e leite. Tem um moinho de trigo, quatro indústrias de rações para aves, suínos e bovinos. Tem uma indústria de frango, uma indústria de suíno, duas indústrias de fertilizantes e uma indústria de fertilizante granulado. A cooperativa também trabalha com processamento de leite em convênio com outra empresa nacional. Tem a Nutriagro, que trabalha com fertilizante foliar, e a Coopclean, indústria de produtos de higiene e limpeza. E no segundo semestre de 2023, teremos mais novidades. Todos esses negócios mostram que a Coopavel tem um processo agroindustrial muito forte. O objetivo de tudo isso é agregar valor aos produtos entregues pelos agricultores cooperados.
O Show Rural 2024 já tem data? E o que podemos esperar de novidades?
O Show Rural 2024 será de 5 a 9 de fevereiro. Nós teremos um foco forte, como aconteceu no último ano, na área de tecnologia e inovação, pecuária de alta genética, máquinas implementos, e na área agrícola. Na área de insumos, por exemplo, temos que olhar a agricultura de acordo com o que o planeta está pedindo. Hoje o nosso cliente não é somente uma rede mercado ou um grupo de atacadistas. O nosso cliente é mundial e temos que ver a globalização como oportunidade. Em resumo, numa visão de futuro, o Show Rural 2024 irá mostrar tecnologia e ecologia, dentro uma realidade que a sociedade mundial está buscando.
O produtor e a cooperativa fazem com excelência o seu trabalho para dentro da porteira. Mas nós temos alguns gargalos fora da porteira. Um exemplo é a logística. Como que o senhor avalia essa questão de infraestrutura?
Logística é um problema muito crônico no Brasil. Quando a gente olha o desenvolvimento americano e a construção da sua infraestrutura, vemos que o modelo americano começou com rodovias. Do leste para o oeste americano, integrando o país de um lado para outro, estão as ferrovias. Já o Brasil foi integrado com rodovias, que é o sistema rodoviário mais caro que existe e de difícil manutenção. O sistema rodoviário custa 33% a mais que o sistema ferroviário. E o Paraná tem poucas ferrovias e, inclusive, algumas ferrovias não estão sendo exploradas eficientemente.
A dificuldade na manutenção das rodovias foi o que levou a privatização, em 1997. Mas o modelo de privatização adotado no estado tirou muito da sociedade. O Paraná pagou, por muitos anos, o pedágio mais caro do Brasil.
Estamos agora passando por um período de renovação e isso é uma preocupação grande, no sentido de que a centralização não fique com poucas empresas porque nós temos trechos muito longos e que demandam muitos investimentos e muito capital de giro. Então, acho que nós tínhamos que, e sei que hoje não se dá mais tempo para isso, de ter trechos menores e, inclusive, ter a participação da iniciativa privada regional na administração desses trechos. Primeiro, porque regionalmente se conhece melhor os problemas e você tem a facilidade de cobrar de forma mais direta.
Então eu acho que temos que ficar muito atentos com o sistema de pedágio que vai se começar agora no mês de agosto, com os lotes 1 e 2, até porque isso vai servir de parâmetro para todo o resto do estado. Este assunto tem que ser muito bem discutido e avaliado pela sociedade, para que não tenhamos uma continuidade daquilo que nós condenamos por tanto tempo.
Hoje nós temos experiência. Em 1997, quando o pedágio foi implantado no governo Jaime Lerner, nós participamos como pessoas que acreditavam num projeto de infraestrutura, através da iniciativa privada. Mas não tínhamos a experiência de custo e de como seria ao longo dos anos. De 1997 a 2023, se passaram muitos anos. Hoje nós, como sociedade, já temos certa experiência, sentimos no dia a dia as deficiências do pedágio. As empresas deixaram de fazer os seus combinados, em relação a manutenção e mesmo trechos de ampliações.
E também temos que discutir além do pedágio, ou seja, trabalhar mais fortemente a questão ferroviária. O Paraná não tem uma saída melhor do que o sistema ferroviário, porque o sistema rodoviário de logística é muito oneroso. Vamos fazer uma concessão para os pedágios? Sim, mas o ferroviário tem que ser implantado.
Para encerrar, gostaríamos que o senhor falasse também de continuidade, tanto das atividades no campo quanto na cooperativa, ou seja, sucessão.
É a vida, né? A juventude hoje está sendo impulsionada pela comunicação, pela rapidez que a conectividade proporciona. Vejo a juventude com esperança, com o jovem voltando para o campo, porque com conectividade, ele não precisará mais ser tratorista, pois terá um piloto remoto de trator. E com as redes sociais ele está ligado nas redes sociais mundiais.
O jovem hoje tem graduação. É muito diferente de anos atrás. Na nossa época, nossos pais falavam para nós, filhos, para ir estudar porque na fazenda não tínhamos futuro. A gente só tinha a enxada e a foice como ferramentas. E víamos os pais da gente suando muito para trabalhar a terra. E participávamos daquele sacrifício pela dureza do dia a dia. Então, eles não queriam que os filhos tivessem aquela vida.
Hoje nós temos um sistema, inclusive regional, que favorece a formação técnica para o agricultor e para o pecuarista. Aí quando o jovem volta para o campo, ele traz consigo um alto poder de conhecimento. E aí que está a multiplicação dos pontos. Este jovem que está no campo hoje não é aquele jovem de antigamente que sabia somente manusear enxada e a foice. Hoje é um jovem com alta performance, devido conhecimento que ele teve na sua faculdade e está voltando para o campo e vai ser um administrador de tecnologia.
Outra questão de fundamental importância é a sustentabilidade. Hoje há dados que comprovam que o cooperativismo protege o meio ambiente. A Coopavel, aliás, é um exemplo, basta lembrar o trabalho de preservação de nascentes, premiado pela ONU. Pode comentar a respeito?
Nós temos que ter orgulho, como brasileiros. E mais uma vez o cooperativismo vai além na parte econômica, integrando em suas atividades a preocupação em olhar para o futuro da humanidade. Na Coopavel, começamos um programa de recuperação de nascentes no ano 2000. É um programa fantástico que, inclusive, foi levado para muitos países do mundo. Ganhamos prêmios internacionais com esse programa. Por meio dessa ação, mostramos o valor que o cooperativismo dá para a vida. Contribuímos com informação, transformação e conhecimento. Então, quando se fala em meio ambiente mundialmente, temos que ter conhecimento do que o Brasil faz e o que ainda precisa ser feito para o futuro da humanidade.
Fonte: Sistema Ocepar