Há 25 nascia o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop). Presente em todos os Estados e com sede nacional em Brasília, o Sescoop compõe o Sistema OCB, que une ainda a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Confederação Nacional das Cooperativas (CNCoop).
“A missão do Sescoop é promover a cultura cooperativista e o aperfeiçoamento da governança e da gestão para o aprimoramento das atividades desenvolvidas pelas cooperativas brasileiras. Ele também promove a autogestão e difunde a cultura cooperativista”, sintetiza Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB.
Freitas, que também preside o Conselho Nacional do Sescoop, celebra as contribuições da instituição para o fomento do cooperativismo. “Seus programas de qualificação, disseminação de tecnologias e acesso a novos mercados fazem parte dos princípios de educação e formação de nossos cooperados e colaboradores para uma atuação mais profissionalizada e assertiva”.
A visão estratégica do Sescoop, adiciona, “é fundamental para direcionar as ações que nos permitem garantir avanços significativos, bem como o alcance de nossas metas, como o BRC 1 TRI de prosperidade, que prevê a movimentação R$ 1 trilhão em negócios e 30 milhões de cooperados até 2027”.
A instituição, criada em 1998 por meio da Medida Provisória 1.715/98 e regulamentada no ano seguinte pelo Decreto 3.017/99, integra o Sistema S brasileiro. É o “S” do cooperativismo (o Sistema S é composto ainda por Senai, Sesi, Senac, Senai, Sest, Senat, Senar e Sebrae).
“Vida longa ao S do cooperativismo!”, Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB
A missão do Sescoop é “promover a cultura cooperativista e o aperfeiçoamento da governança e da gestão para o desenvolvimento das cooperativas brasileiras”
LONGA HISTÓRIA DE RELACIONAMENTO
Os 25 anos de atuação do Sescoop foram fundamentais para a evolução e modernização do sistema, afirma Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio na Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP) e embaixador especial da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) para as cooperativas. “O Sescoop é instrumento extraordinário ao cooperativismo, por todo o processo de treinamento, capacitação e informação que realiza, e trouxe uma ampliação no relacionamento doutrinário do cooperativismo”, avalia.
O modelo cooperativo é basilar para a criação de soluções que permitam a manutenção de organizações dos diversos ramos diante da globalização da economia. Além de promover conhecimento, base para o processo evolutivo, a constituição do Sescoop “foi o instrumento que permitiu que as pessoas criassem suas redes e suas organizações de escala, permitindo a sua sobrevivência e seu progresso”, comenta Rodrigues.
Ele relembra, dentre os momentos marcantes na história que divide com o cooperativismo brasileiro e mundial, a promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/88), pelas mudanças fundamentais promovidas. “Até 1988, para criar uma cooperativa era preciso autorização de funcionamento dada pelo Governo Federal. Portanto, era uma instituição totalmente dominada pelo governo; era obrigatório que as atas de assembleias gerais das cooperativas fossem enviadas para análise do Governo Federal, caso alguma coisa não fosse aprovada, a cooperativa era extinta ou havia intervenção”, conta.
A partir da CF/88, as cooperativas passaram a ter autonomia e o cooperativismo a ser de fato instrumento de desenvolvimento social. “A Constituição, no inciso XVIII, artigo 5º, diz que é vedado ao Estado interferir na criação e funcionamento das cooperativas. Isso foi uma libertação e, por outro lado, uma responsabilidade enorme. As cooperativas foram obrigadas a criar autogestão”.
Rodrigues destaca ainda do texto constitucional a previsão de destinação de recursos para capacitação e estímulo ao cooperativismo, e a abertura à atuação efetiva dos bancos cooperativos, “o que levou ao que é hoje um movimento espetacular do crédito cooperativo”, frisa. “Nessa época eu era presidente da OCB, trabalhei duramente para inserir na Constituição esses artigos e isso permitiu uma mudança extraordinária em toda a história do cooperativismo brasileiro. Eu diria que a coisa mais emocionante na minha vida”, declara.
Outro momento importante ao cooperativismo brasileiro foi sua internacionalização. Nos anos 90, Rodrigues atuou como presidente da OCB e da Aliança Cooperativa Internacional (ACI). Também foi vice-presidente da Organização das Cooperativas das Américas (OCA) e responsável pela internacionalização do cooperativismo brasileiro e filiação da OCB à ACI. “A internacionalização só evoluiu porque o Sescoop deu treinamento para as pessoas viajarem, conhecerem o mundo e serem conhecidas lá fora também”, ressalva.
PRÓXIMIDADE COM AS COOPERATIVAS
As unidades estaduais são fundamentais para o Sescoop atingir o propósito de promover o tripé de formação profissional de cooperados e empregados, apoio e acompanhamento do desenvolvimento organizacional das cooperativas e incentivo à promoção social. O modelo aproxima a instituição da realidade e necessidades específicas de cada região, a exemplo do Sescoop/SP, que desde 1999 atua no Estado, e integra a Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp), instituição cinquentenária.
Em evento de celebração aos 25 anos do Sescoop, Edivaldo Del Grande, presidente da Ocesp, declarou que a instituição é “uma das maiores conquistas da história do cooperativismo brasileiro”. Ele relembrou que a instituição nasceu durante a crise econômica dos anos 90, que afetou as cooperativas, e sua criação foi o instrumento para trazer melhorias ao setor.
“As ações e projetos do Sescoop revolucionaram o cooperativismo no Brasil. Primeiro, com formação profissional, para melhorar o desempenho das cooperativas, transformando os cooperados em gestores eficientes e eficazes. Também monitoramos a gestão com diagnósticos que identificam os pontos a serem melhorados. Depois, implementamos os programas de promoção social, praticando o sétimo princípio do cooperativismo: ‘preocupação com a comunidade’. Foi um salto de qualidade para as nossas cooperativas”, analisou.
Nestes 25 anos, mais de 3,7 milhões de pessoas foram beneficiadas no estado de São Paulo com os programas do Sescoop. “Colaboradores e associados de cooperativas de todos os segmentos passaram por nossos cursos e treinamentos, desde os mais simples, como curso de Excel básico, até MBAs. Em parceria com as cooperativas, nossos programas sociais levaram cultura, lazer, práticas esportivas e campanhas de saúde a milhões de pessoas em todo o Estado, aproximando as cooperativas de suas comunidades”, elencou Del Grande.
FOCO EM PROFISSIONALIZAÇÃO E DIFUSÃO DA CULTURA COOPERATIVISTA
“O mundo está muito dinâmico e a gente precisa estar cada vez mais preparado para atuar no mercado competitivo. Nosso foco é sempre a profissionalização dos trabalhos, dos processos e levar essa profissionalização para nossas cooperativas”, sublinha Karla Oliveira, gerente geral do Sescoop Nacional.
A gestora destaca que o modelo de atuação do Sescoop foca em diagnósticos. A partir de seus resultados, são desenvolvidos produtos e serviços a cooperativas de norte a sul do país. “Temos o diagnóstico de identidade, que visualiza a conformidade com leis que regem o cooperativismo; o de governança e gestão, um autodiagnóstico para que as cooperativas possam identificar pontos fortes e oportunidades de melhoria, especialmente voltadas à profissionalização; e o de desempenho, que olha aspectos econômicos e financeiros. Este ano, temos dois novos diagnósticos: o ESG e o de negócios”, explica a gestora.
O monitoramento promovido pelo Sescoop alimenta inclusive sua plataforma de educação a distância. São mais de 160 cursos à disposição de gestores, cooperados, trabalhadores de cooperativas e até de interesse geral para a sociedade. Seja pelo Capacitacoop, Inovacoop ou Negócios Coop (os dois últimos voltados exclusivamente para cooperativas, com conteúdos mais específicos).
E os melhores métodos e técnicas aplicados ao cooperativismo merecem ser replicados. Além do mapeamento das práticas desenvolvidas pelas cooperativas, o Programa de Desenvolvimento da Gestão das Cooperativas (PDGC) a cada dois anos, reconhece as melhores. “Este ano nós temos novamente o Prêmio SomosCoop Excelência em Gestão. Até o momento, nós já reconhecemos 143 cooperativas e suas práticas, que são estruturadas em um compêndio para que todas as cooperativas possam ter acesso e utilizar esses referenciais”.
Além das contribuições das ferramentas de diagnósticos, o relacionamento exercido pelas organizações estaduais permite identificar demandas específicas ou iniciativas regionais que podem também ganhar dimensão nacional. Um exemplo é o Dia C, ou Dia de Cooperar.
Seguindo o braço social do Sescoop, o Dia C nasceu em Minas Gerais, em 2009, e hoje acontece em todos os estados. A comemoração é no Dia Internacional do Cooperativismo, mas as ações sociais acontecem ao longo de todo o ano. “Esse olhar da cooperativa para a comunidade tem gerado projetos que, só neste ano, beneficiou mais de dois milhões de pessoas”, celebra a gestora. “Nosso modelo é muito participativo. É desafiador quando falamos de 27 realidades, mas o fio condutor que une a todos nós é nosso propósito”, revela Karla.
Apoio à promoção da imagem e cultura cooperativista
A construção de uma imagem positiva do cooperativismo também é assunto do Sescoop, devido ao envolvimento com o movimento SomosCoop, por meio do Sistema OCB. “É nosso propósito, trabalhando de forma conjunta com nossas organizações estaduais, ampliar o número de cooperativas que utilizam com muito orgulho os carimbos SomosCoop e mostram a sua força”, conta Karla Oliveira.
Novos desafios podem despontar ao Sescoop. No ano que vem, acontece o 15º Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC), que vai analisar e atualizar as diretrizes que dão norte às ações de todo o Sistema OCB.
Atentos às pautas mundiais, a abertura à participação de mais mulheres e jovens tem sido frentes importantes trabalhadas pelo Sescoop e por todo o Sistema OCB. O Anuário do Cooperativismo 2022 revela que é preciso avançar. Há 20,5 milhões de cooperados, 41% são mulheres. Elas são dirigentes em apenas 22% dos cargos. “Eu destacaria essas duas frentes como importantes, e o Sescoop, junto com OCB e CNCoop, vem trabalhando na diversidade, buscando promover cada vez mais a participação das mulheres e dos jovens no cooperativismo”.
“Nesses 25 anos do Sescoop, tenho a alegria de estar há 15 no Nacional, e vi muita evolução acontecer. Isso não só nos enche de orgulho, mas também de responsabilidade pelo que vem pela frente e pelo nosso compromisso de trabalhar lado a lado com as cooperativas, ajudando-as nos seus desafios e desenvolvimentos”, Karla Oliveira, gerente-geral Sescoop Nacional
Por Nara Chiquetti – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop, edição 114