Já imaginou que há pessoas que nunca ouviram falar sobre o cooperativismo? É difícil pensar nesse fato, mas a desinformação ainda é um dos grandes desafios do setor. Contudo, nos últimos anos as cooperativas ganharam um aliado improvável contra tal obstáculo: a TV e o cinema.
Em um exemplo recente, Walcyr Carrasco, autor da novela “Terra & Paixão”, levou sua protagonista para dentro do mundo cooperativista, entrelaçando a história da personagem com a do movimento. Com cenas gravadas na Coamo, localizada no Paraná, o folhetim das nove tem sido um importante instrumento para popularizar as cooperativas, desempenhando um papel comum à ficção: o de jogar luz sobre as múltiplas realidades que fazem parte do nosso dia a dia. Rapidamente, pesquisas sobre o setor cresceram e romperam a bolha, chegando a mais pessoas.
Esse apoio das obras de ficção ao cooperativismo não é um caso isolado ao Brasil. Em 2022 o filme ‘CODA – No Ritmo do Coração’ levou pra casa o Oscar de Melhor Filme, tornando-se a primeira obra de um streaming a ganhar o mais importante prêmio da Sétima Arte. Adaptado do filme “La Famille Bélier”, produção francesa de 2014, o longa nos conta a história de Ruby, uma garota que sonha em trabalhar com música. Contudo, ela desempenha um papel essencial na vida da família, inteiramente composta por deficientes auditivos. E em meio a esse conflito familiar, o cooperativismo se faz presente. A família, que trabalha com pescaria, está à mercê das grandes taxas cobradas por seus compradores. E ao longo do filme, eles e outros trabalhadores da região, encontram na constituição de uma cooperativa a resposta para ganharem mais poder de barganha e assim, continuarem na sua atividade, com uma remuneração justa.
Mais recentemente, enquanto navegava no catálogo da MUBI, me deparei com o filme espanhol “Alcarràs”. Em meio à trama sobre uma família de produtores de pêssego, prestes a perder a terra para o novo dono que quer construir um parque de energia solar, o cooperativismo mais uma vez mostrou a que veio, com a família buscando os insumos necessários para a produção, em uma cooperativa da região.
Quando falamos em ficção, é comum os autores das obras tomarem liberdades criativas que eventualmente possam resultar em erros (a protagonista da novela das 9 recebe um “não” quando tenta se associar a uma cooperativa de crédito, situação que vai contra o princípio da adesão livre e voluntária). Por isso, um olhar vigilante, assim como em obras de qualquer outra temática, deve sempre estar presente. Mas aqui, venho para fazer uma celebração. Afinal, obras de entretenimento transcendem barreiras culturais, e acendem conversas sobre os mais variados temas. Por que não, usar esse recurso para popularizar o cooperativismo e seu poder de transformar vidas?
Graças as obras que citei, de uma hora para outra, o cooperativismo passou a ser citado também em veículos de fora do setor, sendo amplamente divulgado através de tais obras. Ao longo dos últimos meses, mais pessoas quiseram conhecer o que é esse modelo de negócio onde todos tem poder de voto e melhores condições para construir uma vida digna.
Tais produtos midiáticos, trazem oportunidades para que o cooperativismo entre na casa do brasileiro, sobretudo através de um produto popular e enraizado na cultura nacional, como a novela. É preciso deixar de lado velhos pré-conceitos contra tal formato, e entender como ele pode ser usado em benefício do próprio movimento.
Concluo minha rápida explanação torcendo para que “Terra & Paixão”, “CODA” e “Alcarràs” não sejam a exceção à regra. Que a arte de contar histórias na TV e no cinema possa ajudar a levar luz para o que as cooperativas fazem diariamente, há décadas e mais décadas. Cada cooperado é protagonista de sua história. E neste caso, fazer a arte imitar a vida mais uma vez, pode ser o caminho para que mais pessoas sejam transformadas e impactadas positivamente.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop
Artigo exclusivo publicado na Revista MundoCoop, edição 113