As mudanças climáticas têm sido sentidas com maior intensidade no campo. Nesta safra, eventos impactaram lavouras em diversas regiões do Brasil. “As perdas da safra 2021/2022 e os R$ 5,4 bilhões pagos em indenizações pelas seguradoras aos agricultores em 2021 são a prova da importância da adoção de instrumentos mitigadores de riscos para amenizar a situação dos produtores.
Se não houvesse a priorização da política de seguros rurais nos últimos anos, as perdas de produção e de receita na magnitude que ocorreram na safra 2021/2022 gerariam uma pressão imensa por renegociações de dívidas, especialmente em um ano em que os insumos para a produção agropecuária estão muito mais caros e há falta de alguns no mercado interno”, comenta assessora técnica de Política Agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Fernanda Schwantes.
A área coberta ainda pode ser ampliada. “A CNA tem desenvolvido capacitações em seguros rurais para produtores, corretores, técnicos de instituições financeiras, assistentes técnicos e peritos, para que a cadeia de seguros possa se desenvolver. Para fortalecer a cultura do seguro rural entre os produtores, é preciso que o produtor entenda perfeitamente o custo-benefício de contratar uma apólice de seguro, quais são os riscos cobertos e como é calculada a indenização em caso de perdas, entre outros aspectos”, acrescenta.
A soja, que já tem produtos de seguro consolidados, teve redução na subvenção pelo Comitê Gestor do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), para estimular as seguradoras a desenvolver produtos e melhorar os serviços prestados também para outras atividades agropecuárias. “Há uma preocupação da CNA em garantir a ampliação do orçamento para a subvenção ao prêmio do seguro rural ainda em 2022, viabilizando que o programa não retroceda em relação a 2021, e também com o atendimento de peritos tempestivamente.
Continuamos mobilizando os parlamentares imbuídos nessa causa para garantir a suplementação orçamentária, para tornar esse gasto obrigatório, e também estamos desenvolvendo diversas ações para ampliar o alcance do seguro em regiões e atividades que ainda não contam com produtos de seguro aderentes à situação do produtor”.
TECNOLOGIA E BOAS PRÁTICAS AUXILIAM NA MITIGAÇÃO DOS RISCOS CLIMÁTICOS
Para driblar os riscos provocados pelas variações climáticas no campo, a tecnologia tem sido uma aliada, presente desde variedades mais resistentes a estresse hídrico em regiões suscetíveis a seca, juntamente com práticas de manejo sustentável, que permitem melhor uso dos recursos naturais (como plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta entre outros), até dados e equipamentos tecnológicos que dão relevante subsidio às decisões diárias dos produtores. A tecnologia permite, por exemplo, uma analise das necessidades hídricas da planta e da disponibilidade de água no solo para que a irrigação seja feita na medida do que a planta precisa, evitando desperdícios em um cenário de escassez de chuvas.
“A gente vem transformando a agricultura para um novo patamar em que a digitalização permite a escalabilidade de mais práticas sustentáveis”, diz Mariana Vasconcelos, co-fundadora e CEO da Agrosmart e especialista em agricultura digital. “Quando há informações sobre o clima, o produtor consegue se antecipar e planejar melhor a sua operação, criando mais adaptação e resiliência e lidando melhor com as consequências”, completa.
Mas, para que mais produtores possam ser beneficiados pelos avanços tecnológicos, é preciso que esteja ao alcance desses profissionais não só o conhecimento sobre as opções tecnológicas disponíveis, mas que estas lhes sejam acessíveis financeiramente. Mariana comenta que as cooperativas, e outros tipos de associações, auxiliam sobremaneira a esse acesso ao conhecimento e às próprias tecnologias. “Às vezes, individualmente não se consegue ter acesso a uma ou outra tecnologia, mas quase sempre como grupo sim”, frisa a executiva.
Seguradora é ferramenta de suporte ao produtor rural
O seguro rural tem expandido a cada ano-safra, mas ainda distante de consolidar uma cultura de seguro rural, na avaliação de Joaquim Neto, superintendente de Produtos Agro da Tokio Marine. Ele explica que isso só deve acontecer quando cerca de 50% dos agricultores estiverem garantidos pelo seguro. “As contratações de seguro agrícola ainda são mais demandadas nas regiões de maior incidência dos eventos climáticos. Em 2021, tivemos diversos eventos climáticos que impactaram a produção agrícola, como seca e geada na safra de grãos de inverno, geada e granizo no café e hortaliças, e granizo e seca na safra de grãos de verão, principalmente por conta das mudanças climáticas. Regiões onde não tínhamos perdas relevantes nos últimos dez anos tiveram impactos bem significativos. Dessa forma, acreditamos que o número de produtores agrícolas que contratam seguro continuará aumentando”.
Em caso de perda relevante causada por eventos climáticos, o seguro evita o forte impacto econômico que uma safra frustrada pode causar na vida do agricultor. Para fomentar a cultura do seguro rural, o seguro Agro Safras da Tokio Marine considera o perfil tecnológico do produtor, como o tipo de solo, de insumos, emprego de irrigação ou máquinas de alta precisão. “Com o Agro Safras, o agricultor consegue sempre olhar para frente, buscando aumentar a sua produtividade e se mantendo na atividade”, diz. Além disso, a seguradora apoia programas governamentais de subvenção ao prêmio de Seguro Rural, tanto do Ministério da Agricultura como os estaduais, do Paraná e de São Paulo.
Conteúdo exclusivo publicado na Revista MundoCoop – Edição 104