PALAVRA DO TEJON
Este modelo econômico, social, legal e inscrito na constituição brasileira chamado cooperativismo apresenta as seguintes dimensões mundiais e nacionais:
3 milhões de cooperativas no mundo, mais de 1 bilhão de cooperados, 280 milhões de empregos gerados. No Brasil, são 4,8 mil cooperativas realizando mais de R$ 650 bilhões de ativos totais, envolvendo 17,1 milhões de cooperados no país com 455 mil empregos, obtendo R$ 415 bilhões de ingressos com uma meta de atingir R$ 1 trilhão de movimento econômico e 30 milhões de cooperados ate o final desta década.
E, ainda, constatando que onde existem cooperativas corretamente lideradas o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é superior e a distribuição da renda maior e melhor. Na soma das 300 maiores cooperativas do mundo, elas alcançam um faturamento combinado de US$ 2 trilhões, maior do que o PIB brasileiro. No Brasil, as cooperativas reunidas formam a maior empresa nacional acima das outras três, Petrobras, JBS e Vale.
Portanto o que o maior modelo de negócios do planeta e do Brasil pode dizer para a sociedade brasileira e o novo governo de 2023 a 2026, seja ele quem e qual for?
A Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) fez um documento chamado “Propostas para um Brasil Mais Cooperativo – Contribuições do Cooperativismo para o Próximo Governo“. Nele, seu presidente Marcio Lopes diz: “a hora e a vez do cooperativismo, há uma mudança no pensamento das pessoas. A busca por uma economia compartilhada, de negócios que prezam por sustentabilidade, transparência, inovação e integridade, e o cooperativismo faz parte deste processo“.
O cooperativismo inclui as pessoas no centro da tomada de decisões e significa uma competência de liderança para que a imensa maioria prospere, não apenas 11% ou 20% como nas clássicas constatações de Goleman e Pareto. Cooperativismo significa uma casa educadora com a missão de não deixar gente para trás.
O documento da OCB apresenta as cooperativas como protagonistas de uma nova economia. Traz propostas para cidades e comunidades prosperarem e aponta para bases estruturantes de impulsionamento do país, incluindo: previsibilidade e estabilidade econômica; contas públicas e responsabilidade fiscal; melhora do ambiente de negócios e aumento da competitividade; educação e formação profissional; e estímulo a instituições eficazes, responsáveis e transparentes.
Mas existe um item sagrado neste documento da OCB com o título: “espaços de representatividade e de participação“. Ali o cooperativismo precisa atuar ampliando canais de comunicação com o poder público em todos os fóruns, perseguindo políticas públicas que reflitam anseios e a realidade do movimento cooperativista. Porém, eu acrescentaria como condição “sine qua non “ aumentar consideravelmente a comunicação com toda sociedade brasileira em todos os níveis, classes e comunidades do país.
Nos espaços de representatividade o documento acrescenta: “representação sindical com a participação da CNCoop em temas trabalhistas e sindicais; criar equipes de governo especializadas em cooperativismo e a representação do cooperativismo em juntas comerciais”.
Mais fundamentalmente, que as representações cooperativistas formem ao lado das demais confederações, federações e associações locais empresariais do país, núcleos de programas onde a sociedade civil organizada seja legítima protagonista do planejamento estratégico de cada região, estado e da federação. Afinal, na minha opinião, governos para terem êxito precisam das cooperativas muito mais do que estas dos governos.
Uma boa reunião entre ambos será o ideal para a prosperidade nacional e a supremacia do estado.
As cooperativas no setor agropecuário somam 1.173 com mais de 1 milhão de cooperados e 223 477 empregados. Representam 53% da produção de grãos do Brasil e 71,2% são produtores da agricultura familiar. Os outros segmentos cooperativistas são consumo, crédito, infraestrutura, saúde, trabalho e produção de bens e serviços, e transporte.
As cooperativas de crédito têm a maior rede de atendimento no país com 7,6 mil pontos. Crescem na oferta de crédito para pequenos negócios, 19% dos contratos, 18,7% do volume de financiamento do crédito rural, contam com quase 12 milhões de cooperados e mais de 79 mil empregos.
O cooperativismo está escrito na constituição brasileira no parágrafo 2 do artigo 174, destacando o apoio e estímulo ao cooperativismo pelo poder público.
As demandas essenciais do cooperativismo para o novo governo envolvem: justiça social e justo tratamento tributário no ato cooperativo; legislações e políticas públicas de apoio e estímulo.
Levar o cooperativismo para as escolas é outro fator essencial na educação da sociedade brasileira para esta consciência do poder da cooperação e da democracia, onde cada membro cooperado é um voto e responsável pela governança da empresa cooperativista. Não há aula mais preciosa de democracia do que uma assembleia cooperativista bem liderada com governança.
A intercooperação nacional e internacional com acesso a mercados e para o desenvolvimento do norte e nordeste brasileiro representaria o melhor sistema e modelo, permitindo a dignidade de vida para muitos, bem como vínculos com regiões carentes de prosperidade no mundo, além de acesso a mercados desenvolvidos para produtos brasileiros de valor agregado com marcas e marketing competitivos.
Novos mercados e negócios podem ser alvo do sistema cooperativista como seguros, conectividade, telecomunicações, saneamento e, sem dúvida, toda uma riqueza de biogás natural e renovável, onde ESG passa a ser condição fundamental de qualquer iniciativa e cooperativas já assim nascem.
A crise com Covid e guerra na Europa apontam para o drama da insegurança alimentar, fome e necessidade de agregação de valor a produção agropecuária. Temos no país, ainda, cerca de 4 milhões de pequenos produtores rurais desassistidos e fora dos mercados. Somente via cooperativas iremos integra-los na ciência, no mercado, na agregação de valor agroindustrial e na riqueza de seus “ terroir “.
O documento da OCB posiciona as cooperativas com seu papel de inclusão social, econômico e cultural. O “modelo de negócio mais viável para o desenvolvimento sustentável. Baseado na união de pessoas com participação democrática, independência e autonomia“.
E sem duvida na pergunta “por que cooperativa?”, as respostas são:
. Voz ativa e vínculo de confiança;
. Valor compartilhado e distribuição de resultados;
. Empreendedorismo coletivo e economia colaborativa;
. Economia de propósito e atuação pela comunidade;
. Economia de escala e inclusão produtiva e financeira;
. Controle de preços e diminuição de distorções de mercado;
. Desenvolvimento local e redução das desigualdades;
. Ações voluntárias durante a pandemia.
E, logicamente, para tudo isto dar certo as lideranças e a governança de uma organização cooperativista precisam seguir de forma obsessiva os princípios cooperativistas estabelecidos nas suas regras, leis e filosofia. São 7: adesão voluntária e livre; gestão democrática; participação econômica dos membros; autonomia e independência; educação, formação e informação; intercooperacao; e interesse pela comunidade.
O documento OCB está disponível em somoscooperativismo.coop.br
Roberto Rodrigues, líder cooperativista, diz: “onde existe cooperativa não tem pobreza, onde tem pobreza não existe cooperativa, no mundo“. E Marcio Lopes, presidente da OCB e agora no conselho da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) afirma: “prosperidade, este é o sentido cooperativista com pessoas e confiança“. Então, o que a prosperidade nos exige? A governança da esperança.
Está na hora dos três poderes, com planejamento do executivo, incluir definitivamente o modelo cooperativista como função vital para o crescimento do PIB do país e combate à desigualdade. Porém, preservando sua liberdade sob suas já claras regras e auto-regulamentações de responsabilidade que o tempo se incumbiu de aperfeiçoar e corrigir.
O cooperativismo será do tamanho do Brasil e o Brasil será do tamanho econômico e social do seu cooperativismo. Para todos. Não para poucos.
*Por José Luiz Tejon, palestrante especialista em agronegócio e membro editorial da Revista MundoCoop
Coluna publicada originalmente na edição 108 da Revista MundoCoop