Entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro de 2021, mais de 190 líderes mundiais e milhares de governantes, empresas e cidadãos se reuniram na 26º Conferências das Partes (COP26), a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que aconteceu em Gasglow, na Escócia.
Sob o lema “Unindo o mundo para enfrentar as mudanças climáticas”, a Conferência aconteceu para discutir maneiras de frear os problemas relacionados às mudanças climáticas e, este ano, apresentou 4 objetivos principais. São eles, neutralizar a emissão de gases e manter a temperatura média global em 1,5ºC até 2050; proteger comunidades e habitats naturais; mobilizar finanças para cumprir as duas primeiras metas; e trabalhar juntos para entregar os objetivos. Ainda, após as duas semanas, um novo acordo climático foi aprovado, chamado de Pacto Climático para Glasgow.
A COP26 é um evento que busca debater amplamente, e coletivamente, o futuro e os desafios globais. Nele, os países se fazem presentes através de seus representantes. E com o Brasil não foi diferente. Na ocasião, a participação brasileira ganhou destaque e impulsionou dois de seus importantes pilares para os holofotes do mundo. A agricultura e o cooperativismo.
Cooperação que move
Durante o painel sobre Negócios Sustentáveis na Amazônia, realizado no pavilhão brasileiro da Conferência, o movimento cooperativista mostrou sua força e capacidade de inovar, assim como a agricultura nacional se mostrou sustentável e tecnológica.
Para isso, o painel contou com a participação da gerente-geral da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Fabíola Nader Motta, que apresentou ao mundo um pouco do que as cooperativas têm feito para aliar produtividade com preservação ambiental. Além disso, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, marcou presença para compor a exibição. “Nosso país é uma potência capaz de transmitir tecnologias importantes e o cooperativismo é um deles. Levar esse conceito e exemplos do que o cooperativismo vem desenvolvendo para outros países, com certeza, tornará o mundo mais forte e unido”, disse Leite.
Fabíola lembrou que os olhos do mundo estão voltados para o Brasil e ressaltou o papel protagonista que o cooperativismo pode ter para ajudar o país a cumprir as metas de diminuição do desmatamento ilegal e da emissão de gases do efeito estufa. Como exemplo disso, citou o trabalho desenvolvido por cooperativas como a Camta — Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu —, localizada no Pará, que conquistou importante evidência no encontro.
O trabalho do cooperativismo brasileiro na produção de energia renovável também foi pautado. Hoje, já são mais de 540 empreendimentos cooperativos com esse foco e o fomento ao setor ainda conta com a intercooperação com o cooperativismo alemão. Dentre os cases apresentados estava a geração de energia limpa por biomassa de cinco cooperativas brasileiras (Vale, Castrolanda, Lar, Copacol e Frisia) que evitam a emissão de 40 milhões de metros cúbicos de gás metano por ano.
Manifesto lançado
Além da importante participação na COP26, a OCB lançou o Manifesto de Cooperação Ambiental. A iniciativa traz em seu conteúdo o posicionamento das cooperativas diante da agenda sustentável, e ainda lista os cinco princípios que o setor deve seguir para contribuir e desempenhar um papel fundamental na missão de minimizar os impactos do aquecimento ambiental.
O manifesto destaca a importância da criação de políticas públicas que fomentem a produção sustentável, sobretudo aquelas que contribuem para que o país se torne uma referência de economia verde, e pede a regulamentação de leis que buscam trazer a implementação de medidas de preservação ambiental, como o pagamento por serviços ambientais e a cobrança de incentivos à produção renovável pelo ramo agropecuário. Dentre as informações trazidas também está a demanda das cooperativas pela regulamentação do mercado de carbono mundial.
Outro lançamento realizado pela Organização foi o site Cooperação Ambiental, que reunirá cases e iniciativas de cooperativas que já estão se mobilizando para diminuir os impactos ambientais de suas atividades.
Potencial brasileiro
Diante desse marcante cenário de discussões globais, muitas questões são responsáveis por guiar os próximos anos e as próximas decisões das nações. E quando o assunto é o Brasil, não restam mais dúvidas de que o cooperativismo é um poderoso aliado e um caminho para o êxito.
Para conhecer a visão de quem teve o importante papel de representar o movimento na COP26 a respeito desse tema, leia agora a conversa exclusiva com a gerente-geral da OCB, Fabíola Nader Motta.
As cooperativas representaram um importante segmento durante a COP26. Atualmente, como é o cenário ambiental e sustentável do setor? Quais ações já são desenvolvidas a partir desse tema?
Sim, na verdade, representamos todo nosso movimento na COP26. O cooperativismo atua em praticamente todos os setores da economia, somos o diferencial e protagonistas, por exemplo, nas cadeias de produção de alimentos, serviços de saúde, acesso a crédito e infraestrutura. No atual cenário, nossas cooperativas vão além de cumprir a legislação ambiental brasileira, uma das mais rígidas e protetivas do mundo. Investimos continuamente em soluções que conciliem a eficiência produtiva e a preservação e recuperação dos nossos ativos ambientais (matas nativas, nascentes), e ainda, utilizamos de maneira eficiente os recursos naturais e promovemos a produção de energias renováveis.
De que forma a preocupação ambiental se conecta com a filosofia cooperativista? Por que a correlação entre esses dois temas – ambientalismo e cooperativismo – é tão importante para a sociedade?
O grande diferencial do cooperativismo desde a sua origem foi a capacidade de entender o contexto ao seu tempo, e promover soluções para superar os desafios através da cooperação e do protagonismo das pessoas. Atualmente, nossas atenções estão voltadas à busca de modelos sustentáveis, à preservação e recuperação do meio ambiente. Esta é a maior conexão, somos cooperativistas, somos pessoas e estamos preocupados com o meio ambiente.
Deste modo, para construirmos soluções eficientes na questão ambiental necessitamos da mesma habilidade do cooperativismo em entender e cooperar. Só assim, vamos superar os desafios ambientais, com o protagonismo das pessoas e com a cooperação entre elas e entre as Nações. As pessoas e suas comunidades são a correlação entre ambientalismo e cooperativismo.
A OCB marcou uma grande presença durante a COP26, em Glasgow. O que essa participação representa para o cooperativismo nacional?
Representa reconhecimento da sustentabilidade do modelo cooperativista, que em seu DNA, em sua origem, promove o protagonismo das pessoas. É o reconhecimento do trabalho desenvolvido por mais de 17 milhões de brasileiros que são associados a cooperativas.
Na COP 26 pudemos mostrar ao mundo que somos uma ferramenta viável para o alcance da neutralidade de carbono. Nossas cooperativas estão um passo à frente em ações e soluções.
Como o cooperativismo pode ajudar o Brasil a se tornar um protagonista mundial do agronegócio sustentável? De que forma as cooperativas regionais podem ajudar nesta missão?
Podemos colaborar de várias formas, seja pela prática, incorporando e potencializando soluções sustentáveis ou pela atuação na construção de políticas públicas. O caminho da nossa colaboração passa pelo compartilhamento de informações, construção do conhecimento e divulgação de boas práticas para o Brasil continuar a ser protagonista no agronegócio sustentável. Nossas cooperativas regionais podem realizar ações no intuito de ampliar o acesso a soluções sustentáveis, conferir a chamada economia de escala na adesão a estas soluções.
Um dos tópicos em alta durante a COP26 foi a geração de energia limpa. Quais as perspectivas para esse tema dentro do cooperativismo? As cooperativas se tornarão um exemplo de energia limpa, na próxima década?
Sim, a busca por uma matriz energética limpa foi a tônica da COP26, pois o desafio mundial em termos climáticos está na substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis. Muito embora o Brasil possua uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, nossas cooperativas entendem que é necessário investir na produção de energia limpa, uma vez que representamos 8% do consumo de energia elétrica no Brasil e temos somente 0,2% da capacidade instalada em geração de energia elétrica em nossas cooperativas. Por isso, fomentamos a autogestão do insumo energia no cooperativismo e nossa expectativa é que a geração de energia limpa cresça a uma taxa de 7% ao ano na próxima década. Porém a estimativa pode sofrer alterações em função da “potencial” abertura do mercado livre de energia ao consumidor residencial nos próximos anos.
Após a COP26, que ações o cooperativismo brasileiro irá colocar em prática para contribuir com a agenda sustentável mundial? Quais os próximos passos?
Continuaremos nosso trabalho de estímulo, compartilhando informações e boas práticas para, assim, colaborar na construção do conhecimento e adoção de práticas sustentáveis, com vistas ao alcance de benefícios diretos e indiretos destas iniciativas, como a neutralidade de carbono. O cooperativismo é naturalmente um modelo agregador, baseado em princípios democráticos e na justa repartição de benefícios e de responsabilidades. Deste modo, trabalharemos em cooperação com entidades públicas e privadas na busca de soluções sustentáveis, inclusive na modernização da legislação ambiental brasileira para que esta seja eficiente e em sintonia com a agenda sustentável mundial.