COLUNA ECONOMIA & COOPERATIVISMO
Apesar da equivocada pressão política sobre o Banco Central (comentei o assunto na última edição), está sendo asfaltado o cenário para um novo ciclo de queda de juros no Brasil. O combate à inflação elevada no pós-pandemia e na guerra da Rússia na Ucrânia começa a apresentar resultados concretos, o que vai possibilitar cortes nas taxas ainda esse ano.
O IPCA, índice oficial de inflação, veio recentemente abaixo das expectativas. O setor de serviços, responsável por 70% da economia, finalmente registrou desaceleração nos preços. No acumulado em 12 meses, o IPCA registra alta de 4,65% – o menor patamar desde janeiro de 2021.
A desaceleração econômica, por si só, já tende a reduzir o ímpeto inflacionário. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vai crescer neste o ano em torno de 1%, o que representa apenas um terço dos 2,9% de expansão registrados em 2022. A queda do dólar nas últimas semanas também contribui com o alívio nos preços de insumos, peças e produtos importados.
Aliás, a economia americana pode ajudar a brasileira nesse processo de queda de juros. A inflação por lá também está desacelerando, o que abre a possiblidade de o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) parar de subir juros e até reduzi-los no segundo semestre. Ótimo estímulo para o nosso Banco Central seguir o mesmo caminho.
Aqui, no Brasil, a aprovação do novo arcabouço fiscal pode ajudar a melhorar as expectativas inflacionárias, o que será fundamental para que a autoridade monetária aperte o gatilho da queda dos juros. Por enquanto, o mercado financeiro ainda projeta IPCA em 4,14% para 2024, bem acima do centro da meta de 3%. O Congresso Nacional tem a missão de aprimorar o arcabouço fiscal, que está muito focado em aumentar receitas sem a preocupação com o corte de gastos.
Se tudo transcorrer bem, portanto, o Banco Central poderá cortar juros a partir de junho ou, pelo menos, sinalizar essa trajetória para o segundo semestre. Claro que não será um afrouxamento monetário abrupto. A taxa básica (Selic), atualmente em 13,75% ao ano, deverá encerrar 2023 ainda na casa dos dois dígitos. Mas, nesse caso, o mais importante será a tendência que ficará para 2024, com expectativa de juros menores e PIB mais robusto.
Para o cooperativismo, assim como para a economia inteira, a mudança na rota dos juros representará um novo ciclo econômico. As cooperativas de crédito terão condições de oferecer empréstimos ainda mais atraentes para que os seus associados possam aumentar o consumo e investir nos seus negócios.
Obviamente, as cooperativas ligadas ao agronegócio, ao consumo, à infraestrutura, à saúde, ao trabalho e à produção de bens e serviços também serão beneficiadas com acesso a financiamentos mais baratos, menor pressão de custos operacionais e financeiros, e aumento da demanda por seus produtos e serviços.
É importante, no entanto, deixar claro que essa travessia para um novo ciclo econômico com juros baixos será longa e recheada de desafios. O governo Lula precisa acabar com a pressão política sobre o Banco Central e focar nos temas que podem ajudar o Brasil a controlar a inflação e ter um crescimento maior. Além do novo arcabouço fiscal, temos a oportunidade de, finalmente, aprovar uma Reforma Tributária que simplifique no nosso caótico sistema de impostos. A conferir.
Por Luís Artur Nogueira, economista, jornalista e palestrante. Atualmente, é comentarista econômico e apresentador da Jovem Pan News e colunista da ISTOÉ Dinheiro
Coluna exclusiva publicada na Revista MundoCoop edição 111