As cooperativas de crédito se destacaram por mais um ano e cresceram mais do que o restante do Sistema Financeiro Nacional (SFN) em 2022. É o que mostra o Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC). Publicado anualmente, o Panorama traz uma análise da evolução do segmento nos últimos anos, com ênfase em 2022.
O SNCC continua ampliando sua presença no país e, no final de 2022, 55,3% dos municípios brasileiros contavam com pelo menos uma unidade de atendimento de cooperativas de crédito (semelhante às agências bancárias). O número de cooperados (ao mesmo tempo donos e clientes das cooperativas de crédito) chegou a 15,6 milhões entre pessoas físicas e jurídicas.
O total de ativos do SNCC alcançou R$ 590 bilhões em dezembro de 2022, após crescimento de 28,6% no ano, e é constituído principalmente por operações de crédito (R$ 383 bilhões), com destaque para operações com micro e pequenas empresas e para os produtores rurais. Isso demonstra a importância do segmento para o desenvolvimento da atividade econômica, principalmente no interior do país, onde o setor possui atuação marcante. As captações, fundamentais como funding para suportar o aumento do crédito, também cresceram em ritmo superior ao do restante do SFN, alcançando R$ 466 bilhões.
Democratização do crédito
Há pouco, o Banco Central (BC) divulgou a edição mais recente do seu tradicional Relatório de Economia Bancária (REB), em que destaca a redução da concentração do mercado de crédito nos bancos brasileiros desde 2016. Um dos principais fatores desse movimento é o avanço do cooperativismo financeiro. O Sicoob, por exemplo, expandiu a carteira de crédito em 170% nos últimos cinco anos. O volume de empréstimos da instituição vem crescendo exponencialmente. Em 2020, o Sicoob apresentava um saldo de R$ 84 bilhões em sua carteira de crédito, valor esse que saltou para R$ 140,1 bilhões ao final de 2022.
“Embora venha apresentando desempenho expressivo e consistente já há algum tempo, foi a partir da pandemia que o segmento assumiu uma posição de maior destaque na indústria financeira. Quando há alguma adversidade, as cooperativas costumam fazer-se mais presentes, ocupando espaços deixados por outros agentes, que se retraem diante das incertezas econômicas e riscos associados a esse cenário. A postura mais arrojada justifica-se pelo compromisso que essas entidades têm com o seu público, cujos indivíduos e empreendedores, como cooperados, são os donos do negócio cooperativo” destaca Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais do Sicoob.
Conforme o documento do BC, em 2017, mais de 78% do crédito brasileiro estava restrito a quatro bancos. Excluindo-se o crédito rural e imobiliário, que têm o amparo de uma parcela significativa de recursos direcionados, a concentração nesse grupo caiu para 50% atualmente.
De 2016 a 2021, segundo o REB, a soma dos benefícios econômicos gerados aos cooperados alcança R$131,2 bilhões. De acordo, ainda, com o BC, as cooperativas financeiras geram esses ganhos, pelo menos, de quatro maneiras diferentes: Pela cobrança de taxas menores do que a média do mercado nas operações de crédito; pela oferta de maiores taxas na captação de depósito a prazo; pelo pagamento de juros sobre capital próprio (remuneração das quotas-partes, que é o capital detido pelo associado na cooperativa) e pela distribuição de sobras (resultado líquido positivo apurado anualmente na operação das cooperativas). Somente no Sicoob, os cooperados tiveram um ganho superior à de R$ 60 bilhões no período ao elegerem a instituição para realizar os seus negócios financeiros.
“Esse montante, adicionalmente aos benefícios nominados pelo BC – decorrentes de taxas de juros, da remuneração dos investimentos e do capital mais as sobras –, contempla a economia com tarifas de conta corrente, cobrança e transferências diversas; taxas de administração de consórcios; aluguel de maquininhas de cartões; anuidade de cartões; prêmios de seguros e de outros serviços prestados pelas cooperativas. As cooperativas, enfim, ao oferecerem soluções com preços mais atrativos, de forma isonômica, para os seus cooperados, promovem justiça financeira e contribuem para um sistema financeiro mais eficiente e inclusivo”, declara Ênio Meinen.
Para essa democratização e pulverização do crédito, um movimento essencial foi a expansão da rede de atendimento físico, que vai na contramão do posicionamento dos grandes bancos. Com mais agências, um número maior de pessoas tem tido a oportunidade de remodelar sua vida financeira, principalmente em pequenas cidades. “Para além da repercussão econômica, o cooperativismo financeiro, como empreendedorismo de propósito e territorialmente engajado, gera expressivos benefícios sociais (BS) ao promover um conjunto de ações a bem da coletividade em geral. Daí a extensão de sua singularidade e a amplitude de sua relevância para os seus membros e respectivas comunidades”, finaliza o executivo.
Equilíbrio financeiro
Apesar do crescimento da inadimplência, da mesma forma do ocorrido no SFN como um todo, o nível de provisões para operações de crédito demonstra ser suficiente para suportar as perdas esperadas na carteira. Os resultados foram positivos, impulsionados pelo ganho de escala, sendo parte desses resultados destinada aos cooperados e uma parcela representativa destinada à formação de reservas, importante instrumento para a sua sustentabilidade econômico-financeira. Com isso, os índices de capital agregados das cooperativas de crédito continuaram confortáveis em relação aos limites regulamentares.
O novo marco legal do cooperativismo de crédito brasileiro, com o advento da Lei Complementar 196/2022, que atualizou a Lei Complementar 130/2009, trouxe aprimoramentos com grande potencial de alavancar ainda mais o segmento, com importantes adequações relacionadas ao fomento de atividades e negócios, à gestão e governança, bem como à organização sistêmica e eficiência do SNCC. Essa e outras mudanças normativas recentes relacionadas ao segmento são detalhadas em um dos quatro boxes que acompanham o Panorama.
O cooperativismo de crédito se encontra apto para ampliar sua participação no cenário do SFN, contribuindo cada vez mais para o aprimoramento da concorrência e eficiência. É também um elemento essencial na promoção da inclusão financeira de parcela significativa da população brasileira, notadamente nas áreas mais remotas, e para as empresas de menor porte, atendendo às necessidades creditícias dos seus cooperados pessoas físicas e jurídicas. A íntegra do estudo por ser lida aqui.
Fonte: Revista Cultivar/Imprensa Sicoob, com adaptação da MundoCoop