Dentre os principais meios que se modernizaram nos últimos anos, o sistema bancário é um dos que mais presenciou uma grande reformulação: antes dominado por grandes bancos com anos de tradição, hoje o consumidor tem à sua disposição diversas fintechs, bancos digitais e outros modelos que ajudaram a revolucionar a forma como nos relacionamentos com o nosso dinheiro.
Além destes, um outro elemento do sistema financeiro cresceu e vem ganhando destaque: atualmente, as cooperativas de crédito estão presentes em todo o Brasil, impactando a vida de mais de 13 milhões de cooperados. Assim como suas concorrentes, as instituições financeiras cooperativas atuam fortemente para ajudar no desenvolvimento contínuo do setor, que tem se apoiado na tecnologia para seguir adiante.
Esse cenário e suas variáveis são retratados na ‘Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2022’, realizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e pela Deloitte. Realizada ao longo de três décadas, o levantamento traz um panorama completo sobre o desenvolvimento do setor bancário, destacando temas como inteligência artificial, segurança cibernética e Open Finance.
Para Sergio Biagini, líder da indústria de serviços financeiros na Deloitte, o relatório é um importante instrumento que ajuda o mercado a entender os rumos do setor financeiro. Em sua edição mais recente, o estudo mostrou grandes mudanças de comportamento, algo que Biagini destaca como uma das grandes novidades vistas nos últimos anos. “Além de um aumento robusto nos investimentos em tecnologia e a exploração das novas tecnologias, a principal mudança observada foi no comportamento do cliente, em que passamos de uma indústria que buscava diferenciação em seus produtos e serviços para satisfazê-los e fidelizá-los, para um momento em que o cliente é o protagonista, que quer se identificar com os valores das empresas, fazendo parte da construção de suas necessidades”, explica.
Com o objetivo de se conectar com o cliente, os bancos têm investido cada vez mais em experiência. Para isso, investimentos em Inteligência Artificial têm sido uma das principais características do atual momento do setor, com 78% dos bancos atuando para que a IA faça parte de seu dia a dia. Contudo, os investimentos em tendências como essa não param por aqui, e vão muito além do que podemos imaginar. “Tecnologias voltadas para a segurança cibernética e privacidade de dados e a Inteligência Artificial (IA) estão no topo das prioridades em investimentos em tecnologia dos bancos, além de Big Data, Cloud Publica e 5G. No levantamento, identificamos que, para 78% dos bancos, a análise e a exploração dos dados obtidos via Open Finance e a transformação cultural das instituições financeiras são movimentos prioritários, marcando assim um novo momento da indústria e da relação do banco com o seu cliente”, aponta.
Olhando para além da tecnologia
Mesmo com a transformação digital sendo líder no foco dos investimentos do sistema bancário, olhar para fora tem sido um dos pontos vitais para o sucesso do futuro financeiro do ecossistema composto por bancos, fintechs e cooperativas. Fato esse apontado na pesquisa ao ressaltar que 78% do sistema bancário considera a transformação cultural uma prioridade em 2022. Tal número, mostra que as instituições estão de olho no comportamento do cliente. “Mudança cultural é imprescindível. Os bancos têm percebido que para transformação digital ocorrer de maneira efetiva são necessárias mudanças de dentro para fora, no que tange conhecimento, valores, cultura, modo de operar e servir. Para isso, é necessário um time com conhecimentos técnicos e de negócios, inserido em uma cultura focada na agilidade, centralidade do cliente e produtividade”, frisa Biagini.
Porém, o estudo da Febraban traz ainda um outro lado da moeda: segundo o levantamento, apenas 22% dos bancos destacam a construção de um elo de confiança entre o banco e o cliente como uma prioridade. E, neste contexto, as cooperativas tem uma grande oportunidade a ser explorada. “Esta informação representa um mar de oportunidades para as cooperativas porque é da essência do cooperativismo a relação de confiança, conhecer os cooperados e o senso de pertencimento a um coletivo com os mesmos ideais, por outro lado, ela traz um grande desafio que é o de praticar os princípios e valores da filosofia cooperativista. As pessoas desejam a tecnologia para simplificar suas vidas e ganhar tempo para atividades mais prazerosas, mas sem dispensar a relação de confiança e proximidade, ainda que ela aconteça pelos meios digitais”, destaca José Afonso, consultor em cooperativismo financeiro, gestão de negócios e finanças.
Reconhecidas por democratizar o acesso ao crédito e trabalhar para diminuir o alto número de “desbancarizados” no Brasil, as cooperativas de crédito igualmente atuam investindo nas tecnologias e processos aqui já mencionados. Entre elas, o olhar humanizado traz um elemento extra para o setor, algo que explica os motivos que levam mais e mais pessoas a buscarem uma cooperativa como sua principal instituição bancária. Contudo, Afonso destaca que o encarecimento dos recursos para o desenvolvimento de IA e outros processos, tem colocado uma barreira que diminui o ritmo do que as cooperativas podem realizar. “A tecnologia é cara. As cooperativas ainda têm muito a ser desenvolvido para que possam estar em igualdade com os grandes bancos e serem beneficiadas pelos ganhos de produtividade, redução de custos, racionalização de processos, uso da inteligência artificial para melhorar a experiência dos cooperados, acerto e rapidez nas respostas”, explica.
Sejam quais for os próximos passos do setor financeiro, é fato que a tecnologia está presente em todos os aspectos. Novidades como o Open Finance e o PIX, que já promoveram um intenso movimento de transformação no setor, são apenas a ponta do iceberg. Nos próximos anos, novas formas de integrar e utilizar dados serão desenvolvidas, possibilitando um trabalho mais assertivo por parte do setor financeiro.
Nesta corrida pela atenção do cliente, as cooperativas têm o seu propósito como maior trunfo, com a tecnologia sendo uma aliada indispensável na missão de manter o protagonismo que vem sendo construído. “Penso que cooperativas e cooperados podem ganhar muito com o uso intensivo da tecnologia, se ela for empregada na realização dos princípios do cooperativismo para grandes populações de cooperados. Vejo que o desafio do crescimento da participação de mercado das cooperativas não precisa vir acompanhado de menor proximidade e menos conhecimento dos cooperados, nem da perda dos valores cooperativistas, porque a tecnologia deve ser uma ferramenta, um meio e não um fim”, finaliza.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop