No cenário financeiro mundial, a crescente popularidade e adoção das criptomoedas têm sido temas recorrentes de discussão. Uma das iniciativas mais notáveis nesse campo foi a criação do Real Digital, uma versão digital da moeda nacional brasileira, o Real. Esta nova forma de dinheiro vem com inúmeras inovações, que prometem revolucionar a economia e a sociedade como um todo, impactando diretamente na maneira de viver das pessoas
A primeira e mais marcante inovação do Real Digital é sua descentralização. Ao contrário das moedas tradicionais emitidas por bancos centrais, o Real Digital é baseado em tecnologia blockchain, que funciona como um ledger público e imutável de todas as transações. Esse sistema descentralizado elimina a necessidade de intermediários financeiros, como bancos, para realizar transações, reduzindo custos e agilizando o processo de transferência de fundos.
A segurança proporcionada pelo blockchain é outra grande vantagem do Real Digital. As transações são criptografadas e registradas em diversos nós da rede, tornando quase impossível a adulteração ou falsificação de dados. Isso confere uma maior confiança ao sistema e reduz o risco de fraudes, o que pode atrair mais investidores e usuários para a moeda digital.
Outro aspecto importante é a acessibilidade. Com o Real Digital, pessoas desbancarizadas ou sem acesso a serviços financeiros tradicionais podem participar plenamente da economia digital. Tudo o que é necessário é um dispositivo com acesso à internet, como um smartphone, para realizar transações e armazenar seus ativos digitais. Essa inclusão financeira é um passo significativo para reduzir as desigualdades e promover a inclusão social.
A velocidade das transações é uma das inovações mais notáveis do Real Digital. Diferentemente de sistemas de pagamento internacionais tradicionais, que podem levar dias para processar transferências internacionais, por exemplo, o Real Digital permite que as transações sejam realizadas instantaneamente, assim como o Pix internamente, tornando os pagamentos mais ágeis e facilitando o comércio internacional.
Ademais, o Real Digital estimula a inovação tecnológica no setor financeiro. Com a possibilidade de criar contratos inteligentes – acordos autoexecutáveis escritos em código – novos modelos de negócios e aplicações são viabilizados. Isso abre espaço para serviços financeiros mais eficientes, transparentes e acessíveis, como empréstimos peer-to-peer, financiamento coletivo, seguros descentralizados e muito mais. Um uso de caso interessante por exemplo é o que chamo de money streaming, a capacidade de um contrato inteligente antecipar o salário pró-rata aos dias trabalhados. Por exemplo, se estamos no dia 6 do mês e assumindo um mês de 30 dias, qualquer pessoa conseguiria antecipar 6/30 = 20% do salário. Ao ter um contrato inteligente responsável por um serviço como esse, as taxas iriam diminuir ainda mais por conta da desintermediação.
Além disso, como muitos bancos mundiais estão criando suas próprias versões de Real Digital, muitos no blockchain da Ripple, é possível que tenhamos um sistema internacional de transferências instantâneas e com custos super baratos, inclusive, talvez grátis para os usuários, de fato criando uma rede ‘Pix’ global. Isso é possível graças à interoperabilidade de várias moedas digitais viverem no mesmo blockchain/ecossistema. Além disso, é possível que graças ao código open-source e transparência do blockchain, outros países desenvolvam sistemas parecidos com o real digital usando o código do Real Digital como referência, algo que é denominado composability ou capacidade de composição, que é conseguir aproveitar algo já criado em vez de reinventar a roda. Um exemplo disso é o SushiSwap, que usou o código da Uniswap para montar uma exchange descentralizada em poucos dias, sem infringir nenhuma propriedade intelectual dado que o código da UniSwap é open-source.
Contudo, é necessário considerar alguns desafios e pontos de atenção. A volatilidade das criptomoedas é um aspecto relevante, visto que o valor do Real Digital pode variar significativamente em curtos períodos de tempo. Isso pode impactar a confiança dos usuários e a sua utilização como reserva de valor. Por isso, é importante estabelecer mecanismos de controle e regulação adequados para garantir a estabilidade do Real Digital.
Em conclusão, o Real Digital representa uma transformação fundamental no cenário financeiro brasileiro e global. Suas principais inovações, como a descentralização, segurança, acessibilidade, velocidade e estímulo à inovação, têm o potencial de redefinir a maneira como as pessoas interagem com o dinheiro e os serviços financeiros. No entanto, é essencial abordar de forma cuidadosa os desafios associados a essa nova tecnologia, buscando sempre um equilíbrio entre a inovação e a estabilidade econômica. Se bem implementado, o Real Digital pode se tornar uma ferramenta poderosa para promover a inclusão financeira e o desenvolvimento econômico do Brasil e além de suas fronteiras.
*Ramon Silva é um empreendedor em série e especialista em tecnologia e startups que foi fundador e CEO da Avocado