A utilização de energias renováveis no mundo aumentou 50% em 2023, na comparação com 2022. O dado consta do relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), divulgado no início de janeiro. O Brasil teve destaque no documento pelo uso de biocombustíveis. Segundo o órgão, o país deverá ter uma expansão de 40% na produção até 2028.
Além do biocombustível, o Brasil está expandindo a utilização de outras formas de energias limpas, como a fotovoltaica (gerada pela luz do sol) e a eólica (produzida a partir do vento). As fontes renováveis (hidrelétrica, solar e eólica) já compreendem 83,79% de toda a matriz elétrica brasileira, segundo o Ministério de Minas e Energia. O País já se tornou uma referência internacional em energia limpa.
Em um cenário em que a sustentabilidade e a busca por fontes de energias renováveis se tornam prioridades, o Rio Grande do Sul se destaca por uma iniciativa que une valores cooperativistas e o potencial das energias limpas. O Sistema Ocergs tem desempenhado um papel fundamental no fomento e na coordenação das cooperativas de energias renováveis no estado, através da Federação das Cooperativas de Energia, Telefonia e Desenvolvimento Rural do RS (Fecoergs).
O Sistema Fecoergs é composto por 24 cooperativas de distribuição e geração de energia elétrica, atuando nas regiões de produção agropecuária do RS. São beneficiadas mais de 308 mil famílias, o que corresponde a 1,3 milhão de gaúchos em 72 sedes municipais e áreas rurais de 369 municípios. Desde 1941, essas cooperativas têm desempenhado um papel crucial na promoção do desenvolvimento local e na melhoria da qualidade de vida das comunidades.
As cooperativas possuem 37 usinas de geração de energia próprias e outras dez em parceria entre cooperativas ou empresas. A capacidade total de geração chega a 138 MW (megawatts).
Entre as 10 melhores do Brasil
O superintendente da Fecoergs, José Zordan, destaca o trabalho de excelência desenvolvido pelas cooperativas de energia do RS. Ele lembra que, em 2022, cooperativas gaúchas ficaram entre as dez melhores do Brasil, no ranking de satisfação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O Prêmio Aneel de Satisfação do Consumidor 2022 é elaborado pela agência reguladora a partir de pesquisas junto aos consumidores e divulgado sempre no ano seguinte ao levantamento. “Entre 105 empresas distribuidoras de energia no País, que são as grandes concessionárias e as cooperativas, as nossas cooperativas estão entre as dez melhores do Brasil”, ressalta.
Para o superintendente, esse reconhecimento é atribuído ao comprometimento dos associados com as cooperativas, evidenciando o que é conhecido como “pertencimento”. Na cooperativa, o associado participa ativamente do conselho de administração, do conselho fiscal e da nucleação de associados, contribuindo efetivamente para a operação de distribuição de energia.
Sustentabilidade é pilar fundamental
Além do destaque pela excelência, as cooperativas investem em educação e esclarecimento sobre a importância da sustentabilidade. Zordan destaca que, enquanto o termo ESG (Environmental, Social and Governance, na sigla em inglês) ganha cada vez mais relevância, o cooperativismo já nasceu alinhado a esses princípios.
“As nossas cooperativas possuem uma educação voltada para a sustentabilidade, que alcança as comunidades por meio da construção de usinas”, ressalta Zordan. Durante o processo de construção, as cooperativas dialogam com as comunidades, discutindo formas de colaboração para contribuir com a preservação do meio ambiente.
Essas iniciativas incluem práticas como reflorestamento, limpeza dos rios e conscientização sobre o descarte adequado de plástico e outras questões fundamentais para a preservação do meio ambiente. O comprometimento com a sustentabilidade demonstra que as cooperativas de energia gaúchas não apenas se destacam na eficiência operacional, mas também assumem um papel ativo na promoção de práticas ambientais responsáveis.
Balanço positivo em 2023
No ano de 2023, as cooperativas de energia celebram um crescimento médio de 5% na distribuição de energia, mesmo diante dos desafios impostos pela crise na agricultura, decorrente de questões climáticas. Zordan destaca que esse avanço foi impulsionado pela aquisição de novos equipamentos de refrigeração em propriedades, especialmente para garantir o conforto térmico doméstico.
As cooperativas investem anualmente R$ 500 milhões em seus projetos e, em 2023, não foi diferente. “É um investimento constante e permanente”, ressalta. Os recursos são investidos em manutenção de redes, operação e distribuição de energia. Tudo para manter a qualidade dos serviços. Além disso, projetos em andamento incluem a construção de novas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH).
Desafios e Expectativas para 2024
Para este ano, o grande desafio do meio rural chama-se energia em quantidade e com qualidade, aponta Zordan. O superintendente da Fecoergs destaca que 60% das redes de energia nesse ambiente são monofásicas, instaladas há duas ou três décadas, quando o consumo era muito diferente do atual. Investimentos consideráveis estão sendo feitos para transformar essas redes monofásicas em trifásicas, proporcionando aos produtores mais energia elétrica.
O superintendente revela que as cooperativas firmaram uma parceria com o governo do RS, na qual o Estado aporta 20% de qualquer projeto de reforma no meio rural. Recentemente, foram liberados R$ 48 milhões para nove cooperativas ampliarem suas redes de monofásicas para trifásicas, contribuindo para melhorar a disponibilidade de energia no campo.
Zordan enfatiza que, com a chegada de mais energia, os produtores terão condições de aumentar suas produções. Isso é evidente, por exemplo, na avicultura, onde a chegada de energia de melhor qualidade tem impulsionado a expansão de aviários. Produtores de leite também têm modernizado suas operações, passando de métodos manuais para sistemas totalmente automatizados.
Internet no campo: uma nova fronteira
Além do fornecimento de energia, as cooperativas têm se destacado na oferta de internet no campo. Pioneiras desde 1941, quando levaram energia elétrica ao interior do Rio Grande do Sul, agora, nos últimos sete anos, têm desbravado o universo digital ao proporcionar acesso à internet aos associados. Já são 70 mil ligações feitas pelas cooperativas, utilizando tecnologia de fibra óptica. Projetos em parceria com o Governo do Estado estão sendo gestados para ampliar ainda mais essa rede, consolidando as cooperativas como agentes fundamentais na modernização do meio rural.
O papel das cooperativas com energias limpas
A crescente importância das energias renováveis não pode ser subestimada no contexto da sustentabilidade ambiental. A busca por alternativas limpas não apenas reduz a dependência de combustíveis fósseis, mas também contribui para a mitigação das mudanças climáticas. O uso de fontes renováveis não emite gases de efeito estufa significativos, preservando assim o meio ambiente e as gerações futuras.
Além disso, a promoção de iniciativas de energias renováveis beneficia diretamente as comunidades locais, criando empregos, fomentando o desenvolvimento econômico e fortalecendo os laços sociais. A autonomia energética proporcionada pelas cooperativas permite que as regiões se tornem mais resilientes a crises energéticas e mais autossuficientes.
O papel das cooperativas no setor de energias renováveis não é apenas promover a geração de eletricidade limpa, mas também educar e conscientizar a população sobre a importância de adotar práticas sustentáveis. Essa abordagem integrada não só transforma a matriz energética, mas também os valores da sociedade, orientando-a para um futuro mais sustentável e responsável.
Fonte: Sistema Ocergs