As cooperativas são organizações que têm como um dos seus princípios fundamentais a preocupação com a inclusão das pessoas. Baseadas em valores como cooperação, igualdade, solidariedade e participação democrática, são criadas para atender às necessidades e interesses dos seus membros. A preocupação com a integração está ligada a esses valores e à natureza das cooperativas.
Em suma, as cooperativas buscam garantir que os seus cooperados e a comunidade a qual pertencem tenham acesso a benefícios e recursos, além do propósito de empoderar as pessoas, independente do lugar que ocupam na sociedade. O foco é a inclusão.
De acordo com dados divulgados pela Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc) no ano de 2022, cerca de 290 mil catarinenses são acometidos por algum tipo de deficiência. Durante um evento realizado na cidade de Chapecó, no oeste de Santa Catarina, o qual o tema foi “Inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho”, a consultora de inclusão, Tabata Contri abordou o tema, relatando que mesmo existindo uma lei de cotas há mais de 30 anos, inclusão de pessoas com deficiência no ambiente de trabalho ainda é um tópico sensível. Ao todo, são 21 mil pessoas com deficiência trabalhando formalmente atualmente, um número baixo e que cresceu pouco nos últimos anos.
Devido a um acidente, Tabata Contri, ficou tetraplégica. Ela relata que a sua realidade transformou-se completamente, a levando a ter dúvidas sobre o que ela seria capaz de fazer.
“Eu não sabia como seria minha vida porque não via outras pessoas como eu, cadeirantes ou com qualquer outro tipo de deficiência, trabalhando. Eu achava que não era possível. Quando a gente não se vê nesses espaços, achamos que eles não são para nós”, avaliou.
Ela explica que isso acontece porque as pessoas criam barreiras para receber pessoas com deficiência nos meios corporativos, por não conviverem com pessoas com deficiência, e ainda possuem muitos preconceitos. Para ela esse é um desafio para as empresas, assim como trabalhar no desenvolvimento das pessoas com deficiência.
“O grande desafio das empresas é trabalhar o crescimento e o desenvolvimento das pessoas com deficiência. Seja com mentorias, com oportunidades internas, com processos de coaching, porque a maioria ainda ocupa cargos operacionais. Não há problema algum, o problema é ficar no cargo de assistente para sempre”, analisa.
Programas de inclusão fazem a diferença
Na dificuldade de olhar para pessoas com deficiência nos ambientes de trabalho, uma das maiores cooperativas de alimentos do Brasil, que teve sua fundação no oeste de Santa Catarina, promove desde 2007 o chamado “Programa Atitude Agora”.
Criado pela coordenadora de programas sociais da cooperativa, Sonara Bergamo Ramos e pela enfermeira corporativa Francieli Perusso, o objetivo é promover o desenvolvimento pessoal, social e profissional das pessoas com deficiência. Passando por transformações e melhorias ao longo dos anos, atualmente, o programa oferece qualificação para pessoas com deficiência, palestras, workshops, além de parcerias com instituições, como a APAE.
“Queremos que a pessoa com deficiência tenha, de fato, uma inclusão no mercado. Que ela consiga ter trabalho, oportunidades, respeito, dignidade, que conquiste seu espaço e se desenvolva. Buscamos possibilitar a inclusão com adaptação, integração e desenvolvimento profissional”, enaltece Francieli.
Por meio de comitês nas unidades das cooperativas, é realizada a sensibilização dos colaboradores, melhorias para acessibilidade física, divulgação de vagas e afins. Isso faz parte da política implantada para pessoas com deficiência na cooperativa. O compromisso é com a inclusão, adaptação e o desenvolvimento profissional, para que a pessoa permaneça trabalhando.
“Precisamos mudar nosso olhar sobre inclusão. Desde antes de existir uma lei de inclusão, a cooperativa já tinha na sua prática a contratação de pessoas com deficiência. Faz parte da nossa cultura”, ressalta Sonara.
Fonte: G1