O alerta encontra-se estampado no cartaz, logo na entrada da Cooperativa: “Um litro de óleo de cozinha pode contaminar mais de 20 mil litros de água”. E não é só isso! O descarte incorreto desse produto altamente poluente causa uma série de outros danos: impermeabilização do solo, entupimento das redes de esgoto, proliferação de insetos transmissores de doenças…
“Numa escala de 1 a 10, o nível de poluição do óleo de cozinha é 10. Ele é um vilão silencioso. Sua evaporação produz gás metano, um dos causadores do efeito estufa”, destaca a gestora ambiental Josy Oliveira. Ela é presidente da Cooperativa Cooperóleo, sediada em Marechal Deodoro.
A Cooperativa atua no recolhimento do óleo residual de cozinha para a produção e comercialização de sabão ecológico. Assim gera renda a famílias de Marechal Deodoro e preserva o meio ambiente. De 2015, quando foi fundada, a 2023, a Cooperóleo estima ter evitado o descarte irregular na natureza de mais de 90 toneladas do produto.
Josy: “Numa escala de 1 a 10, o nível de poluição do óleo de cozinha é 10. Ele é um vilão silencioso”“A diferença entre o sabão bruto encontrado em supermercados e o sabão ecológico que produzimos é que ele é reciclado, por meio de um resíduo altamente poluidor, quando descartado de forma inadequada no meio ambiente. Atuamos, dessa forma, para diminuir os impactos negativos, preservar o meio ambiente, gerar emprego e renda, fazendo assim o tripé da sustentabilidade”, explica Josy Oliveira.
A Cooperóleo faz, na atualidade, a coleta do óleo residual em 90 pontos espalhados pelos municípios de Marechal Deodoro, Maceió e Barra de São Miguel. São estabelecimentos comerciais que entregam o produto, sem nada cobrar: restaurantes, lanchonetes, estabelecimentos hoteleiros, ambulantes …
O início
O projeto da Cooperativa Cooperóleo nasceu na sala de aula do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), Campus Marechal, em 2015. À época, Josy Oliveira era estudante do curso de Gestão Ambiental e, junto com uma colega, fez uma visita técnica aos restaurantes da Praia do Francês.
O estudo detectou que grande parte dos estabelecimentos fazia o descarte irregular do óleo residual. Por meio do projeto de extensão, foi implantado a coleta do produto em oito restaurantes, durante oito meses.
Por mês, Cooperativa produz 2 mil barras de sabão ecológico“Desenvolvemos o projeto com duas comunidades. Uma vez por semana a gente ia até os restaurantes cadastrados, que quiseram entrar no projeto; coletava e levava para as comunidades, quantificando e reciclando o óleo, transformando em sabão em barras. No término do projeto, quantificamos quatro toneladas desse resíduo que é altamente poluidor, quando descartado de forma irregular no meio ambiente”, recorda a, agora, gestora ambiental.
Surgiu, então, a ideia de criar e formalizar a Cooperativa.
“Desde 2015 fazemos a coleta do óleo usado e hoje todos os restaurantes da Praia do Francês e adjacências participam do projeto, contribuindo com o social, o econômico e o ambiental”, comemora Josy Oliveira.
A Cooperativa recolhe, mensalmente, cerca de 2 mil litros de óleo residual nos 90 pontos espalhados pelos municípios de Maceió, Marechal e Barra de São Miguel. Com o volume, são produzidas 2 mil barras de sabão, 600 litros de sabão líquido e 800 potes de sabão em pasta. Além do óleo, são utilizados para o fabrico: água, hidróxido de sódio e essência.
Hotel
O Hotel Ponta Verde Francês é parceiro da Cooperóleo há 8 anos. Desde que descobriu a existência do projeto, que o estabelecimento destina o óleo residual à Cooperativa; antes fazia a separação e o entregava a uma empresa especializada.
Com 98 apartamentos, o hotel é o maior do Francês, onde são realizadas duas coletas semanais. Além de doar a matéria-prima, o estabelecimento também compra o sabão ecológico produzido pela Cooperativa, que no mercado tem o nome de “Marechal Eco Sabão”.
“A gente acredita no projeto e na importância sustentável, econômica e social que a iniciativa tem. Então, todo óleo residual do hotel é destinado à Cooperativa como forma de contribuição, de colaboração com o projeto”, afirma a coordenadora de Alimentos e Bebidas, Rose Santos.
Rose Santos: “A gente acredita no projeto e na importância sustentável, econômica e social que a iniciativa tem”A colaboração dos estabelecimentos é importante para a manutenção da Cooperóleo. Isso porque grandes empresas do setor têm tentado abocanhar esse mercado. Segundo Josy Oliveira, elas pagam R$ 2 pelo litro do óleo residual coletado.
“Estamos na luta, pedindo… Se tomarem nosso óleo, o pessoal vai ficar desempregado”, alerta a presidente da Cooperativa.
Além dos estabelecimentos comerciais, pessoas físicas – donos e donas de casa – podem fazer a destinação correta do produto. Basta ligar para o “Disque Coleta de Óleo de Cozinha Usado”, por meio do número: (82) 99600.0670, que a Cooperativa vai até o endereço.
“Ralo da pia não é o local correto. Armazena o óleo numa garrafa PET e dá destinação correta”, ensina a presidente, lembrando que o produto também pode ser entregue na sede da Cooperativa, localizada na Avenida Santa Maria Madalena, nº 297, Orla Lagunar, Centro Histórico de Marechal Deodoro, em frente à Capela de São Pedro.
Emprego
Dijila Noédina, 25 anos, e Antônio José da Silva, 31, estavam desempregados e encontraram na Cooperativa uma fonte de renda. Ela atuava como garçonete e ele, auxiliar de cozinha. Agora são associados.
“Eu não sabia que existia, em Marechal Deodoro, uma cooperativa que coleta óleo. Eu também estava desempregado há mais de seis meses e achei essa oportunidade. Estou muito feliz em trabalhar aqui”, afirma Antônio.
“Além de ser uma renda para mim e para minha família, ajudo o meio ambiente. Eu me sinto satisfeita com esse trabalho”, revela Noédina.
A Cooperativa já chegou a contar com 16 famílias associadas, antes da pandemia; hoje são seis. Com a retomada do setor de alimentação, a presidente espera que o quadro volte a crescer.
Dijila estava desempregada e agora trabalha na Cooperativa: “Além de ser uma renda para mim e para minha família, ajudo o meio ambiente”A Cooperóleo também atua no campo social e educacional. Recebe, em sua sede, turmas de estudantes que assistem a palestras sobre meio ambiente e o funcionamento da Cooperativa. Promove, ainda, oficinas que ensinam moradores a fabricar o sabão ecológico.
A sede foi cedida pelo município à Cooperativa, que em 2022 recebeu um veículo (caminhonete) usado na coleta do produto.
“Desde 2017 que temos a parceria da Prefeitura, por meio da Secretaria do Meio Ambiente, e dos nossos parceiros e amigos que vêm aumentando a cada dia”, agradece Josy Oliveira.
Com 2 mi litros de óleo usado, são produzidas 2 mil barras de sabão, 600 litros de sabão líquido e 800 potes de sabão em pasta.
Fonte: Tribuna Hoje