A equidade de gênero é um tema que tem se tornado cada vez mais relevante na sociedade e no mundo dos negócios. No cooperativismo não é diferente. Os números mostram que o cenário ainda é majoritariamente masculino. Em Minas Gerais, de acordo com o Anuário de Informações Econômicas e Sociais do Cooperativismo Mineiro, as mulheres representam 33,2% do quadro social das cooperativas. A diferença é ainda maior na distribuição de gênero dos dirigentes. Desse grupo, 83,9% são homens e 16,1% mulheres.
O Sistema Ocemg tem trabalhado para aumentar a participação feminina e estimular a inclusão nas coops mineiras. Nesta quarta-feira (31/01), a entidade promoveu uma formação para o Comitê Consultivo de Mulheres Cooperativistas, o “Elas pelo Coop MG”, e o Comitê Consultivo de Jovens Cooperativistas de Minas Gerais, com o tema “Viés Inconscientes: como promover a equidade de gêneros nas organizações”.
O assunto da formação não se restringiu à participação das mulheres no coop. Também foi discutida a inclusão relacionada à etnia/raça, geração/idade, pessoas com deficiência, orientação sexual, religião, classe social e cultura. “Estamos passando por um momento desafiador e muito importante, onde percebemos que há novas expectativas da sociedade em relação ao papel das empresas. Falar sobre diversidade, equidade e inclusão é necessário”, disse Francine Póvoa, professora da Fundação Dom Cabral e atuante no ESG, sigla que corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização.
Francine apresentou estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostram a necessidade de fortalecer a inclusão no universo corporativo. Segundo a professora, a força de trabalho está cada vez mais multigeracional, abarcando até cinco gerações juntas; 61% dos funcionários LGBT+ decidem por esconderem sua sexualidade de gestores e colegas em razão do medo de perderem o emprego; pessoas pretas e pardas são maioria em cargos com remuneração mais baixa; sete em cada dez pessoas com deficiência que buscam emprego estão fora do mercado de trabalho.
A professora destacou ainda que uma organização diversa tende a ter um maior potencial de inovação. “A diversidade melhora o clima e, inclusive, os resultados financeiros. Por isso, a necessidade de repensar e fazer uma profunda revisão nos valores e culturas das empresas e cooperativas, considerando a evolução da sociedade”, pondera. “A criação de comitês, como o Sistema Ocemg e as coops têm feito, é o início da caminhada, assim como a capacitação. A jornada é longa, mas necessária. Esse é um tema que casa com os princípios cooperativistas e o setor está se abrindo para isso”, finaliza.
Olhar da Juventude
O analista de Business Intelligence do Sicoob Credibom, de Bom Despacho, João Paulo Libério da Silva, faz parte do Comitê de Jovens. Ele acredita que, em uma sociedade em constante mudança, é preciso cada vez mais inserir no cooperativismo temas relevantes como a desigualdade de gênero. “E realmente valorizar os jovens para que tenhamos um caminho para crescer e construir uma carreira no setor”.
Para ele, o Comitê de Jovens tem o papel de conscientizar toda a juventude cooperativista, bem como as lideranças e membros do setor, com temas relevantes e atuais. “O cooperativismo fala sobre educação, formação e informação dos membros. Temos o interesse nos resultados, inclusive financeiros, que além de serem repartidos para a comunidade, também são para os próprios cooperados. Então eu acredito que é papel dos jovens que estão inseridos no cooperativismo levar isso para que mais pessoas possam se beneficiar”.
O tema abordado, comum nas pautas dos dois comitês, proporcionou uma troca de experiências e de diferentes perspectivas entre os integrantes. “Com isso, saímos mais preparados e inspirados para criar ações tangíveis, de forma a preparar nossas cooperativas para refletirem a sociedade em que operamos hoje”, avalia Hendrik Laviola de Freitas, analista administrativo do Sicoob Credisudeste. “Essa abordagem não apenas fortalece nossas organizações, mas também as posiciona como líderes na promoção de valores éticos e sustentáveis. Acreditamos no poder transformador desses temas para fortalecer ainda mais o cooperativismo mineiro. Juntos, construímos um amanhã mais inclusivo e igualitário”, afirma.
A participação dos jovens no cooperativismo é essencial para a perenidade do modelo de negócios, mas essa caminhada é cheia de desafios, sobretudo para uma geração que vive o imediatismo da internet. “O jovem precisa ter paciência, entender que ele precisa trabalhar com a pessoa mais velha, que tem muita experiência. Já o mais velho, também precisa entender que aquela geração é outra, que deve se adequar, que precisa abrir mais a mente”, avalia Roberta Porto, vice-presidente da Cooperativa de Trabalho de Engenharia e Agronomia (Engecoop) e membro do Comitê de Jovens.
O Comitê de Jovens Cooperativistas é destinado a pessoas entre 18 e 35 anos vinculadas a alguma cooperativa filiada ao Sistema Ocemg. Ele foi criado para contribuir na construção de projetos que estimulem a participação e o protagonismo juvenil no cooperativismo mineiro, com foco na sucessão no cooperativismo.
Intercooperação
Para a diretora de Controle da Unimed Poços de Caldas e representante do Comitê de Mulheres, Tânia Magalhães, as capacitações promovidas pelo Sistema Ocemg com a juventude ultrapassam a intercooperação. “É um desenvolvimento pessoal. Todos saem ganhando e a gente precisa disso. A partir da formação de hoje, acredito que podemos esperar resultados positivos, porque o foco é a nossa permanência e prosperidade. Por isso, é preciso desenvolver e capacitar”.
Ela ressalta que falar sobre a equidade de gênero é importante para não existirem mais pensamentos e atitudes que atrasam o crescimento final e empoderamento das cooperativas. “Está na hora de sermos transparentes e iniciarmos a trajetória em um caminho socialmente correto. Neste sentido, o nosso comitê tem o objetivo de mostrar para as pessoas que não se trata de magoar individualidades, mas que os fatos são fatos e não devem ser interpretados com atitudes e pensamentos pessoais”, conclui.
Agenda recheada de novidades para os dois comitês
A formação realizada no dia 31 de janeiro marcou a primeira reunião dos comitês de Mulheres e Jovens deste ano, ambos criados em 2022 pelo Sistema Ocemg. Ao longo de 2024, serão promovidas diversas ações, como encontros, planejamentos e workshops regionais para aumentar a participação e o protagonismo dos dois públicos nas cooperativas do Estado.
“Essas duas equipes são potentes. Estamos preparando um ano de bastante trabalho e contar com o apoio desses grupos é importante”, explica a gerente de Educação e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Ocemg, Andréa Sayar. “A pauta do encontro foi montada a partir das demandas compartilhadas na nossa última reunião, que aconteceu em novembro passado. A capacitação foi uma das principais necessidades expressadas pelos comitês”, relata.
Neste ano, uma novidade: as reuniões dos dois comitês serão realizadas em conjunto. “Essa troca será ótima para nós, pois o Comitê de Mulheres tem muitas dirigentes de cooperativas e elas poderão colocar as ações do Comitê de Jovens mais em evidência em suas entidades”, comemora Ana Paula Faria, gerente de Relações Institucionais da Cooperativa Educacional de São Roque de Minas, que além de fazer parte do comitê mineiro de jovens, também é representante do Estado no Comitê Nacional de Jovens, o Geração C, criado pelo Sistema OCB para atrair mais jovens lideranças para as cooperativas brasileiras.
“Essas mulheres são fortes e nos inspiram. Com as atividades conjuntas, elas terão um olhar diferente para nossa participação dentro das cooperativas e fazer planejamento de como poderão engajar os jovens, pois as ações das coops são definidas pelos dirigentes. Estamos muito motivados com essa iniciativa do Sistema Ocemg”, ressalta Ana Paula.
As próximas reuniões dos grupos serão no dia 26 de abril, na modalidade on-line. Pela manhã, será do Comitê de Jovens e, no período da tarde, do Comitê de Mulheres. Nas duas ocasiões, o Sistema Ocemg dará sequência às ações definidas nos planos de trabalho de cada equipe. Os grupos foram convidados a fazerem as jornadas de formação de jovens lideranças e jornada da liderança feminina disponíveis no Capacitacoop.
Durante a reunião, foi discutida a agenda de 2024, como a realização do Encontro de Mulheres, em Araxá, nos dias 23 a 25 de maio, e o Encontro Estadual de Jovens Cooperativistas, que ocorrerá em Caetés, nos 01 a 03 de agosto.
Desta vez, apenas duas pessoas por cooperativas poderão participar de ambos os eventos, a fim de permitir que mais organizações estejam presentes.
Fonte: Sistema Ocemg