Originada no termo francês Solidarité, a palavra solidariedade significa se identificar com o sofrimento do outro e, principalmente, se dispor a ajudar a solucionar ou amenizar o problema. O termo boa vontade significa benevolência, vontade, desvelo, entusiasmo, ser prestativo, dentre outras. As duas palavras, na verdade, expressam o sentimento de fazer o bem, de ajudar pessoas.
Permito-me dar exemplos. Durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Holanda foi ocupada pelas tropas nazistas, a família real holandesa fugiu para o Canadá. A rainha estava grávida e a criança, herdeira do trono, só o seria se nascesse em território holandês. O governo canadense, num gesto de boa vontade e solidariedade, transformou a sala de parto onde a criança nasceu e o quarto do hospital onde ficou internada em território holandês, resolvendo o problema. Assim nasceu Margrit (Margarida) em 1939, a rainha da Holanda. Desde então, a Holanda presenteia o Canadá com milhares de mudas de tulipas em agradecimento pelo gesto de solidariedade e boa vontade.
Recordo que, quando fui Superintendente da Fundação Hospitalar de Santa Catarina (1981-1985), recebi pedido de uma funcionária assistente social, que adotara uma menina recém-nascida em uma de nossas maternidades (Maternidade Carmela Dutra), e que desejava ficar em casa atendendo a criança como se fora a mãe biológica. Ela fez requerimento e entrou com o pedido, que tramitou nas áreas administrativas e jurídica da instituição. O pedido foi negado por falta de respaldo administrativo e legal. Contrariando a todos e agindo como médico, que tem o dever de ajudar pessoas, autorizei a assistente social a atuar, para o bem da criança, como se lhe tivesse dado à luz, ou seja, como mãe biológica. Obviamente, fora aberto um precedente, mas deu certo. Valeu a pena. Anos depois, virou lei.
Há uns cinco anos, eu estava na sala de espera do consultório dos médicos cardiologistas Antonio e Loisiane Sbissa para exames de rotina quando presenciei uma cena emocionante. Uma freira idosa, obesa, muito debilitada, sem poder caminhar, deitada numa maca dentro de uma ambulância, fora enviada para fazer um eletrocardiograma (ECG). Teria que ser transportada de maca para a sala do exame. Porém, a porta, estreita, não permitia a passagem da maca. Fora gerado um problema. E agora? Dra. Loisi achou a solução: pegou o aparelho de ECG e o levou até o interior da ambulância. O eletro foi feito e o laudo dado de imediato. A religiosa, os técnicos e o motorista da ambulância despediram-se com palavras de gratidão.
Há muito mais exemplos que poderiam ser mencionados. Mas, acredito que os três aqui descritos nos levam a pensar que ser solidário e ter boa vontade, buscando fazer o bem, em certo momento é mais do que uma deferência; é um gesto de bondade, de caridade. Nem sempre as leis e as regras são soberanas. Há momentos em que o coração bate mais rápido e “fala” mais alto. É a hora da emoção sobrepujar a razão, em benefício do bem.
Por Murillo Ronald Capella, Médico e Professor Universitário
Conteúdo exclusivo publicado na Revista MundoCoop edição 109