Nas últimas semanas, as movimentações do Federal Reserve que envolvem os futuros da taxa de juros nos Estados Unidos foram destaque nos noticiários econômicos. Primeiro, a divulgação de uma ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), logo no começo do mês, e mais pro final de janeiro, uma reunião do Fomc em si.
Para a Gavekal, uma das maiores casas de research do mundo, porém, o foco deveria estar (ainda mais) em manchetes envolvendo a crise da Ucrânia.
Há, claro, um motivo para a atenção de boa parte dos investidores estar sobre a decisão de como se dará a política monetária da maior economia do mundo. A inflação atual nos EUA está nos maiores níveis em quase cinquenta anos e é esperado que a instituição monetária faça algo para controlá-la. A questão é que uma guerra no Leste Europeu pode gerar um grande problema para os cálculos.
“As implicações de mercado para um conflito na Ucrânia são binárias e enormes”, comenta o analista Anatole Kaletsky, em relatório publicado pela casa de research nesta segunda-feira (31). Para ele, o próximo mês deve ser decisivo, com a situação melhorando ou piorando consideravelmente – e com o mercado reagindo a cada um dos dois cenários.
No caso de a situação piorar e a Rússia escalar seu tom de invasão à Ucrânia, o grupo liderado pelos EUA, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), deve acabar impondo sanções ao país. “Putin provavelmente responderá cortando o fornecimento de gás natural para a Europa e restringindo as vendas de petróleo, fazendo com que os preços do petróleo subam acima de US$ 100”, pontua Kaletsky.
Nesse caso, haveria, para a Gavekal, uma crise de inflação mundial semelhante ao que acontecem entre 1973 e 1974, quando a Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (OPAEP) realizou um embargo da exportação da commodity, com o preço do barril saindo de US$ 3 para US$ 12.
Como resultado de cenário, haveria um aperto monetário drástico em todo o mundo e um bear market mais duradouro, o que aconteceu também na década de setenta. Na época, para conter a disparada, a taxa Fed Funds chegou a tocar 20%.