No mês em que se comemora o Dia Internacional do Cooperativismo de Crédito, o MundoCoop entrevista César Saut, vice-presidente corporativo da Icatu. O executivo fala sobre os desafios e as oportunidades trazidas pela pandemia e aborda a atuação da Icatu como seguradora referência em produtos para o setor cooperativo, para que os cooperados e suas famílias estejam financeiramente protegidos e assistidos em todas as fases de suas vidas.
César, você é um dos executivos brasileiros mais proeminentes quando falamos em distribuição de seguros de pessoas e previdência junto ao sistema cooperativo. Que tipo de analogia você faria entre o mercado segurador e o sistema cooperativo?
César Saut: Na condição de associado e parceiro do sistema cooperativo há mais de 20 anos e de executivo do mercado segurador há 30 anos, eu diria que ambos os sistemas são formas de mutualismo organizado e têm essências análogas. O espírito coletivo é a “espinha dorsal” que une essas duas associações mutualísticas, nas quais a interação entre as partes beneficia a todos os envolvidos.
Mesmo tendo mais de cem anos, ambas são operações que estão sempre se atualizando e que acompanham as mudanças da sociedade. Nós trabalhamos ao lado das cooperativas justamente apoiados por essas semelhanças entre os dois segmentos. Somos pioneiros no setor, investindo nessa parceria com capital 100% nacional e operação presente em todo o Brasil. Temos o compromisso de entregar soluções em seguro de vida, previdência e capitalização a milhares de brasileiros, e avalio que é, fundamentalmente, o nosso papel atuar como agente de estabilização econômica de pessoas, famílias e sociedade. Do mesmo modo, esse é também um papel que o sistema cooperativo faz pelo país.
Para exemplificar, eu recorro a um fato que aconteceu no ano passado, no auge da pandemia, e que virou notícia na imprensa. Em São Paulo, vizinhos de um prédio se uniram em um revezamento para fazer compras e prestar assistência a um casal de idosos que estava em isolamento total na residência porque representavam o grupo de maior risco. Do outro lado do mundo, em Israel, vimos a mesma situação: enquanto o governo pedia que as pessoas ficassem em casa, vimos exemplos de israelenses que se organizaram em suas comunidades de modo que uma pessoa ficava responsável por sair e fazer compras para os demais.
Ou seja, naquele momento difícil, a cooperação fez a diferença. E a meu ver, é o senso de cooperação que vai nos ajudar na construção de um futuro melhor, individualmente, como sociedade e como nação.
Como você avalia os desafios e as oportunidades trazidos pela pandemia?
César Saut: A pandemia nos afetou do ponto de vista político, econômico, social, e principalmente emocional. Paradoxalmente, o cenário que ela nos impõe deve nos servir de lição para uma coisa: oportunidade de desenvolvimento, crescimento e amadurecimento.
Com a pandemia, todos nós, sem distinção, nos deparamos com a nossa fragilidade enquanto seres humanos e com a sensação real de que a vida é finita. De repente, entendemos o quanto precisamos uns dos outros. O quanto precisamos usar a força do todo para proteger a cada um. Tudo isso nos colocou em uma posição que diminui a nossa arrogância individual e enquanto sociedade. A pandemia nos igualou e nos ensinou, forçosamente, a sermos mais humildes e a entender, de uma vez por todas, que somos todos iguais.
Se formos nos ater ao próprio comportamento do setor, o cooperativismo de crédito continuou crescendo entre todos os demais segmentos do mercado financeiro, segundo o Banco Central, mesmo no último ano, quando vivenciamos o auge da pandemia. O mercado segurador de pessoas também não foi impactado negativamente no que tange ao seu crescimento. Esse dado da realidade só comprova a importância das cooperativas e do seguro para uma sociedade que hoje está mais consciente e se sente mais vulnerável. Afinal, a pandemia acelerou a necessidade de uma mudança de comportamento e fez a transformação digital, por exemplo, virar realidade.
Falando em transformação digital, que tipo de oferta a Icatu possui para o sistema cooperativo sob essa lógica?
César Saut: Uma seguradora de pessoas como a Icatu tem por princípio diminuir as consequências de certos riscos sociais. O nosso objetivo é auxiliar as pessoas, as cooperativas e o setor com nossas soluções e, assim, gerar impacto social positivo para o país.
Para melhorar cada vez mais os nossos serviços, funcionamos com uma mentalidade de empresa da Nova Economia. A Icatu se preparou para esse cenário de economia digital com investimentos em tecnologia, desde o ponto de vista de infraestrutura até novas políticas e lógica comercial. Nos últimos cinco anos, investimos R$600 milhões em tecnologia.
No entanto, para nós, o avanço da tecnologia vem sempre acompanhado de uma premissa fundamental: a inclusão das pessoas e a utilização da tecnologia como facilitadora para melhorar a vida delas. Acreditamos que a transformação digital jamais deve ser excludente de pessoas, mas pelo contrário: deve servir a favor do ser humano.
Os investimentos em tecnologia que a Icatu tem feito são orientados sob essa lógica. Neste ano, quando estamos investindo quase R$ 200 milhões em tecnologia, realizamos, paralelamente, a contratação de cerca de 400 pessoas.
Esses investimentos nos possibilitaram também ter ferramentas que nos tornam “plug&play”. Estamos prontos para criar e plugar produtos e jornadas digitais que atendam às necessidades específicas dos cooperados, suas famílias, cooperativas e sociedade.
Ou seja, nos valemos da tecnologia para melhorar e servir aos cooperados.
Que oportunidades você enxerga no mercado brasileiro com relação ao seguro e qual o impacto no cooperativismo?
César Saut: Pensando no mercado segurador de pessoas no mundo, o Brasil ainda está bastante aquém da penetração desse tipo de produto quando comparamos com países como Estados Unidos, por exemplo. De acordo com dados publicados pela Federação Europeia de Seguros e o Banco Mundial, a América Latina tem somente 3.1% do market share mundial de seguros, tendo quase 10% da população mundial. O Brasil acompanha esse resultado, e o percentual da população que possui um seguro não chega a 20%. A título de comparação, os Estados Unidos possuem 30.8% de market share mundial de seguros; a Europa, 31.6%; e a Ásia, 32.4%.
Aliado a isso, o cenário de pandemia tornou o brasileiro mais aberto à proteção e ao planejamento financeiro e aí temos a grande oportunidade do crescimento da previdência privada. Hoje vemos que as pessoas estão mais preocupadas em poupar, pensar no futuro, e mais dispostas a fazer escolhas que priorizem experiências e sua qualidade de vida, muito mais do simplesmente adquirir um bem de consumo.
Todo esse cenário só reforça o potencial de crescimento que o mercado segurador tem como um todo e neste sentido o cooperativismo é peça muito importante. Isso porque ele é um setor próximo da comunidade, que entende suas necessidades e é capaz de apresentar as soluções que mais se adequam a essas realidades. A cooperativa conhece a realidade brasileira pois nasce justamente da comunidade.
É importante destacar que para nós da Icatu, mais do que oferecer um seguro de vida, uma previdência privada ou uma solução em capitalização, queremos entender a necessidade deste cooperado e avaliar que solução nós podemos desenvolver, que possa atender aquela determinada necessidade. Nós temos o propósito de fazer a diferença para comunidades tendo as pessoas como o centro da nossa atenção e razão de ser de nossa entrega. Os produtos e serviços são o meio, e atuam para agregar valor para o futuro dos brasileiros que contratam nossas soluções.
Seguimos junto às cooperativas com o propósito de proteger financeiramente cada vez mais pessoas. Transformamos complexidade em simplicidade para fazer parte da vida dos brasileiros, dos cooperados e de suas famílias, em todas as diferentes fases de suas vidas, oferecendo sempre as melhores soluções, os melhores produtos dentro do nosso segmento de atuação.
Nosso sonho é que cada brasileiro esteja protegido financeiramente e para isso contamos com a parceria das cooperativas, que desempenham papel fundamental para concretizar essa ambição. Acreditamos que assim teremos uma sociedade mais madura, equilibrada, sustentável e orientada ao coletivo.
Este mês, é comemorado o Dia Internacional do Cooperativismo de Crédito. Que mensagem você gostaria de deixar para as cooperativas?
César Saut: A Icatu está completando 30 anos e nós queremos cada vez mais nos aproximar da sociedade brasileira, do povo brasileiro. Enxergamos na nossa parceria longeva de mais de duas décadas com o setor cooperativo o meio legítimo para isso. Afinal, como dissemos anteriormente, as cooperativas entendem sobretudo de pessoas e de Brasil. Buscamos estreitar relações de forma mais humanizada e acolhedora com as pessoas e, neste mês tão especial, em que se comemora o Dia Internacional do Cooperativismo de Crédito, queremos deixar a mensagem de agradecimento a todos e a todas que compõe o setor cooperativo brasileiro.
Devemos enaltecer a atuação das cooperativas juntos a esses mais de 11 milhões de brasileiros e brasileiras cooperados. Que cada vez mais pessoas tenham uma vida plena, com qualidade de vida e tranquilidade financeira.
Eu diria que o setor cooperativista tem muito a nos ensinar. E a primeira lição é a de que a união, a colaboração e a cooperação são melhores do que a competição. Essa, por si só, já é uma grande lição: a importância de cuidarmos uns dos outros e de todos atuarem juntos para a realização de sonhos.
Vida longa a esse gigante! Que o propósito do cooperativismo continue nos inspirando, nos iluminando e nos ensinando que é na colaboração para o bem comum que vamos construir um próspero caminho enquanto sociedade brasileira.