Segundo o AnuárioCoop – Dados do Cooperativismo Brasileiro, as mulheres representavam 40% das cooperadas em 2021. Tal participação, cresce exponencialmente a cada ano, e elas estão conquistando importantes espaços, atuando em cargos de diretoria, comandando fazendas na agricultura familiar e muito mais. Parte dessa expansão, veio a partir de iniciativas como os Comitês de Mulheres, presentes em cooperativas por todo o país. Em Minas Gerais, Comitê Consultivo de Mulheres Cooperativistas de Minas Gerais exemplifica um importante movimento para o setor, colocando elas no holofote e mostrando a importância de criar oportunidades para o crescimento do número de mulheres nas coops.
Para Ronaldo Scucato, presidente do Sistema Ocemg, a existência dos comitês não apenas contribui para o crescimento da representatividade feminina no setor, mas também para a própria manutenção do movimento como um todo. “O Comitê surgiu exatamente para fomentar, alinhar e colocar em evidência todo esse protagonismo feminino. Estou certo de que ele ainda vai inspirar muitas propostas, projetos e atividades em prol do desenvolvimento cooperativista em Minas e em todo o Brasil”, afirma.
Fomentar que tal transformação aconteça rapidamente é vital para longevidade das cooperativas. E ao criar comitês que mostram com sucesso a importância de dar voz para as cooperadas e colaboradoras, vemos um passo do movimento rumo a um futuro mais inclusivo e representativo daqueles que fazem a transformação coletiva acontecer. Mas como, afinal, esses comitês funcionam?
Buscando responder a essa pergunta, a MundoCoop conversou com exclusividade com a Analista de Educação e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Ocemg, Lidiane Arantes. Na conversa, que você confere a seguir, Arantes explica como os comitês foram criados, as frentes de atuação e ainda, sua importância para o cooperativismo e para as mulheres de toda a sociedade.
Confira!
Como surgiu a ideia de criação do Comitê Consultivo de Mulheres Cooperativistas de Minas Gerais?
Em janeiro de 2021, o Sistema OCB criou o Comitê Nacional de Mulheres, em parceria com as Unidades Estaduais. Desde o início da demanda, o Sistema Ocemg participou ativamente, contribuindo nas discussões e no processo de implantação do Comitê. Como movimento natural aqui em Minas, começamos a reverberar essa iniciativa do Sistema OCB e, como consequência, criamos o mesmo Comitê em nível estadual, justamente com o objetivo de fortalecer e empoderar a participação das mulheres no cooperativismo mineiro. Vale destacar que a proposta contou com o apoio incondicional de toda a diretoria do Sistema desde sempre, sendo o presidente, Ronaldo Scucato, um grande incentivador do projeto.
Qual as principais frentes de atuação do Comitê? Como ele funciona na prática?
O Comitê é um grupo consultivo e de trabalho voltado à construção de diretrizes e ações que subsidiem iniciativas de inclusão e fortalecimento da atuação das mulheres no desenvolvimento das cooperativas mineiras. Assim, ele contribui com o Sistema Ocemg em relação ao direcionamento de propostas e projetos de estímulo, disseminação, ampliação e fortalecimento da participação e do protagonismo feminino nas cooperativas de Minas. A ideia, de maneira geral, é promover o desenvolvimento, a representatividade e o empoderamento das mulheres no quadro social e na governança das cooperativas. Nesse sentido, o Comitê é formado por 11 mulheres, representantes de cooperativas do Estado. As reuniões são bimestrais e ocorrem de forma virtual ou presencial, através de um calendário previamente validado.
É possível dimensionar os resultados e impactos que o Comitê já trouxe para as cooperativas mineiras?
Em 2022, retomamos o Encontro Estadual de Mulheres Cooperativistas de Minas Gerais, que contou com a presença de 300 mulheres de faixas etárias, cargos e realidades diversas. Durante o evento, foram criados muitos momentos de construção coletiva, com rodas de ação nas quais levantamos os obstáculos vivenciados pelas mulheres nas cooperativas, mapeamos oportunidades para a inserção delas no desenvolvimento do setor e propostas ações para mitigação dos desafios. Com base nesse trabalho coletivo, o Sistema Ocemg, juntamente com o Comitê, analisou os resultados e temas críticos do Encontro Estadual de Mulheres conectando com as boas práticas de ESG. Assim, foi possível elaborar as diretrizes e plano de ação de curto, médio e longo prazos, com o objetivo de subsidiar iniciativas de inclusão e fortalecimento da participação das mulheres para o desenvolvimento das cooperativas mineiras.
Quais os maiores desafios que o Comitê Consultivo de Mulheres Cooperativistas de Minas Gerais pretende mitigar?
Esse universo tem, culturalmente, muitos pontos de atenção e que precisam ser trabalhados para alavancar os resultados de atuação não apenas em Minas, mas em todo o país. Como já foi citado, levantamos os principais desafios que estão ligados especialmente à cultura social brasileira e mundial que, por muito tempo, não contribuiu para dar voz às mulheres. Por isso, pretendemos evidenciar o potencial feminino para o aperfeiçoamento de políticas de governança no setor, ampliar a participação das mulheres em cargos de liderança, fortalecer programas e políticas de inserção delas na base cooperativista, empoderar e alinhar o discurso ativo de atuação desse que é um grupo de trabalho da mais alta importância para o desenvolvimento do setor e da sociedade em todo o mundo. Esses são, portanto, alguns dos principais pontos que serão trabalhados.
Quais os objetivos e metas para 2023?
Entre os principais objetivos e metas deste ano estão a realização da trilha de aprendizagem e dos workshops regionais de implantação de comitês de mulheres nas cooperativas, além da criação da política de diversidade do cooperativismo e campanhas internas e externas de comunicação para divulgar o assunto. Nossa proposta é ter programas internos de desenvolvimento desse público e participação em rede de mulheres.
A partir da sua experiência no Comitê, o que você diria para as mulheres que estão construindo uma carreira dentro do cooperativismo?
Mulher é potência e cooperativismo também. Na minha opinião, temos aqui um ambiente perfeito para nos tornamos referência de trabalho, de vida e de resultados. O ideal é sempre trabalhar em rede, coletivamente, criando alicerces sólidos dentro das coops. O investimento em ações de desenvolvimento pessoal e profissional é fundamental com a perspectiva de ocuparmos cada vez mais os lugares de decisão e de liderança. É assim que vamos seguir colaborando com o desenvolvimento sustentável das cooperativas. Por fim, reitero a importância da criação de núcleos de cooperação para discutir e colocar prática ações prioritárias para o público feminino no dia a dia das cooperativas.
Por Redação MundoCoop