Sua cooperativa pode ajudar milhares de brasileiros a lidar com o dinheiro de forma mais assertiva e ter uma vida mais próspera. Como? Mostrando a eles a resiliência financeira — capacidade de se adaptar a situações que impactem a renda ou até mesmo o patrimônio de uma pessoa, como a perda de emprego ou outras restrições econômicas. Quem garante isso é a especialista em comportamento financeiro Ana Leoni, que aponta três conceitos-chave para alcançar esse objetivo: autoconhecimento, autocontrole e autorresponsabilidade.
Cooperativas de crédito podem ajudar brasileiros a ter resiliência financeira
Como agentes fundamentais para a educação e inclusão financeira de todos os brasileiros, as cooperativas de crédito devem estar diretamente engajadas nessa missão de conduzir seus cooperados rumo à resiliência financeira — uma habilidade tão relevante que foi escolhida pelo Banco Central como tema da 10ª Semana Nacional de Educação Financeira (Semana ENEF), que ocorreu semana passada em todo o Brasil.
Segundo Ana Leoni, mais brasileiros têm conseguido poupar e o interesse por temas ligados a dinheiro tem crescido. De fato, levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostra que 32% dos brasileiros conseguiram economizar em 2022 — um acréscimo de 5 pontos percentuais em relação ao ano anterior. No entanto, apesar desse crescimento, o dado revela que os demais 68% da população não conseguiram guardar nenhum centavo. A dificuldade está relacionada a fatores macroeconômicos e à desigualdade social, mas também evidencia uma característica cultural da sociedade brasileira, que ainda valoriza mais o consumo que o investimento.
Mudar uma cultura é uma tarefa que demora. É diferente de mudar um contexto, um cenário. Quando falamos em mudar a cultura, é algo mais difícil, e talvez a gente demore gerações para isso. E a educação financeira é um instrumento poderoso para ajudar as pessoas a entenderem o verdadeiro sentido de uma vida próspera, que é ter tranquilidade financeira”, avalia Ana Leoni, que falou sobre o assunto com exclusividade para a Confebras.
Com 28 anos de experiência no mercado financeiro, sendo 17 deles com educação financeira, a palestrante aponta que o autoconhecimento, o autocontrole e a autorresponsabilidade são válidos para diversas realidades econômicas, independente da renda ou idade de quem pretende começar a se organizar financeiramente. Quer saber mais sobre o assunto? Confira o passo a passo para ajudar seu cooperado a alcançar a tão sonhada resiliência financeira:
PASSO 1 — Autoconhecimento
A vida financeira e as escolhas ligadas a ela estão muito mais relacionadas às emoções que a tabelas e números. Nesse contexto, o autoconhecimento é uma ferramenta importante e se refere à compreensão dos próprios desejos, potencialidades e limites para definir onde se quer chegar.
“Às vezes as pessoas acham que a resposta para a vida financeira delas está numa planilha de Excel ou numa calculadora, mas na verdade está no diálogo; em como você consegue dialogar abertamente consigo mesmo, porque às vezes a gente tem uma dificuldade grande de entender as nossas motivações, ambições e limitações”, afirma a especialista, que também é entusiasta da economia comportamental.
Para ajudar as pessoas a aumentarem seu autoconhecimento em relação a dinheiro, Ana sugere identificar 3 tipos de desejos financeiros:
- Desejos explícitos — incluem viagens, uma posição no trabalho e tudo aquilo que a pessoa fala abertamente desejar.
- Desejos íntimos — são aqueles que não falamos abertamente nem com nós mesmos. Como alcançar um determinado salário.
- Desejos herdados — são aqueles originados por influência de outras pessoas, incluindo estar em uma determinada profissão, mas querer se dedicar a outra.
A partir desse diagnóstico, é possível definir prioridades — que muitas vezes não estão nos desejos explícitos, como parecia à primeira vista — e trabalhar pelos objetivos que podem dar o retorno esperado, ajudando a alcançar a resiliência financeira.
O autoconhecimento traz instrumentos para você se fortalecer e não se frustrar. Traz clareza do que é relevante, do que te motiva. E a partir do momento que você traz isso para a superfície, você consegue criar planos e meios de alcançar aquilo ou, pelo menos, organizar melhor suas expectativas”, ensina.
PASSO 2 — Autocontrole
Às vezes é preciso dizer não em situações em que uma resposta positiva seria muito mais fácil. Isso vale tanto diante de uma sobremesa tentadora ou de uma compra desnecessária. “Essa capacidade de frear o impulso é o autocontrole, ferramenta indispensável para refinar os processos de decisão”, afirma Ana Leoni.
De acordo com a especialista, a capacidade de “refinar” decisões ajuda em vários aspectos da vida, principalmente no financeiro. “E aqui não estamos falando apenas do impulso do consumo, mas também do impulso de investir em algo que não tenha sido analisado e ponderado”, compara.
Para dar um exemplo de como o autocontrole influencia os resultados das escolhas pessoais, Ana Leoni cita o famoso Teste do Marshmallow, desenvolvido pela Universidade de Stanford, da Califórnia, nos anos 1970, com um grupo de crianças pequenas.
No experimento psicológico, um adulto oferecia um doce a uma criança e dizia que se ela não comesse até a volta dele, em 15 minutos, receberia mais um como recompensa. Uma parte do grupo comeu o marshmallow antes do tempo combinado. Outra parte esperou a volta do adulto à sala em troca do segundo doce. Os dois grupos de crianças foram monitorados por cerca de 40 anos e os resultados mostram que os que conseguiram manter o autocontrole no teste tiveram melhor desempenho escolar ao longo da vida, conseguiram melhores trabalhos e se tornaram adultos mais saudáveis.
“Esse refinamento, esse freio na tomada de decisão pode ser uma condicionante muito relevante para você atingir bem os seus objetivos”, acrescenta a especialista.
PASSO 3 — Autorresponsabilidade
A autorresponsabilidade é a capacidade de assumir as consequências pelas próprias atitudes e ações. Quando se trata da dimensão financeira, o conceito é relevante porque orienta a tomada de decisões conscientes e que não dependam de fatores externos, sejam ligados ao empregador, ao governo ou à situação econômica do país.
Você é responsável pelas suas decisões financeiras. A autorresponsabilidade é chamar para si o dever de fazer o que precisa ser feito. Então quem vai cuidar da sua independência financeira não serão seus pais, seu empregador e nem o governo. Será você, tendo um comportamento diligente durante toda a vida”, garante.
Ainda segundo a especialista em comportamento financeiro, o conceito da resiliência financeira precisa ser aplicado não só em grandes decisões ligadas ao dinheiro, mas de forma cotidiana, e em qualquer realidade financeira, ou seja, para quem tem pouco ou muitos recursos disponíveis.
“O dinheiro é um instrumento importante. Ele é fundamental, um alicerce para nossas vidas. A gente toma decisões financeiras o tempo inteiro, mas precisa ser responsável com o uso dele. Um exemplo: não é porque você tem dinheiro para pagar a conta de água que vai deixar o chuveiro ligado enquanto vai assistir a um filme. Isso não é ser responsável”, compara.
Fonte: Confebras