A América Latina deve apresentar em 2023 um crescimento enfraquecido pelo impacto defasado do aperto monetário que já foi concluído na maior parte dos países da região e da menor atividade global. A projeção da Coface, líder global em seguro de crédito comercial e em serviços especializados, é de uma expansão do PIB latino-americano de 0,9% no ano, o que representa uma significativa desaceleração em relação à alta estima de 3,6% em 2022.
A economista-chefe da Coface, Patrícia Krause, falou da desaceleração da economia mundial, durante a 7ª edição no Brasil da Country Risk Conference. “Um ponto importante é a desaceleração da economia mundial, não só por uma menor demanda por exportação para os países da região como também por toda sua influência no mercado de commodities. E, por fim, pelo forte aperto de juros no Brasil e também nos países vizinhos”
Para o Brasil, a Coface espera um crescimento de 0,7% em 2023, após o avanço de 2,9% no ano passado. Já as economias da Argentina e da Chile devem enfrentar recessão em 2023 com quedas de – 0,5% e -1,2%, respectivamente. No ano passado, a Argentina cresceu 5,5%, enquanto o Chile registrou alta de 2,4%.
A economista avalia que a Argentina corre o risco de uma queda ainda maior do PIB pois há vários desiquilíbrios na economia. Ela cita a inflação, que atingiu três dígitos pela primeira vez desde 91 em fevereiro, a necessidade de um ajuste fiscal, controles de importação que podem causar desabastecimento para indústria e os impactos na agricultura com a maior seca em 60 anos.
“A desconfiança sobre a moeda também segue bastante forte. Haverá ainda eleições presidenciais em outubro, e podemos começar a observar mais volatilidade principalmente a partir do segundo semestre”, completou.
Inflação ainda elevada na região
A previsão é que a inflação encerre 2023 em um patamar menor em relação a 2022 na maioria dos países da América Latina, com exceção de Argentina e Brasil. No caso do Brasil, a Coface projeta uma alta do IPCA de 6%, após uma taxa de 5,8% no ano passado.
“Tivemos uma melhora aqui desde o pico de 12% de abril do ano passado, mas agora essa convergência para a meta parece mais difícil. As expectativas vêm subindo e temos a projeção de que feche o ano até o um pouco mais alta do que o ano passado”, afirmou.
Apesar de perder força, de uma forma geral na região, a inflação seguirá em patamares historicamente elevados neste ano. “Os núcleos de inflação seguem elevados. Com isso, os BCs continuam pressionados. Temos uma taxa de juros real bastante significativa, principalmente no Brasil, o que afeta a atividade econômica. E não projetamos que as taxas caiam no curto prazo”, disse Patrícia.
Sobre o câmbio, por enquanto, as moedas da região, com exceção da Argentina, reportam apreciação no ano. No entanto, segundo a economista, o movimento pode ter vida curta, se a aversão ao risco ganhar força no cenário global. “As preocupações com sistema bancário podem levar ao fortalecimento do dólar frente às moedas emergentes. Além disso, temos próprios riscos locais, como as eleições na Argentina, a discussão sobre a âncora fiscal no Brasil e a nova constituinte no Chile, entre outros”, ponderou.
Segundo a economista, os juros em alta, a atividade em desaceleração e uma possível depreciação cambial acendem o alerta sobre o endividamento público, de famílias, empresas e do sistema bancário. “Houve uma melhora desse nível de endividamento na América Latina no final de 2022, comparado com o último trimestre de 2021, mas mais pela base, porque o PIB seguiu em recuperação e pela inflação mais elevada. Portanto, o endividamento continuará sendo um ponto importante de atenção.”
Por Karem Soares – Redação MundoCoop