Um encontro totalmente pautado na intercooperação. Esse foi o objetivo do 4º Fórum Integrativo Confebras, que aconteceu nos dias 30 e 31 de agosto no Hotel Gran Estanplaza Berrini, em São Paulo, e contou com a MundoCoop como Mídia Oficial.
Promovido a cada dois anos pela Confebras – Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito, a edição apresentou um caráter especial. O de ser totalmente construído a partir de um trabalho colaborativo e desenhado com a proposta de estimular a prática da intercooperação no ecossistema cooperativo, contribuindo para o crescimento das cooperativas de crédito singulares independentes e de todo o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC).
Encerrando uma jornada de 3 ciclos – Dialogar, Desenvolver e Materializar – o Fórum focou na tratativa de temas que têm conexão direta com os desafios vivenciados pelas independentes e que certamente irão somar para uma atuação cada vez mais competitiva do segmento no mercado financeiro nacional.
Com apresentação de Renata Jabali, a abertura e mensagem de boas-vindas foram realizadas por Moacir Krambeck, presidente da entidade, e Ailton de Aquino Santos, auditor chefe no Banco Central.
Dando início aos diálogos, Harold Espínola, Chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias do Banco Central do Brasil, guiou a conversa sobre “Intercooperação: do discurso à prática”.
Analisando a atual conjuntura do mercado, Harold explica que os princípios cooperativistas são bem próximos do que as instituições estão se movimentando para crescer e o cooperativismo, como criador deles, precisa estar atento a essa questão. “Não é a primeira vez que o cooperativismo é pressionado, mas agora a velocidade cobra e as consequências são mais rápidas”, acrescenta. Nesse contexto, ele traz a intercooperação como principal “ferramenta” para as cooperativas contornarem esse cenário, ativando seu senso de oportunidade e apostando em verdadeiras estratégias conjuntas para que o retorno seja igualmente coletivo. “Essa oportunidade está na mão de quem pode decidir”, alerta.
Seguindo as nuances dessa pauta, o painel Ciclo Materializar – Intercooperação para a evolução das cooperativas independentes reuniu Thiago Borba Abrantes, Advogado e Coordenador do Ramo Crédito da OCB, Luiz Lesse, Presidente do SICOOB Executivo e Vice-Presidente da Confebras, Fernando Henrique, Gerente da Controladoria da Central Ailos, Edivaldo Oliveira, Consultor de Relacionamento do Sicoob Nova Central, Otelo Castellani, membro do Conselho de Administração da CrediSIS, e mediação de Telma Galletti, Superintendente na Confebras, para falar sobre a iniciativa Confebras UNE.
A plataforma de soluções compartilhadas surgiu da necessidade de fazer algo mais concreto e que realmente supra as necessidades das cooperativas de crédito. Com foco nas independentes, a Confebras UNE coloca a Confebras em um novo posicionamento estratégico dentro do cooperativismo, trazendo também as afiliadas para um estágio bem diferente do que já é conhecido.
No debate dos painelistas, que foi aberto ao público, o fortalecimento das cooperativas, de produtos até orientação, foi citado como quesito mais importante na atualidade. Assim como a necessidade de iniciar uma intercooperação pelo básico, respeitando a individualidade de cada cooperativa, passando também pelas independentes e combatendo o desconhecimento que é, inclusive, a nível governamental. “É preciso que vejamos o resultado para o todo e não só para a cooperativa”, frisou Thiago Borba.
“Tudo que acontece com uma cooperativa tem impacto no cooperativismo inteiro” – TELMA GALLETTI, Superintendente na Confebras
Em continuidade, Josias Sales, Superintendente de Segurança Cibernética no Sicoob, abordou a “Cibersegurança: estratégias e ferramentas para prevenção e combate a fraudes e ataques”. Assunto atual e necessário tanto para as instituições quanto para as pessoas em caráter individual.
Josias ressaltou que o Brasil é um dos maiores usuários de redes sociais e isso tem chamado a atenção de possíveis invasões, alertando para a grande modalidade da vez, o sequestro de dados. Cenário que justifica o crescimento da filosofia “zero trust” (zero confiança, em tradução literal) entre as empresas. “Como o mercado está se posicionando ao tema? Investindo. Ano passado, por exemplo, o investimento em cibersegurança aumentou em 74%”, comenta. Ele ainda trouxe para a conversa os 3 pilares da cibersegurança: processos, tecnologias e pessoas.
Após breve intervalo, Ligia Zotini, pensadora de cenários Futuros e fundadora do Voicers, falou sobre “Tecnologias humanas nos cenários de futuros saudáveis”. Na palestra, ela convidou todos para uma reflexão a respeito da inserção das mais novas tecnologias no cotidiano das pessoas. “Investimos muito tempo analisando e interpretando dados e, nos próximos anos, isso será feito por uma Inteligência Artificial Generativa. Então, o que faremos com esse tempo livre?”, questiona.
Pensando em futuro, Ligia acrescenta que existe um movimento que fará com que cada vez mais precisemos nos autoconhecer e apender a nos conectar com o outro. E isso estará acima das tecnologias que já estão presentes ou estão por vir.
Complementando esse fluxo de ideias gerado, o Empreendedor e Professor, Marcelo Minutti, conduziu o tema “Inovação e pensamento sistêmico: desbloqueando o crescimento dos negócios”.
Minutti explica que é possível criar cenários, mas isso não quer dizer que o cenário vai acontecer. E essa questão interpretativa é a chave para a ânsia que o mundo apresenta de prever o futuro constantemente. “Incerteza é a única constante no futuro e gerir essa incerteza é o principal desafio das lideranças atuais”, destaca. Com isso, ele reforça que gerir deve ser o foco e não a previsão do futuro. Mas como prosperar na incerteza? Entender a complexidade. “O conjunto das partes é o que garante o sucesso do todo”, finaliza.
Ainda, encerrando o primeiro dia, o debate foi sobre “O papel da liderança nos processos de governança” com Ricardo Rocha, empreendedor e investidor em empresas de tecnologia.
OS PILARES DO FUTURO
Compartilhar a visão e a experiência de especialistas do mercado e, também, do movimento cooperativista para levantar insights e impulsionar a prática de planos traçados. Cumprindo com esse objetivo, o segundo dia do 4º Fórum Integrativo Confebras fechou o ciclo com chave de ouro.
Para início, a Chief Purpose Officer na HILO Estratégia e Propósito, Claudia Leite, guiou a discussão sobre ESG com a palestra “Seja uma cooperativa melhor para as pessoas e para o mundo”. O tema, que já não é novidade para ninguém, também tem apresentado novas nuances e urgências, importantíssimas para a atuação do setor.
Em seguida, a conversa foi estendida a quatro grandes participantes. O painel “Negócios responsáveis: boas práticas de ESG” contou com a presença de Denise Maidanchen, Diretora Executiva da Quanta Previdência Cooperativa, Cesar Saut, Vice-presidente Corporativo da Icatu, Sara Buchwitz, VIce-presidente de Marketing e Comunicação da Mastercard Brasil, e Ademar Schardong, sócio de uma das empresas do Grupo Yassaka e Fundador e Presidente do Banco Cooperativo Sicredi.
Na ocasião, Denise abordou a necessidade do recorte do etarismo no ESG. A Diretora da Quanta explica que a grande conquista da humanidade que é viver mais, por negligência, não tem sido desfrutada pelas pessoas em toda sua potência. Segundo dados apresentados, em 2025, 32% da população terá mais de 60 anos e essa dinâmica demandará mudanças no mercado e no trabalho, sendo uma questão social que envolve todas as empresas e, claro, cooperativas. “A importância da educação para longevidade para dentro do cooperativismo é para as pessoas que já estão vivendo nessa longevidade e preparar os associados para que eles possam viver com qualidade de vida. O protagonismo possui a capacidade de gerar protagonismo nas pessoas, imprescindível para a longevidade efetiva. A solução é coletiva”, reforça.
“Que bom que estamos vivendo num mundo com sustentabilidade, mas se não olharmos também para a sustentabilidade individual isso não irá se sustentar num futuro” – DENISE MAIDANCHEN, Diretora Executiva da Quanta Previdência Cooperativa
Prosseguindo, Ademar Schardong chamou a atenção para a governança corporativa. Ele iniciou destacando que os interesses de grupo as vezes não coincidem e dentro de uma cooperativa isso se intensifica, necessitando um bom processo de gestão para que seja tomada a decisão mais adequada. “Tirem da cabeça que governança é algo que está ou será implantado. Governança é um conjunto de processos, políticas que institucionalizam a gestão dentro da organização e não um episódio isolado. Não é preciso chamar o melhor especialista para implantar sua governança, cabe aos líderes se prepararem para isso”, ressalta.
“O grande desafio das cooperativas de crédito contemporâneas não é mais mercado, é gestão e governança porque as lideranças estão adentrando uma nova geração” – ADEMAR SCHARDONG, Fundador do Banco Cooperativo Sicredi
Dividindo com todos um pouco da sua experiência a frente da Mastercard, Sara Buchwitz apresentou a empresa como grande case que se apoia no ESG e foca, atualmente, em 3 metas centrais: inclusão financeira, paridade salarial de mulheres e neutralização da cadeia de carbono.
Complementando as discussões do painel, Cesar Saut instigou os pensamentos a respeito do futuro. Explicando que o conceito VUCA foi humanizado quando passou para BANI, ele chama atenção para o novo foco de mundo: a humanização. Ao trazer um pouco do que foi apresentado no South by Southwest 2023, Saut relembra que, surpreendendo a todos, papel social, pessoas no centro e força da comunidade foram os grandes protagonistas. “A inteligência artificial não vai substituir o ser humano, mas vai criar um ser humano expandido. Resolver problemas que estão ao nosso alcance é o que irá fazer a diferença, esse precisa ser o foco do ESG a partir de agora”, acrescenta.
Logo após, Adriano Ricci, Diretor Executivo da instituição do FGCoop, falou sobre o papel da instituição na prevenção dos riscos e apoio às cooperativas de crédito. Reforçando a importância de uma representatividade de todos os sistemas e cooperativas de crédito, ele volta a atenção para o impacto de intercooperar. “A gente entende que a intercooperação irá ajudar as cooperativas a serem mais fortes e cooperativas mais fortes apresentam menos risco de descontinuidade”, pontua.
Abrindo o último bloco de discussões, Rozália Del Gáudio, comunicadora e professora na FGV e USP, conduziu uma palestra interativa sobre “Liderança, cultura e comunicação: papeis, dilemas e práticas”.
Apresentando um tema muito relevante para as cooperativas, Rozália destaca a importância delas em se conectarem com as pessoas, fazendo com que essa aproximação e preferência seja feita através da verdade transmitida. “Qual palavra melhor descreveria a sua organização para seu cooperado?”. Essa questão trazida por ela levou todos a uma reflexão sobre como estão investindo na comunicação de suas cooperativas. E mais, se estão mesmo prontos para as mudanças que eventualmente precisam acontecer e só serão percebidas através de uma boa comunicação. “Reputação é o equilíbrio entre percepção e realidade e uma boa comunicação, aquela feita por pessoas e a partir dos bons líderes, garantem esse equilíbrio”, conclui.
“Escute quem esta na linha de frente, haja com proposito e fale com consciência. Comunicação é um habito” – ROZALIA DEL GÁUDIO, comunicadora e professora
Seguidamente, Thiago Borba Abrantes, Advogado e Coordenador do Ramo Crédito da OCB, discutiu o “Aprimoramento do marco legal das cooperativas de crédito – Lei Complementar 196/22 e o processo regulatório dos seus dispositivos”. Tema de extrema relevância e atenção para as cooperativas na atualidade.
De encerramento, o bate-papo foi sobre “A ciência da felicidade para construir o seu melhor” com Lúcia Barros, autora e especialista em desenvolvimento pessoal. Como organizações feitas de pessoas, direcionar um olhar especial para essa temática precisa ser um grande norte para as cooperativas que querem continuar a atuar com excelência, diferencial e propósito.
Por Fernanda Ricardi – Redação MundoCoop