Um dos principais temas do debate atual quando o assunto é sustentabilidade trata-se da energia renovável. No mundo, a matriz elétrica se baseia em combustíveis fósseis, especialmente o carvão mineral, que responde por 38% da energia gerada, enquanto as fontes renováveis respondem por apenas 25% da geração. Enquanto isso, no Brasil, 83% de toda energia elétrica gerada têm origem renovável, como hidrelétricas, cuja produção é de 64,9% do total de eólicas, biomassa, solar e biogás.
Portanto, segundo dados da Agência Internacional de Energia e do Balanço Energético Nacional, o Brasil é um exemplo quando falamos de descarbonização. De janeiro de 2021 a 2022, houve um aumento da capacidade instalada de geração de energia por fonte eólica e solar por todo o país, que está em expansão, segundo informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Tal número é comprovado pelo aumento da capacidade instalada de fontes eólica e solar, que aumentou mais de 2.500% em um período de dez anos.
De acordo com Ewerton Marques, presidente da Cooperativa Paraense de Energia Renovável (Cooper Tensol), o número de unidades de painéis solares, tanto em residências quanto em estabelecimentos comerciais e industriais, vem crescendo cada vez mais. “Segundo o Instituto Nacional de Energia Limpa (INEL), esse crescimento tem relação direta com o aumento da conta de luz, motivado, principalmente, pela alta das bandeiras tarifárias em decorrência da crise hídrica. Investir em sistema de captação de energia solar (painéis fotovoltaicos), além de ser mais vantajoso para o consumidor, também contribui para mitigar os impactos do aquecimento global”, afirma ele, acrescentando que o retorno sobre o investimento dos sistemas fotovoltaicos das casas, hoje, é próximo a quatro anos. “Se financiado, normalmente a parcela do financiamento é menor do que a economia da conta de luz. O brasileiro não precisa tirar dinheiro do bolso para gerar a própria energia”, completa.
Para Raphael Sampaio, presidente da Cooperativa Brasileira de Energia Renovável (Coober), as cooperativas de energia renovável têm se multiplicado no Brasil, desde 2016, quando houve uma mudança de regulação. “Esse movimento permitiu que pessoas se juntassem em cooperativas para produzir sua própria energia, injetar na rede pública de energia e fazer a compensação disso. Exemplo: pessoas que moram em casas/ apartamentos alugados e que queiram gerar sua própria energia para questões de economia, ou de gerar energia limpa, se juntam em cooperativas. Para isso, no mínimo, é necessário ter pelo menos umas 20 pessoas, que abrem um CNPJ de cooperativa, montam uma usina num terreno remoto, que pode ser próprio ou de outros, passando a gerar sua energia e compensar na sua conta”, afirma.
Além disso, as cooperativas têm o papel de transformar as comunidades no seu entorno. “Essa solução de geração compartilhada resolve muitos dos problemas técnicos e econômicos que existem para expandir a solução. Além disso, harmoniza com este senso de cooperação, tradicional nas comunidades”, ressalta Ewerton Marques afirmando, ainda, que a ideia de que energia solar é coisa de rico é mito. “Energia solar é uma ferramenta muito mais importante para a camada mais pobre. Enquanto a classe alta gasta cerca de 3% a 4% da renda com energia, a baixa renda chega a gastar de 30% a 40%. Então, é uma ferramenta muito importante para reduzir despesas com energia, num modelo adotado de geração compartilhada no formato cooperativa, onde a energia gerada pelo sistema solar será creditada aos moradores que forem cooperados”, completa.
Raphael Sampaio concorda e diz que, hoje, as cooperativas de energia renováveis conseguem democratizar a geração de energia, o preço, a economia e os benefícios. “A renda das famílias pode ser usada para outras coisas. As mudanças são inevitáveis: temos a eletrificação dos veículos e a extinção dos combustíveis fósseis”, ressalta.
Desafios do setor ainda são muitos, dizem presidentes das cooperativas
Embora o setor esteja em franca expansão, muitos desafios fazem parte dele, como a insegurança jurídica, o que trava o crescimento de e surgimento de novas cooperativas, questões tributárias, econômicas, pois trata-se de altos investimentos, entre outros. “É um setor que, por estar inserido em um ambiente regulado pelo governo, oferece barreiras. Portanto, com o aumento do preço de petróleo no mercado internacional, esse modelo de geração tem se mostrado um importante vetor na democratização o uso de energia limpa e renovável através do sol. Com o uso dessa plataforma de produção de energia solar, reduzimos a emissão de gases do efeito estufa. E vale salientar que, através da lei número 14.300, teremos um pouco mais de segurança para investir no setor de energia solar através de cooperativa”, frisa Ewerton Marques.
Para Raphael Sampaio, os desafios das cooperativas de energia são muito grandes. “Entretanto, a sociedade passa por uma descentralização e vejo um futuro muito promissor. O uso da tecnologia sustentável e limpa é algo que está no DNA das cooperativas de energia hoje no Brasil. E o setor vem crescendo: a energia fotovoltaica tem uma participação muito grande no setor brasileiro, assim como a eólica, e isso vai crescer mais com o crescimento da tecnologia, utilização de inversores melhores, painéis solares com melhor capacidade. Os desafios que encontramos são mais regulatórias e de lobby de interesses do setor elétrico”, opina.
De acordo com a Bloomberg New Energy Finance (BNEF), até 2050 77% dos investimentos em novas fontes de geração de energia serão em renováveis. Ewerton Marques complementa que, agora, as cooperativas devem buscar melhoria em gestão e novas tecnologias aplicadas ao negócio, bem como o ESG adotado como competividade para as empresas que adotam essa fonte de energia. Portanto, Raphael alerta: “entendemos que o Brasil tem um grande potencial para produção de energia limpa e renovável, aliado ao modelo cooperativista como vetor na democratização e inovação do setor. Porém, não é um futuro fácil, mas de muita luta”, diz ele, apostando em cooperativas que vão além da energia renovável e que ampliarão suas atividades para os recursos renováveis. “Veículos elétricos, compartilhamento de tecnologia, entre outros. O mundo hoje passa por uma democratização, descentralização e descarbonização do setor elétrico”, finaliza.
Para saber como abrir a sua cooperativa de energia e outros detalhes do setor, acesse https://energia.coop/.
Por Leticia Rio Branco – Matéria publicada na edição 107 da Revista MundoCoop