O mundo das startups cresce, e se diversifica, a cada dia. São diversos setores que têm se tornado conhecidos por oferecerem cada vez mais agilidade e uma metodologia altamente disruptiva, encantando o usuário final. Basta olhar ao redor: temos as fintechs, do mercado financeiro, as headthechs, da área de saúde, e muitas outras! Porém, uma categoria tem se destacado e mostrado que tem muito potencial é a das Insurtechs, voltada para a área de seguros.
A palavra Insurtech é uma combinação de insurance e technology (em tradução para o português: seguro e tecnologia), sendo usada para designar startups que atuam no mercado de seguros, com um modelo de negócios escalável baseado num DNA tecnológico. O resultado: serviços mais personalizados, rápidos e que deixam a burocracia de lado. Ou seja, nada de papéis para preencher. A contratação de um seguro, seja de residência, vida, carro e outros, pode ser feito com apenas um clique no seu smartphone.
Wilson Leal, diretor de mercado e tecnologia da Seguros Unimed, diz que a pandemia do novo coronavírus acelerou o processo de transformação digital das empresa, contribuindo para acelerar a adoção de ferramentas e interfaces digitais pelos consumidores. “Pessoas que antes tinham resistência a realizar compras online e interagir com empresas e fornecedores por interfaces digitais passaram a realizar essas operações como parte de sua rotina.
Ao mesmo tempo, cada vez mais os consumidores ficam exigentes com as empresas e marcas, não somente fazendo comparações entre concorrentes do mesmo setor, mas comparando as experiências de compra e uso de seguros com outros serviços, como os bancos digitais, bem como plataformas de e-commerce e marketplace que fornecem serviços e produtos diversos”, afirma.
Para Ricardo Balbinot, diretor de Cooperativismo da MAG Seguros, apostar na inovação faz parte da história da seguradora, uma das mais conceituadas do mercado. “A empresa sempre apostou no investimento em tecnologia e tem sido, repetidamente, reconhecida como modelo nacional de inovação. Aliás, nossa inovação não é algo pontual, mas um aspecto contundente do DNA da empresa, voltado para proporcionar melhores experiências, produtos e serviços aos nossos clientes, corretores, parceiros e beneficiários”, observa ele, citando que, dentre tais iniciativas, estão a WinSocial, startup criada em 2018 que permite a entrega de seguros de vida personalizados para públicos que normalmente não encontram tais produtos no mercado, “como pessoas com doenças crônicas, que possuem estilo de vida saudável hábitos e sabem administrar bem o tratamento. Com a startup, ampliamos nosso portfólio de soluções para pessoas obesas, hipertensas, HIV+ ou com histórico de câncer de mama, próstata ou pele não melanoma”, completa.
Além disso, a MAG Seguros também criou a Simple2u, seguradora 100% digital dedicada à venda de seguros sob demanda. A Insurtech oferece ao cliente a possibilidade de escolher o período de tempo em que deseja ativar sua cobertura de seguro – vida, casa ou propriedade. “Por meio do aplicativo, pode comprar e configurar acionamentos de seguros de acordo com sua necessidade com apenas alguns cliques, 100% online e com preços justos. A Insurtech iniciou este ano o seguro de acidentes pessoais e domésticos e expandiu seu portfólio para o seguro de celulares”, explica Balbinot.
Wilson Leal comenta que as Insurtechs vêm ocupando cada vez mais espaço em virtude da adoção de processos mais ágeis e modelos de negócios centrados nos clientes. “Esses benefícios proporcionados pelas Insurtechs são derivados de suas abordagens centradas nos clientes e na velocidade que conseguem imprimir no processo de experimentação e de aprendizado contínuo no desenvolvimento de suas soluções, que compreendem toda a jornada do usuário, desde a segmentação e abordagem dos potenciais clientes, personalização da oferta de acordo com as suas necessidades, passando pela gestão do funil de vendas e pelo relacionamento com o cliente no pós-venda (“customer success”). Ou seja, atuam de forma a eliminar a burocracia na contratação dos seguros, usando inteligência artificial e digitalização de processos, fundamental para revolucionar um setor que ainda tem uma abordagem e um linguajar muito técnico e de difícil assimilação para os consumidores”, opina.
Tendências: o que as Insurtechs podem trazer daqui para frente e como seguradoras tradicionais podem usar esse modelo de negócios a seu favor
“É fato que o conceito de economia compartilhada também tem transformado a forma como os consumidores se relacionam com a posse de bens, e a agenda ESG assume uma importância cada vez maior nas decisões de compra, o que exige uma redefinição das prioridades estratégicas das empresas e agilidade em responder a essas mudanças”. A fala de Wilson Leal, diretor de mercado e tecnologia da Seguros Unimed, reflete o momento de transformação que passamos. Desta forma, é inegável que para sobreviver, nos dias de hoje, as empresas devem investir em inovação.
Para ele, a transformação digital acelerada, a concorrência cada vez mais intensa, o surgimento de novos modelos de negócios, a valorização da economia compartilhada, a mudança no perfil e exigência dos consumidores, bem como a influência das novas gerações e das redes sociais, são fatores que evidenciam que a capacidade de inovar vem se tornando um importante ativo. “Isso não somente vale para a diferenciação, mas também para a sobrevivência das organizações. E a capacidade de inovar requer uma mudança da disposição mental dos colaboradores e da organização como um todo, dando espaço para o mindset de crescimento, ao lado do mindset fixo, que continua sendo relevante para as organizações, mas que é insuficiente para fazer frente aos desafios de um mundo em acelerada transformação”, alerta.
Outra forma de acompanhar a tendência, segundo Ricardo Balbinot é investir em APIs, ou seja, aplicações que permitam a conexão direta e segura de novos parceiros com os sistemas das seguradoras, facilitando a geração de mais negócios. “Isso é importante, pois são as ferramentas de vendas digitais que permitem a comercialização de todos os serviços da empresa desde 2018 com 100% de entrega de portfólio de forma digital”, observa.
Já a tendência das Insurtechs em relação às cooperativas é uma realidade. Wilson diz que, ao refletir sobre princípios como a gestão democrática, a participação econômica, a autonomia, a valorização da educação, formação e informação, a intercooperação, além do interesse pela comunidade, o mindset perseguido pelas Insurtechs encontra ressonância com os valores cooperativistas. “As cooperativas podem contribuir significativamente na construção de novos modelos de negócios e de formas de organização de trabalho mais aderentes às demandas da nova economia. A Seguros Unimed é uma empresa que possui o cooperativismo como um valor norteador de seu propósito e estratégia. Quando observamos atentamente os princípios do cooperativismo, percebemos o quanto esses são aderentes com o mindset de crescimento, propagado pelas Insurtechs”.
No entanto, as seguradoras tradicionais podem aprender com agilidade das startups em capturar as necessidades e sugestões de seus clientes, trabalhar a experimentação, aprender com seus erros e acertos, implementando melhorias de forma incremental (sprints), além de dar um retorno rápido para o mercado vem influenciando as seguradoras para que elas revisem seus processos e estruturas. “Nem sempre as Insurtechs irão concorrer com seguradoras. Ao contrário, ambas irão atuar de forma complementar e sinérgica, promovendo soluções integradas que valorizem as particularidades e especialidades de cada parte, proporcionando experiências cada vez mais satisfatórias para os clientes e contribuindo com a disseminação da cultura do seguro”, finaliza.
Marcelo Blay, VP de Seguros da Creditas e CEO da Minuto Seguros, conversou com a MundoCoop sobre o seu crescimento e tendências do setor. Confira!
O que tem a dizer sobre o novo cenário enfrentado pelas Insurtechs, que se amplia a cada dia, e como se posiciona no mercado?
A chegada dos seguros no mundo das fintechs, conforme aconteceu com a Minuto Seguros na sua fundação, em 2011, e se unindo à Creditas, em 2021, ajuda na oferta de uma experiência mais ágil e inovadora para o cliente. Com o uso da tecnologia, é possível ampliar a gama de produtos a um preço justo para o cliente. Por mais que o processo de contratação de seguros online seja uma tendência, o mercado indica que não podemos deixar o cliente sem um apoio, caso tenha dúvidas no processo de compra e no pós-venda. Por isso, o atendimento humanizado ainda vai ser necessário, por mais digital que o processo de venda seja.
Por que as Insurtechs são consideradas revolucionárias para o setor e o que oferecem de diferenciais e benefícios?
O surgimento das Insurtechs, com toda a tecnologia e digitalização que trazem para o mercado, pode ser visto como uma oportunidade para melhorar processos e operações, oferecendo um atendimento ainda mais ágil e personalizado ao cliente. Hoje, é possível que um cliente contrate um seguro pelo celular, por exemplo, fazendo com que sua experiência de compra seja ainda mais positiva. É importante destacar que o surgimento e o desenvolvimento das Insurtechs não configuram um caminho para o fim do processo tradicional de contratação de seguro, por meio dos corretores e seguradoras. Na Minuto Seguros, trabalhamos em parceria com 17 seguradoras para oferecer ao cliente a melhor proposta de produto para atender suas necessidades, estamos sempre trabalhando em conjunto com a seguradoras para o desenvolvimento de produtos e otimização de processos, garantindo uma melhor distribuição maior penetração de mercado.
Como será o mercado de seguros e Insurtechs no futuro e quais os principais desafios?
O mercado está em constante evolução, por isso, é importante observar o setor e o que as empresas estão fazendo de diferente na oferta dos produtos. O portfólio de produtos hoje é muito grande, ao mesmo tempo em que a população segurada ainda é muito pequena no Brasil. Para o futuro do mercado, podemos esperar uma maior presença da tecnologia no processo de compra, tudo isso sem esquecer do atendimento humanizado, fator essencial na fidelização do cliente. O tradicional e o digital vão andar juntos na evolução dos seguros, por isso, é importante encontrar um caminho de integração entre os dois para que o setor cresça de forma saudável.
Como essa tendência cria desafios e oportunidades para as cooperativas?
Dadas as especificidades e necessidade de especialização que o mercado de seguros demanda, a grande oportunidade para as cooperativas seja estabelecer uma aliança estratégica com Insurtechs já consolidadas. É muito desafiador e requer muito investimento de tempo e de capital para criar uma operação de seguros dentro de casa, além de haver a necessidade de atendimento dos aspectos regulatórios exigidos pela SUSEP.
Acha que as Insurtechs e o modelo adotado por elas irá influenciar também as seguradoras?
As Insurtechs trabalham em conjunto com as seguradoras, fazendo com que os produtos ganhem maior capilaridade no mercado e que os processos de compra sejam facilitados para uma melhor experiência do cliente. Acredito que trabalhar com a presença da tecnologia é inevitável para qualquer setor, e não é diferente para os seguros.
Por Leticia Rio Branco/Redação MundoCoop – Matéria publicada originalmente na edição 109 da Revista MundoCoop