O mundo pós-pandemia trouxe um novo modelo de trabalho. Impedidos de circular normalmente por conta do novo coronavírus, muitos trabalhadores de todo os locais do globo se viram obrigados a trabalhar de casa. Empresas dos mais diversos setores também tiveram que se adaptar ao novo cenário: fecharam seus escritórios e o home office foi a salvação para que o mundo dos negócios não parasse.
Segundo uma pesquisa realizada recentemente pela empresa de recrutamento Robert Half, a mudança foi inevitável: 55% das organizações buscaram flexibilizar horários de trabalho por causa da pandemia, enquanto 51% delas tiveram que aumentar a frequência da comunicação entre seus colaboradores, com o objetivo de promover uma melhor integração e eficiência das equipes, que tiveram que ficar de maneira remota.
Portanto, se por um lado o home office mudou a maneira de pensar sobre o modelo de negócios em si, por outro, sem perder tempo com o deslocamento para o trabalho, os funcionários passaram a trabalhar mais e mais. Afinal, o horário de trabalho aumentou, causando mais estresse pelo excesso de horas extras – isso sem falar em terem que conciliar o emprego com as atividades de casa e da família, o que não é nada fácil – e o chamado burn out, quando simplesmente o funcionário “pifa”.
Diante deste cenário, as empresas passaram a investir na saúde mental de seus funcionários, através de programas para melhorar sua qualidade de vida. Palestras sobre o assunto e profissionais da área foram disponibilizados com o objetivo de cuidar, e reter, seus talentos. Além disso, as companhias passaram a procurar alternativas para que seus colaboradores se tornassem mais felizes e bem aproveitados nas funções ocupadas. Uma tarefa difícil, pois existe uma pergunta que acompanha esse momento, sem sombra de dúvidas: como solucionar a lacuna entre toda essa tecnologia que está à disposição e a satisfação de seus colaboradores? Como os aparatos tecnológicos podem otimizar o trabalho repetitivo, tornando a vida do funcionário melhor e mais produtiva?
A resposta está num estudo recente da empresa de hiper automação Laiye, realizado em diversos países – inclusive no Brasil –, que aponta como as organizações estão lidando com a força de trabalho humana pós-pandemia. De acordo com o estudo, há uma lacuna entre trabalhadores e tecnologia, o que resulta em alto desgaste dos funcionários (52%); alta rotatividade (38%); baixa satisfação (45%); baixa produtividade (34%); baixa formação (29%); pouco engajamento (25%); e insatisfação (18%). A pesquisa revela, ainda, que 50% dos empregadores dizem que tarefas de escritório chatas e ineficientes são o maior obstáculo à produtividade. Isso é particularmente grave na Europa, onde 56% citam isso, seguido por 51% nos EUA e 43% na APAC.
Para Guanchun Wang, presidente e CEO da Laiye, a tendência de mudar o modelo de negócios vem da pandemia, que despertou nas pessoas o interesse por trabalhar de qualquer lugar, e também em realizar trabalhos que sejam mais satisfatórios. “Cada vez mais as pessoas querem ser criativas e utilizar suas ideias para novos trabalhos. As atividades repetitivas têm as deixado insatisfeitas com suas carreiras. Esses dados mostram que trata-se de um movimento no mundo inteiro, não apenas regional”, destaca.
Por isso, Wang afirma que as organizações devem investir em tecnologias inteligentes, como a hiper automação, que utiliza a Inteligência Artificial para realizar tarefas repetitivas, deixando os profissionais livres para exercer trabalhos de maior qualidade. “Não é a quantidade de tecnologia que irá preencher esta lacuna, mas a tecnologia certa. O estudo mostra claramente que as pessoas estão insatisfeitas com tarefas administrativas repetitivas e demoradas. Logo, a tecnologia veio para ajudar, não atrapalhar. É necessário buscar um novo vínculo entre o trabalho humano e o digital. A tecnologia baseada em Inteligência Artificial pode realizar todo o trabalho repetitivo e sem graça, deixando o profissional livre para exercer tarefas de maior complexidade, que necessitam do uso de criatividade e pensamento analítico. Ela é uma aliada, pois pode executar as tarefas repetitivas que exigem horas de uma pessoa em frente ao computador. E mais: ela oferece maior liberdade para os colaboradores trabalharem de onde quiserem e executarem tarefas mais inteligentes”, comenta.
No entanto, vale destacar que muitos países já adotavam o sistema de trabalho híbrido antes da pandemia. Agora que o modelo se tornou uma tendência mundial e que com certeza deverá permanecer em muitos segmentos, o desafio de gerenciar equipes e tornar a experiência do cliente melhor é diário.
De acordo com a pesquisa desenvolvida pela Laiye, a China (82%) e as Filipinas (92%) estão lutando significativamente para gerenciar equipes remotas e acompanhar o desempenho. Em resposta às mudanças pós-pandemia no local de trabalho, a França (42%) e o Brasil (43%) encontraram um trabalho mais significativo para capacitar os funcionários. “A tecnologia de hiper automação é baseada em Inteligência Artificial e permite que as empresas processem dados com mais rapidez e precisão. Desta forma, as empresas oferecem melhores experiências para os clientes, permitindo operações comerciais 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem sobrecarregar os funcionários, automatizando processos longos e árduos e, por fim, promovendo o envolvimento, a criatividade e a retenção de habilidades dos funcionários”, opina Guanchun Wang, presidente e CEO da Laiye.
De acordo com a pesquisa, até 2025: 54% dos respondentes acreditam que muitos dos funcionários terão assistentes digitais para aumentar a produtividade geral; outros 44% acreditam que os processos de trabalho em todos os departamentos serão totalmente automatizados e integrados entre trabalhadores humanos e digitais; e 40% pretendem investir fortemente na automação de muitos processos relacionados ao trabalho.
Por dentro da curva de maturidade da automação e tipos de profissionais: o que vem por aí
O estudo da Laiye demonstrou também que existe uma curva de maturidade da automação adotada pelas empresas. Confira o que elas falam sobre o tema:
42% acreditam que a tecnologia está completamente atualizada, totalmente integrada e representa uma parte essencial do sucesso do negócio
32% consideram que trata-se de um investimento valioso, mas que não dá uma vantagem competitiva
18% falam que o investimento nunca cumpriu sua promessa e precisam de uma substituição
7% acham que está desatualizado e precisa atender às novas expectativas de negócios
0% não tem tecnologia de automação da força de trabalho
Guanchun Wang, presidente e CEO da Laiye, acredita que a resposta está na construção de uma relação simbiótica entre o trabalho humano e digital, que capacita os funcionários a melhorar seus próprios trabalhos, automatizando as tarefas vitais, mas demoradas e de baixo valor. O novo modelo para o futuro do trabalho é o Work Execution System. “Uma maior automação e a capacidade de gerenciar remotamente capacita os funcionários a melhorar o trabalho com as ferramentas certas e manter o aprendizado contínuo. Para tornar isso possível, as empresas precisam de um novo modelo de trabalho sustentável, que permita que os humanos estejam no circuito e tenham um maior nível de controle em torno da experiência de clientes e funcionários, custos e novas tecnologias”, observa.
DEPOIMENTOS DAS COOPS
COPLACANA
Cooperativa aposta em tecnologia e bom ambiente para colaboradores
Gerente corporativo de Desenvolvimento Humano e Organizacional defende hiper automação como forma de melhorar processos
Marcos Soeiro, gerente corporativo de DHO (Desenvolvimento Humano e Organizacional) da Coplacana, afirma que a lacuna entre trabalhadores e tecnologia sempre existiu e, com o passar do tempo, tem diminuído. “É notório que a novas tendências de tecnologia estão mais focadas em pessoas e em suas experiências, diminuindo os desgastes, alta rotatividade e aumentando a produtividade e engajamento”.
Para ele, em relação à integração e engajamento, diversos fatores devem ser avaliados. “Lançaremos em breve um aplicativo que se assemelha a uma rede social corporativa com o objetivo de gerar engajamento e fazer com que a comunicação transcenda qualquer nível hierárquico. No entanto, quando falamos de IoT (Internet das Coisas), conjunto de tecnologia integrada gerando dados e informações, isso não atrapalha o desenvolvimento, mas claro que exige mais desenvolvimento e atualização”, observa ele, acrescentando que plataforma segue os pilares da Comunicação Interna 4.0. “Segundo a presidente e fundadora da Ação Integrada, ‘quanto mais tech são as ferramentas, mais touch tem que ser o relacionamento e a comunicação com colaboradores’. Essa é a essência”, completa.
Outro projeto importante da cooperativa é a implantação do #coplacanacomvc (Cooperação, Orgulho e o Melhor para você), que tem como objetivo apoiar a Coplacana na construção da estratégia de Marca Empregadora. “Já no que tange Desenvolvimento Humano Organizacional, recentemente lançamos a Universidade Coplacana, que concentra e potencializa todas as iniciativas de desenvolvimento oferecidas pela cooperativa. Acreditamos que as ferramentas digitais só têm a agregar, porém é preciso investir nas pessoas, que são a chave para o sucesso de qualquer empresa. Preparar os colaboradores, ofertando treinamentos e capacitação, é a melhor maneira de alavancar uma organização”, explica.
Soeiro diz ainda que a base da Coplacana está no bom ambiente, bem como no diálogo aberto e transparente, favorecendo a colaboração entre todos. “A modalidade de trabalho deve ser definida de acordo com a necessidade de cada negócio. Independente disso, buscamos promover o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, gerando o bem-estar e a saúde emocional dos colaboradores”, pontua.
Já para o futuro, o gerente corporativo de DHO revela não saber quando virá uma nova pandemia, no entanto, a Covid-19 trouxe grandes aprendizados. “Percebemos a necessidade de revisão de processos, tecnologia que permite mais flexibilidade e trabalhar a autorresponsabilidade de nossos colaboradores. E investir em tecnologias de hiper automação faz com que sobre tempo para o colaborador planejar e criar estratégias, fazendo com que os gestores possam se dedicar ainda mais à análise de dados. Isso é o que diferencia o humano das máquinas”, conclui.
UNICRED DO BRASIL
Ao ser questionado como a pandemia afetou direta e permanentemente a força de trabalho global, bem como a sua evolução e futuro, Vladimir Duarte, Diretor Executivo da Unicred do Brasil, diz que “a digitalização e aceleração de processos, a adoção de meios virtuais e de alternativas online se tornaram essenciais para a manutenção dos negócios – e muitas empresas pereceram justamente por não se adaptarem e investirem em inovação e tecnologia”. Diante disso, ele afirma ser indispensável manter alinhado o crescimento da organização ao desenvolvimento dos colaboradores – algo que, no cooperativismo, é praticado desde suas origens.
Segundo o executivo, a tecnologia na UNICRED é usada como um meio para facilitar o desenvolvimento dos colaboradores, não atrapalhar. “Para as corporações, há a necessidade de compreensão da inovação como uma aliada, para solucionar desafios comuns ao período em que vivemos, de grandes transformações digitais, e permitir que esta evolução ocorra em consonância ao crescimento das instituições e de seus colaboradores”, observa.
Pensando nisso, a Unicred investe na Unicoop, Universidade Cooperativa da Unicred cujo objetivo é estimular a aprendizagem a partir de trilhas e categorias conectadas a fluidez de carreira dos seus colaboradores. Duarte completa, afirmando que “a novidade atende a demandas crescentes de qualificação decorrentes do crescimento contínuo da cooperativa e de nossa evolução técnica e tecnológica, com a intenção de que o usuário seja o protagonista do seu autodesenvolvimento. A cultura de aprendizagem contínua é fundamental para a evolução profissional, porque não há crescimento sem inovação, e, para poder inovar, a busca por conhecimento precisa ser constante.”
O home office e o modelo híbrido de trabalho também fazem parte da realidade da cooperativa. “Hoje, segundo pesquisa da Bain & Company, 30% dos trabalhadores preferem atuar remotamente e 33% optam pelo modelo híbrido – o que demonstra que há diferenças no perfil de cada colaborador e que é possível conquistar excelência em suas atuações conhecendo suas preferências dentro das possibilidades e interesses de cada empresa. Na Unicred possuímos 750 colaboradores, e destes em torno de 500 no modelo híbrido, e o restante em home office.
Para o futuro, a Unicred considera com mais rigor a qualidade de vida dos funcionários e o estímulo à educação continuada – com investimento no desenvolvimento de seus colaboradores. “Também atuamos dedicados ao estudo e a implementação de projeto de estrutura de cargos, prezando pelo ganho de escala e eficiência. Igualmente no desenvolvimento de nossas lideranças, primando por uma gestão inclusiva e colaborativa, assim como na implementação de plataformas de tecnologias de gestão de pessoas”, explica.
Já em relação à hiper automação, o executivo concorda que ela tem se apresentado como uma das principais tendências em tecnologia e inovação para as empresas, justamente pela possibilidade de reduzir tempo gasto com atividades mais operacionais e repetitivas, oferecendo mais tempo para a dedicação de colaboradores em outras tarefas. “É importante avaliar o caso de cada empresa para se valer das tecnologias e ferramentas mais assertivas para que, alinhadas às operações de colaboradores, essa evolução ocorra sem trazer prejuízos para as quais as instituições ainda não estão preparadas. Assim, é essencial termos foco e planejamento para a adoção destes processos para tirar o melhor proveito de tais tecnologias, fazendo com que oportunidades e negócios sejam conquistados e melhorados justamente por essas experiências – mantendo o ecossistema empresarial equilibrado e em crescimento”, finaliza.
Por Leticia Rio Branco – Redação MundoCoop
Matéria publicada originalmente na edição 109 da Revista MundoCoop