Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) temos hoje no país mais de 29 milhões de pessoas acima de 60 anos. E as perspectivas são de que esse público aumente por conta da expectativa de vida que pulou de 77 para mais de 80 anos. Durante 10 anos, esse número aumentou em 2,4 anos.
A especialista Eliane Kreisler, Consultora de Gestão e Carreiras 50+ conta que, de acordo com estudos da Organização das Nações Unidas (ONU), existe a projeção de que mundo atinja 1,4 bilhão de pessoas acima de 60 anos até 2030. Embora essa seja uma parcela da população grande e bem ativa, mais de 25%, ainda existe muito preconceito em relação a ela.
Segundo pesquisa da consultoria HYPE50, 39% dos profissionais brasileiros acima de 55 anos se sentem excluídos ou descartados do mercado de trabalho. Esse fato acontece porque muitas empresas ainda resistem em contratar profissionais acima dos 50 anos, mesmo eles apresentando mais conhecimento, preparo e sabedoria. “O mercado de trabalho ainda vê com preconceito a questão etária, sendo que a maior parte das empresas ainda tem uma cultura “jovemcêntrica”. Isso já é observado na fase inicial dos processos seletivos, o etarismo não é mencionado, mas ocorre de forma velada, onde recrutadores descartam os currículos de candidatos acima de 50, sem ao menos entrevistá-los”, explica Kreisler.
Nem Eliane escapou do etarismo, que se refere a estereótipos, preconceitos e discriminações direcionados às pessoas com base na idade delas. Ela conta que há 6 anos, aos 56 anos, havia se aposentado e queria continuar trabalhando. Havia terminado mais uma pós-graduação, estava atualizada, tinha experiência e se adequava aos perfis de vagas que concorria, mas não era chamada para a fase inicial do processo de recrutamento.
Eliane Honel, Ativista da longevidade, Consultora e Palestrante explica que etarismo, Ageismo ou Idadismo é a discriminação contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos associados à idade. Ela acrescenta que o etarismo é uma forma de preconceito relacionado à idade, que pode incluir desde atitudes individuais e políticas até ações institucionais.
Muitos desafios
Lidar com o etarismo tem sido um dos grandes desafios desse público. Ele afeta todas as esferas sociais e no mundo dos negócios isso não é diferente.
Silvio Sallowicz, CEO da Duo & Ecco explica que quando pensamos em preencher uma posição de trabalho, é preciso ter em mente que a questão da idade jamais deveria ser um filtro. “Afinal, uma empresa busca pessoas talentosas e que possam somar ao time. Inclusive, em um mercado cada vez mais competitivo, o profissional que reúne décadas de conhecimento e bagagem, às vezes com alto grau de especialização, vai agregar demais no dia a dia da organização”, lembra Kreisler.
Nessas horas o papel do RH nas empresas e cooperativas se tornam fundamentais para absorver e inserir os profissionais com mais de 50 anos. “O melhor caminho para isso é transformando a cultura, promovendo a conscientização de todos os profissionais, por meio de programas consistentes e contínuos de diversidade. O desenvolvimento de pessoas, não pode ficar restrito à idade, deve ser permanente, tanto para jovens quanto aos profissionais mais experientes”, indica Eliane Kreisler.
Uma das formas de se fazer isso é por meio da intergeracionalidade, em que as equipes de diversas gerações trabalham em projetos, geram inovações e resultados coletivamente.
No processo de seleção, Honel conta que algumas ações têm sido feitas por empresas para impedir o etarismo. Uma delas é eliminar a data de nascimento nos currículos ou questionários de contratação. “Além de promover grupos de afinidades internos e fomentar rodas de conversas sobre os temas, incluindo depoimentos de colaboradores. A prática de mentoria também é importante para fomentar a harmonia de convívio entre colaboradores de diferentes gerações” afirma.
Entretanto, as mudanças ainda ocorrem lentamente, inclusive nas empresas, alinhadas às regras ESG (Environmental, Social and Governance), que têm buscado tratar as questões de Diversidade e Inclusão. “Em algumas já há movimentações sobre o pilar de orientação sexual. Mas, no quesito idade, ainda são poucas as ações. Mesmo sendo a idade o pilar de diversidade mais democrático de todos pois. Independente de raça, sexo, orientação sexual, ter ou não uma deficiência, todos vamos envelhecer”, lembra Eliane Honel.
Em contrapartida, os estudos são favoráveis às contratações de profissionais com mais de 50 anos. Um realizado pela BCG (Boston Consulting Group), How and Where Diversity Drives Financial Performance (Como e Onde a Diversidade Impulsiona o Desempenho Financeiro*) mostra que existe uma relação estatisticamente significativa entre a diversidade e as receitas de inovação e desempenho. Ele contou com mais de 1700 empresas de 8 países (EUA, França, Alemanha, China, Brasil, Índia, Suíça e Áustria) e a diversidade foi analisada em cargos gerenciais com relação ao gênero, idade, nacionalidade, carreira, experiência industrial e educação. “Ambientes multigeracionais são plurais e favorecem a inclusão, em todos os seus pilares, contribuindo para a melhora do clima organizacional”, finaliza Honel.
6 motivos para você contratar um profissional com mais de 50 anos
Preocupado com o tema, Silvio Sallowicz desenvolveu 6 qualidades que os profissionais com mais de 50 anos oferecem ao mercado.
1. Mais estabilidade: Os profissionais maduros, em geral, não são tão vulneráveis frente às ofertas do mercado enquanto os trabalhadores sêniores estão mais focados na estabilidade. Isso reflete em maior retenção de talentos e em economia para a empresa, já que treinar novos colaboradores é sempre oneroso.
2. Profissional mais completo: Pare e pense no conjunto de habilidades mentais que você busca em um ótimo colaborador: capacidade de gerenciamento, senso de liderança, comunicação eficaz e, sobretudo, empatia – todas qualidades que se lapidam à medida em que envelhecemos.
3. Colaboração em alta: Os dias de ego inflado ficaram para trás, pois os funcionários com mais de 50 anos são mais maduros, tem mais sabedoria, inteligência emocional e experiência de vida. E sabemos que todos esses são atributos importantes no ambiente de trabalho em constante mudança dos dias atuais.
4. Liderança mais eficaz: Sucessos e equívocos a partir das vivências laborais fazem com que o profissional mais velho se torne uma forte figura de liderança. Tudo o que ele passou faz com que tenha condições de agir de modo mais certeiro, dando direcionamentos assertivos para o seu time. Isso impacta positivamente vários processos da empresa, desde a valorização da diversidade até as tomadas de decisões estratégicas.
5. Ótimos contatos: Por acumularem anos de carreira e diversas experiências profissionais, os colaboradores seniores naturalmente conhecem mais pessoas, de diferentes setores e empresas. Especialmente na área comercial, esse é um importante diferencial competitivo. Seu networking rico pode gerar importantes conexões!
6. Dedicação acima da média: A motivação para o trabalho é diferente para o colaborador com mais de 50 anos. Ele geralmente está em busca de uma colocação que contribua para a sua manutenção financeira, mas também interessado em prestar o melhor serviço possível. Esses profissionais, muitas vezes, já estão com outras áreas da vida mais consolidadas: formaram família, já concluíram os estudos, boa parte das conquistas materiais foram feitas. Por isso conseguem trabalhar com mais foco e empenho.
Por Priscila de Paula – Matéria exclusiva publicada originalmente na Revista MundoCoop – Edição 111