COLUNA ECONOMIA & COOPERATIVISMO
O Brasil voltou a ser o paraíso mundial dos juros altos. É difícil encontrar atualmente algum país economicamente relevante que remunere os investidores com taxas tão atraentes. Isso é ruim para a nossa economia real, pois encarecem o consumo e o investimento, mas se trata de uma ótima notícia para quem tem uma vida financeira equilibrada.
A estratégia vencedora atual é investir em renda fixa, com ganhos generosos e baixíssimo risco. A Bolsa de Valores oferece oportunidades, mas é preciso ter cautela num contexto político de transição. Investimentos no exterior sempre são uma forma de proteção, mas os juros em alta lá foram tendem a desaquecer a economia e prejudicar o desempenho das ações estrangeiras.
Se a recomendação é aumentar aportes em renda fixa, precisamos entender quais são as opções. Existem basicamente três ativos: pós-fixado, prefixado e atrelado à inflação. É possível investir em títulos públicos por meio do Tesouro Direto (Tesouro Selic, Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA+, respectivamente) ou em papéis privados, que, na prática, sempre pagam mais.
Por definição, o menor risco é o do título público, considerado como risco soberano. Mas dá para investir em papéis privados com risco zero. Existe no mercado o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que garante investimentos de até R$ 250 mil por CPF em cada instituição financeira. No cooperativismo, há o Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), que oferece as mesmas garantias.
Se os papéis privados pagam mais, vamos olhar para as melhores opções pós-fixadas. Os grandes bancos costumam oferecer para a maioria dos clientes comuns Certificado de Depósito Bancário (CDB) da própria instituição com remuneração que varia de 85% a 100% do CDI. Para simplificar, CDI equivale à taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75% ao ano. Repare: na melhor das hipóteses, um investidor comum consegue igualar e remuneração que teria num Tesouro Selic, que paga 100% da taxa básica de juros.
Outras casas de investimentos que se popularizaram durante a pandemia oferecem CDBs de bancos menores que pagam até 120% do CDI. São taxas, portanto, mais atraentes do que as ofertadas pelos grandes bancos. Mas se você olhar na sua cooperativa, provavelmente vai encontrar um Recibo de Depósito Cooperativo (RDC), que também oferece 100% do CDI ou até mais.
A diferença é que o cooperativismo tem uma característica única no mercado. O cooperado é um associado e não um cliente. Significa que ele recebe participação nos lucros anuais, também conhecida como sobras. A lógica é muito simples: quanto maior o relacionamento dos associados com a cooperativa, maior será a fatia que ele vai ganhar na distribuição das sobras.
Vou citar um caso real de um associado de uma grande cooperativa de Goiânia: ele investiu num RDC em 2021 que pagava 100% do CDI. Além dessa remuneração, ele recebeu participação das sobras referentes ao volume investido, que transformaram a remuneração, na ponta do lápis, em 127% do CDI. Como ele tinha um relacionamento muito amplo com linhas de crédito e outros produtos na cooperativa, ele ganhou sobras extras que, no final das contas, aumentaram a remuneração dele para 140% do CDI, percentual que não atingiria em nenhuma instituição financeira.
Portanto, antes de cair no conto do gerente do banco ou na propaganda mágica de alguma corretora ou banco digital, confira as opções que a sua cooperativa já lhe oferece. Converse com o seu assessor sobre como funciona a distribuição das sobras na sua cooperativa e faça bons investimentos!
*Luís Artur Nogueira é economista, jornalista e palestrante. Atualmente, é comentarista econômico e apresentador da Jovem Pan News e colunista da ISTOÉ Dinheiro.
Coluna exclusiva publicada originalmente na edição 109 da Revista MundoCoop