COLUNA ECONOMIA&COOPERATIVISMO
Neste mês de fevereiro, ainda sob o som das baterias de escolas de samba e de trios elétricos, tive o privilégio de ir a Holambra (SP), a capital nacional das flores. Convidado pela Cooperativa Veiling Holambra, fiz uma palestra econômica no evento “Florescer 2024”, no qual pude me aprofundar no mercado brasileiro de flores e plantas ornamentais. Confesso que, até então, era um setor do qual eu tinha pouco conhecimento. Fiquei impressionado não apenas com os números superlativos, mas também com a relevante presença do cooperativismo, que desfruta de ganhos de escala nesta cadeia produtiva.
O Produto Interno Bruto (PIB) do setor totalizou R$ 19,9 bilhões em 2023, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor). Cerca de 40% deste valor é gerado no Estado de São Paulo. Nos últimos sete anos, o setor vem registrando crescimentos anuais que variam de 7% a 15%, ou seja, desempenho muito superior ao da economia brasileira.
O mercado interno é o principal destino de flores e plantas ornamentais colhidas no Brasil – apenas 2,5% da produção é exportada. O maior segmento é o de decoração, que representa 30% do PIB setorial. Autosserviço tem 21%; Paisagismo, 20%; Floricultura, 17%; Atacado para o consumidor final, 3%; e outros segmentos, 9%.
O aumento contínuo da renda dos brasileiros é fundamental para que o consumo de flores cresça no País. Na cabeça da maioria dos consumidores, se trata de um produto supérfluo, que é facilmente cortado da lista de compras quando a situação financeira familiar aperta. Por isso, o consumo per capita nacional de flores é de apenas R$ 97,89 ao ano e fica geralmente restrito a datas comemorativas, como Dia Internacional da Mulher, Dia das Mães e Dia dos Namorados, além de eventos corporativos e festas de aniversário e casamento.
Um dos grandes desafios do setor é valorizar o seu próprio mercado, agregando valor com ainda mais qualidade, e mudando a percepção de muitos consumidores de que as flores são caras. Nos supermercados, por exemplo, é preciso conquistar espaços nobres nas gôndolas com a devida visibilidade que esses produtos merecem. O acesso a crédito barato é outro ponto importante num segmento que precisa constantemente de capital de giro para a compra de insumos e gastos com transportes. Vale lembrar que o cultivo da maioria dos tipos de flores e plantas ornamentais ocorre o ano inteiro, em vários ciclos de produção.
Nos últimos anos, o setor, que reúne 8.300 produtores e gera 272 mil empregos diretos, vem agregando cada vez mais tecnologia em sua cadeia produtiva. Os maiores investimentos e ganhos de produtividade estão nas cooperativas, como o Veiling Holambra, com mais de 450 cooperados, e a Cooperflora, com cerca de 90 associados. Claro que eu já sabia que o cooperativismo brilhava intensamente no agronegócio como um todo, incluindo milho, soja, trigo, algodão, arroz etc. A surpresa positiva deste carnaval, para mim, foi ver o mesmo brilho no mercado de flores e plantas ornamentais.
Por Luís Artur Nogueira, economista, jornalista e palestrante. Atualmente é colunista da revista ISTOÉ Dinheiro e da MundoCoop
Coluna exclusiva publicada na Revista MundoCoop edição 116