COLUNA COOP É TECH, COOP É POP
Se você já ouviu falar da aplicação descentralizada Go! (uma dApp desenvolvida em cima do Blockchain), sabe que foi desenvolvido em parceria entre Enjin e Health Hero e que coleta dados de atividade e bem-estar por meio de uma integração com dispositivos de saúde e aplicativos como Apple Health, Google Fit e Fitbit. Com base nesses dados, o aplicativo gera NFTs exclusivos para cada usuário, personalizado com suas características de saúde e atividade.
À medida que os usuários inserem mais estatísticas de atividade e parâmetros de bem-estar, o NFT correspondente adquire novas características e recursos, tornando-o ainda mais exclusivo e raro. Os NFTs podem finalmente ser negociados e trocados por Enjin Coin (ENJ) no Enjin Marketplace.
Isso cria uma situação ganha-ganha: do lado da empresa, eles têm mais acesso aos dados, o que é fundamental para eles, e do lado do usuário, isso determina uma maneira clara de monetizar seus dados de forma protegida. Incrível.
Isso já nos faz entender que no cooperativismo existe uma grande oportunidade de ir além do hype dos NFTs (que em parte já esfriou, com a grande queda na avaliação de NFTs na segunda metade de 2022), e usar NFTs para proteger e compartilhar melhor dados, propriedade intelectual (IP) e conhecimento, e impulsionar a colaboração? É exatamente sobre isso que vamos falar neste artigo.
Vamos começar refrescando nossa memória e lembrando o que são NFTs. Os Nun-fungible tokens (ou NFTs) são fundamentalmenta comprovantes de propriedades, ou tokens, no blockchain relativas a um ativo, fisico ou digital.
Os NFTs são compostos de código de software chamados “smart contracts”, que contém detalhes do(s) ativo(s) digital(is) ou físico(s) subjacente(s) ao(s) qual(is) o NFT se relaciona, e também as regras e direitos ligadas ao NFT (por exemplo, qual porcentagem de valor o criador do NFT recebe de qualquer valor de revenda subsequente).
O valor em um NFT é derivado da escassez por ser “não fungível”, o que significa que o token não pode ser substituído por um token idêntico.
Sei que geralmente associamos o conceito de NFTs a obras de arte, Mas vamos por um momento além da arte e vamos deixar claro que os NFTs podem existir para qualquer arquivo digital, como áudio, vídeos, skins em videogames e outras formas de conteúdo. Inclusive dados! E é aqui que as coisas ficam realmente interessantes. Pense no conflito atual que temos entre compartilhamento de dados e privacidade: ele pode realmente ser resolvido por meio de NFTs e tokenização.
Deixe-me explicar melhor: os dados são a mercadoria mais preciosa do século 21, mas nós geralmente os distribuímos de graça, como clientes de negócios e usuários da Internet. Quando as midias sociais começaram a crescer, o negócio inicialmente parecia muito bom para todo mundo: conseguimos entretenimento gratuito ao custo de assistir alguns anúncios personalizados.
Mas o tempo revelou como esses ganhos são principalmente unilaterais, que beneficiam principalmente as Big Techs, que acumulam lucros impressionantes com os vestígios de nosso comportamento digital.
É simples, mas extremamente rentável. As empresas coletam informações e as vendem, ao ponto que o mercado global de brokerage de dados é estimado chegar US$ 345 bilhões até 2026.
Mas os NFTs podem vir e resolver esse problema. Ao aplicar um selo digital imutável aos dados que emitimos, os NFTs podem ser a ferramenta privada que usamos para rastrear, gerenciar e vender nossos dados, caso queiramos. Os NFTs colocam o poder de escolha nas mãos de cada indivíduo, permitindo que eles criem uma lógica programável que define o preço e a natureza de sua oferta de dados. Por exemplo, posso oferecer meus dados de navegação on-line, meus dados médicos ou dados de uso de serviços domésticos para empresas que ofereçam algo em troca, desde recompensa financeira até uma maior personalização da experiência.
Vejamos um ótimo exemplo: dados de saúde. Você prefere ter total privacidade de dados de saúde ou poder compartilhar dados de saúde com hospitais e médico, se em troca você obter uma melhor prevenção, ou até mesmo monetizar seus dados? Eu escolheria o compartilhar meus dados, fato que é possível graças aos NFTs!
Embora muito sobre o NFT na área da saúde ainda seja em teste neste momento, existem algumas startups que estão explorando esse potencial. Além do dApp Go!, uma dessas empresas é a Aimedis, que possui um marketplace de NFT onde os pacientes podem participar de transações envolvendo seus dados de saúde.
Mesmo que com enorme potencial, temos que admitir que não é fácil realizar essa virada de chave : no entanto, existem vários obstáculos potenciais para a adoção em massa de NFTs em um futuro próximo, especialmente na área da saúde. Tal como está, o blockchain funciona de forma bastante ineficiente, com grandes quantidades de energia necessárias para transações, e isso está ligado às emissões significativas de gases de efeito estufa, que contribuem para as mudanças climáticas. Alternativas para a criação de NFT estão em andamento porém, e podem usar uma fração do poder de computação atualmente envolvido em suas transações.Depois, há a questão de saber se as empresas que oferecem serviços digitais de saúde realmente desejam adotar a tecnologia. Eles podem não se sentir particularmente atraídos pela ideia de compartilhar seus lucros com os pacientes, de quem tradicionalmente lucravam, e não o contrário.
De forma geral, porém, o potencial no cooperativismo existe e devemos trabalhar para aproveitar esse grande poder que NFTs trazem para a proteção de dados, e melhores experiências para nosso cooperado.
Por Andrea Iorio, palestrante, escritor best-seller e especialista em Transformação Digital e Inovação
Coluna exclusiva publicada na Revista MundoCoop edição 110