Desvendar as tendências e discutir o amanhã das cooperativas de crédito. Estes, foram os principais objetivos do CoopTalks Crédito 2022. Em sua terceira edição, o encontro – que já faz parte do calendário de eventos do sistema de crédito cooperativo – celebrou o Dia Internacional do Cooperativismo de Crédito trazendo grandes nomes do mercado para falar sobre o futuro do setor e da sociedade como um todo.
Em uma jornada de dois dias e quase 10 horas de conteúdo ao vivo e ininterrupto, o CoopTalks Crédito promoveu intensos debates sobre como cooperativismo de crédito pode seguir adiante. Temas como governança, gestão, inovação, sustentabilidade, propósito e outros, foram protagonistas das falas de 28 especialistas e personalidades do mercado, que puderam compartilhar um pouco de suas trajetórias, à medida que criavam um panorama sobre o papel das cooperativas de crédito na contemporaneidade. Em sua terceira edição, o CoopTalks Crédito ainda reafirmou o seu papel junto às cooperativas de todo o Brasil, trazendo para essa jornada de conhecimentos 24 empresas e cooperativas parceiras, que contribuíram para o sucesso do encontro.
Transmitido de forma totalmente online e gratuita, o CoopTalks Crédito atingiu um resultado excepcional, atraindo diferentes gerações de cooperativistas, que puderam conferir palestras e painéis de alto nível. Foram 5.945 inscrições, com mais de 9 mil visualizações e 3.391 pessoas acompanhando, debatendo, comentando e compartilhando suas vivências, ao vivo.
Confira o que rolou nesta terceira edição!
PRIMEIRO DIA
Com apresentação do diretor da MundoCoop, Luís Cláudio Silva, o primeiro dia do CoopTalks Crédito buscou destacar temas como a inovação e a intercooperação no mercado financeiro. Somado a isso, a tecnologia foi um pilar essencial, sendo ela responsável pela intensa transformação que o mercado financeiro vivencia atualmente.
Este novo mercado, do qual as cooperativas já fazem parte, foi destaque logo na primeira palestra, que recebeu o Conselheiro da AB Fintechs, Sergio Costantini. Em “O futuro do mercado financeiro na visão das fintechs”, Costantini falou sobre o crescente mercado de fintechs, que vem remodelando a forma como nos relacionamos com o dinheiro. Em sua fala, reforçou o protagonismo do Estado de São Paulo neste mercado, e a importância das cooperativas para essa corrida em busca do consumidor. “As cooperativas estão lançando ferramentas e processos que podem ser adotados por fintechs e outros players”, frisou.
Partindo para outro tema que vem sendo debatido em todas as cooperativas e negócios do mercado, a Vice-Presidente do Conselho de Administração da Sicredi Pioneira RS, Heloísa Helena Lopes; e a Presidente Executiva do Sicoob Cecres, Taís Di Giorno, participaram do painel “Investir na governança para elevar resultados”. Durante o bate papo, as representantes destacaram o papel da governança nas cooperativas, ressaltando a importância do tema. “A governança é uma grande aliada do cooperativismo, agindo contra o conflito de interesses e colocando cada um em seus papéis”, disse Tais. Para Heloisa, neste processo de firmação do elo entre cooperado e cooperativa, a governança deve estar presente, incluindo todos os associados. “É preciso que haja uma constância na comunicação. Apenas através dessa proximidade é que a noção de pertencimento por parte do associado será maior”, completou.
O mercado financeiro está mudando. E neste novo formato, dar mais poder para o cliente tomar as suas decisões tem sido a grande tendência do mercado. Para trazer um novo olhar sobre as novidades que estão transformando a experiência do cliente, Lorain Pazzetto, Head de Open Finance no Grupo FCamara, trouxe a palestra “A Era dos Dados e Open Finance: o que muda para as cooperativas”. Em sua fala, Pazzetto trouxe o open finance como ferramenta para aumentar a exposição do cooperativismo de crédito, viabilizando novas condições para um maior número de novos associados. “O segredo é posicionamento. A partir do open finance, o cliente olhará de outro modo para as cooperativas e o que elas podem fazer por ele”, frisou.
Olhar para os aspectos social e ambiental é vital para a longevidade das cooperativas. Para entender esse cenário, o painel “Panorama do ESG nas cooperativas de crédito” recebeu Elisa Simão, Sócia e Diretora da PwC Brasil e Ricardo Voltollini, CEO e Fundador da Consultoria Ideia Sustentável. Segundo Elisa, o ESG é um elemento essencial hoje para o mercado, e as cooperativas devem saber trabalhar o tema não apenas nas suas lideranças, mas também entre os cooperados. “Muito da atuação do ESG virá das lideranças, através das estratégias da cooperativa. Neste contexto, é vital que os cooperados entendam a importância do tema e de aplicá-lo”, salientou. Voltollini, por sua vez, colocou o tema como pilar para as cooperativas, sendo essencial para garantir a longevidade do setor. “As cooperativas devem colocar diversidade e inclusão como estratégia, ou serão irrelevantes para a geração atual”, completou.
Já na reta final do primeiro dia do CoopTalks, o palco virtual recebeu o painel TECH&COOP, Michel Varon, CEO da VADU e Luciano Fantin, Sócio Líder do Segmento de Fintechs e Meios de Pagamento da Riskfence Consultoria, destacaram o tema “Tendência e Inovação no sistema financeiro”. Segundo Varon, no contexto atual, o mercado se volta ao cliente. Com muitos players, o cliente espera um novo tipo de atendimento, que atenda às suas demandas. “É preciso garantir o bom atendimento ao cliente, destacando a cooperativa como uma alternativa maior e melhor que os concorrentes”, frisou. Neste cenário cada vez mais competitivo, Fantin ressaltou o posicionamento estratégico para as cooperativas, buscando olhar para além do futuro próximo. “O debate do posicionamento estratégico deve se dar de forma efetiva, sejam as cooperativas pequenas ou maiores. Olhar para o futuro, sem esperar resultados imediatos, é a chave para um sucesso duradouro”, completa.
Concluindo o ciclo de palestras, Marcelo Mafra, Executivo de Negócios e Relacionamento da Tecban, trouxe a palestra “Os pontos de atendimento do Futuro”. Em sua fala, Mafra mostrou o avanço da digitalização financeira, com uma maior integração entre diferentes mercados, facilitando a movimentação para os clientes. Somado a isso, em sua fala apresentou algumas das novas tendências de mercado, como a economia compartilhada e a automatização dos processos.
Diálogos de Intercooperação
O cooperativismo de crédito é uma força nacional. Tal poder de transformação vem através do trabalho de mais de 13,9 milhões de cooperados, que vivem o que é fazer parte de uma cooperativa. Para trazer um olhar minucioso sobre o atual mercado do ramo crédito e debater os temas de interesse de todo o setor, o painel Diálogos de Intercooperação promoveu uma troca de experiências sobre qual o papel das cooperativas na sociedade brasileira.
Com apresentação de Silvio Giusti, Consultor da DGRV, o painel contou com a presença de cinco gestores de cooperativas: Walmir Segatto (Sicoob Credicitrus), Vanildo Leoni (Viacredi), Tiago Schmidt (Sicredi Pioneira), Liora Gonik Dias (Unicred Caminho Novo) e Rosane Dalsoglio (Cresol Planalto Serra).
Para iniciar o painel, o potencial de impacto das cooperativas foi tema da primeira rodada de conversa. Para Rosane, o ramo crédito pode ser ainda mais relevante a partir da intercooperação, principalmente diante do avanço do digital. “Precisamos nos unir para um trabalho que adote as novas ferramentas, sem deixar de lado o importante lado social e ambiental. Precisamos que haja um entendimento coletivo do trabalho das cooperativas, que seja contínuo em todas as unidades de atendimento da cooperativa”, frisou.
Segatto, do Sicoob Credicitrus, destacou o papel de agente transformador das cooperativas, lembrando que elas realizam um trabalho essencial nas comunidades, com um trabalho mais próximo ao cooperado. “Temos a capacidade de aumentar a penetração das nossas cooperativas, entregando mais propósito e impacto”, afirmou.
Para Vanildo, o cooperativismo já possui amplo impacto, mas é possível – e preciso – fazer mais. Trabalhar para um impacto real deve ser o objetivo principal, mostrando como as cooperativas podem atuar diante das dores do mercado. Para completar, lembrou que é necessário focar esforços na expansão do setor, de forma a abraçar o cooperado. “A cooperação precisa ser feita de forma escalonada, aumentando a atuação e dialogando para que os processos saiam do papel”.
Destacando um dos temas de maior relevância no mercado e nas cooperativas como um todo, o Diálogos ainda levantou a agenda ESG dentro do setor. Para Tiago Schmidt, adotar esse conjunto de práticas é vital, mas é preciso tomar cuidado para não ofuscar o posicionamento que as cooperativas já demonstram há quase dois séculos. “O ESG não pode ser maior que o cooperativismo. Tudo que a sigla representa, está na essência e visão histórica das cooperativas”, completou.
Para completar, Liora lembrou o poder de impacto que um maior diálogo entre cooperativas pode trazer para o setor. Para ela, criar pontes entre as cooperativas é fundamental, para que haja um desenvolvimento contínuo e neste processo, lembrar do que faz as cooperativas serem o que são. “Precisamos pensar porque estamos entrando nas cidades e qual o nosso papel nesse contexto, sem esquecer da nossa essência”, finalizou.
SEGUNDO DIA
Com apresentação de Douglas Ferreira, diretor da MundoCoop, o segundo e último dia do CoopTalks Crédito alcançou o seu objetivo: criar um espaço para que diferentes vozes mostrassem os caminhos que a sua cooperativa pode seguir.
Iniciando o ciclo de palestras, Mario Morishita – Consultor de Credito e Cobrança, Recuperação de Credito em Atrasos na INFI-FEBRABAN e Professor da FGV no MBA em cooperativismo – trouxe um ‘Panorama do Cooperativismo de Crédito na Atualidade’. Em sua fala, destacou o histórico de sucesso do movimento e reforçou o importante trabalho das cooperativas na missão de diminuir a população de inadimplentes. “Precisamos profissionalizar nossas áreas de crédito, cadastro e recuperação. Necessitamos de mais técnicas para melhorar a provisão e melhorar a inadimplência na carteira”, frisou.
Reunindo grandes vozes do cooperativismo de crédito, o Painel Especial das Entidades contou com a presença de Ivo Lara Rodrigues, Presidente da Federação Nacional da Cooperativas de Crédito (FNCC); Moacir Krambeck, Coordenador do Conselho Consultivo Nacional do Ramo Crédito do Sistema OCB (CECO) e Luiz Antônio Ferreira, Presidente do Conselho de Administração do FGCoop. Durante o painel, diversos temas de interesse do setor foram pauta, incluindo a importância de reinventar a forma como o cooperativismo de crédito atua. “No futuro, o cooperado será mantido não apenas pela essência, mas também pelos serviços prestados. O cooperado sabe o que está acontecendo no mercado”, reforçou Krambeck. Além disso, a recente expansão da rede física também foi destaque entre os representantes. “A expansão física faz parte da essência do cooperativismo. Demonstra um trabalho social importante, ao ser a única instituição financeira em diversos municípios”, comentou Luiz. Para Rodrigues, a expansão é bem-vinda, mas deve ser tratada de forma cautelosa. “Essa expansão na contramão dos bancos é estratégica. É preciso olhar para um ponto de equilibro, olhando para a rede física necessária, investindo em comunicação e equilibrando com o atendimento digital”, acrescentou.
Reinventar as relações econômicas é vital, e o “Capitalismo Consciente” foi pauta do painel PAPO COOP, que contou com a presença de Rodrigo Casagrande, Professor-Convidado FGV Management, na disciplina ESG – Environmental, Social and Corporate Governance e Thomas Eckschmidt, Cofundador do movimento do capitalismo consciente no Brasil. Durante o bate papo, os convidados compartilharam a importância do movimento para uma ressignificação do papel dos negócios. Para Casagrande, o cooperativismo é uma ferramenta fundamental para a criação de negócios que abracem diferentes perfis de pessoas. “O cooperativismo dá sinais claros de que apoia a diversidade, abraçando diferentes grupos e perfis de pessoas. O capitalismo consciente traz a convicção que é possível produzir bem e fazer o bem”, salientou. Eckschimidt reforçou que o cooperativismo é, em suma, o exemplo prático de uma nova economia necessária. “O cooperativismo é uma das melhores expressões do capitalismo consciente. O cooperativismo produz bem e entrega bem”, completou.
Continuando a manhã de palestras e debates, Sérgio Biagini, Sócio-líder de Financial Services Industries da Deloitte e Eduardo Shakir, Fundador e CEO da ATLAS GOVERNANCE, destacaram o tema “Tendências e evolução do Sistema Financeiro”. No painel, ambos comentaram sobre as principais novidades do mercado, que vem se desenvolvendo para abraçar as demandas do novo perfil de clientes. Além disso, chamaram a atenção para que as cooperativas reforcem o seu posicionamento, em um mercado onde o cliente utiliza diferentes players para suprir suas necessidades financeiras.
O cooperativismo é um modelo de negócio de pessoas para pessoas. E essa nova forma de olhar para o mercado foi tema da palestra “Negócios com Significado”, que recebeu Kasuo Yassaka, Sócio-Fundador da Yassaka. Duante sua fala, Yassaka lembrou do principal papel do cooperativismo, um modelo de negócio que representa uma nova visão necessária para a sociedade atual. “A ação social mais impactante de uma cooperativa é o serviço que é prestado. Por vocação, os negócios cooperativos são o maior meio de transformação”, frisou.
Iniciando a etapa final do CoopTalks Crédito, o painel “Cooperação em foco: como se comporta o novo mercado financeiro?” recebeu Laércio Fogaça, Head de engenharia de produções da Mambu e Lucila Simão, CEO do Instituto Fenasbac. Ao longo da conversa, os convidados trouxeram um panorama do cooperativismo atualmente, lembrando alguns pontos de atenção para o setor. Segundo Fogaça, é necessário que as cooperativas se atentem ao formato de negócios que desenvolvem, de forma a abrirem os horizontes para o novo. “As cooperativas precisam continuar o seu trabalho essencial, conhecendo as necessidades do cooperado, ao mesmo tempo em que criam ferramentas e plataformas que permitam novas estratégias de negócio”, comentou. Para Simão, olhar para o mundo externo é fundamental, identificando as mudanças e criando novos caminhos de atuação. “O mercado financeiro onde as cooperativas estão inseridas hoje possui uma nova configuração. São novos caminhos, que colocam novas oportunidades e clamam por uma nova forma de fazer cooperativismo”, completou.
Os novos passos da economia brasileira foram tema da palestra “Real Digital: a nova realidade financeira”, apresentada por Rodrigoh Henriques, Diretor de Inovação da FENASBAC. Em sua participação, Henriques destacou as recentes mudanças no hábito financeiro do brasileiro, que passou a contar com novas ferramentas em seu dia a dia. Além disso, lembrou do poder de integração que o Real Digital trará para o Brasil, iniciando um novo momento na relação do país com a economia mundial.
Finalizando o CoopTalks Crédito 2022, Harold Espínola – Chefe do departamento de supervisão de cooperativas do Banco Central – falou sobre o desenvolvimento das cooperativas de crédito. Em “A modernização do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo”, Espínola relembrou do crescimento do setor, que vem ganhando mais protagonismo no cenário de crédito do Brasil, mesmo diante do cenário econômico conturbado. Para concluir, deixou uma provocação, chamando o público a refletir sobre o papel das cooperativas e sua resiliência ao longo da história. “Em que momento da história o cooperativismo não foi moderno e enfrentou as crises?”, questionou.
Por Redação MundoCoop – Matéria publicada originalmente na edição 108 da Revista MundoCoop