O futuro da cultura cooperativista já começou e exige o olhar para o novo

No primeiro final de semana de julho é comemorado o Dia Internacional do Cooperativismo, data proclamada pela ONU desde 1992, que promove os ideais e ações que o movimento pratica ao redor do mundo. No Brasil, desde 2009, nasceu o Dia de Cooperar (Dia C) que, na mesma data, celebra o impacto das cooperativas nas comunidades do país.  

Em 2022, a data global chegou em seu 100º aniversário e o tema escolhido pela Aliança Internacional Cooperativa (ACI) para a comemoração foi: Cooperatives Build a Better World – Cooperativas constroem um mundo melhor. 

Para homenagear esse grande marco para o cooperativismo mundial, a MundoCoop promoveu o 3º CoopTalks Summit! O evento de 2 dias reuniu grandes especialistas para discutir os maiores temas da atualidade e impulsionar um novo olhar para o futuro. Claro, reforçando a contribuição única das cooperativas para tornar o mundo um lugar melhor!  

Com quase 6 mil inscritos e alcançando mais de 4 mil pessoas ao vivo durante a transmissão – além de já obter 10 mil visualizações no conteúdo do evento disponível no YouTube – a edição foi um convite para instigar ideias inovadoras, refletir sobre os mais diversos cenários que vem remodelando a realidade de todos e, principalmente, disseminar o conhecimento necessário para avançar enquanto sociedade.  

O EVENTO 

Destacando uma das maiores tendências do mercado esse ano, a palestra “Universo Metaverso” foi a grande abertura do CoopTalks Summit. Apresentada por Andrea Iorio, palestrante e escritor best-seller, a primeira apresentação do dia ressaltou a importância de se atentar às diferentes oportunidades. Junto com o metaverso, novos termos e processos estão sendo criados, e outros conceitos passarão a fazer parte do dia a dia de empresas, organizações e cooperativas. Para estas últimas, o metaverso pode ser a chance de criar novas possiblidades, permitindo a inserção do cooperado em todos os processos. Iorio reforçou que, neste primeiro momento, as cooperativas devem buscar o desenvolvimento de projetos pequenos, aumentando-os ao longo do tempo. “No metaverso podemos criar infinitas experiências para o nosso cooperado”, concluiu Iorio.  

Com inúmeras ideias surgindo diariamente, criar um ambiente de desenvolvimento é fundamental para que haja uma transformação efetiva. Esses ambientes, os Hubs de Inovação, foram tema do primeiro painel do evento, que contou com a presença de Hélio Gomes de Carvalho, Assessor de Inovação e Tecnologias 4.0 (Hub Impulso Coopavel); e André Menezes, Sócio-Fundador da Baanko (Hub Pioneiros). Durante o bate-papo, Carvalho e Menezes trouxeram para a mesa de discussão o papel crucial do cooperado no processo de inovação. “Os colaboradores são fundamentais para que a inovação se consolide com o tempo”, afirmou Carvalho. Em sua fala, ele citou a capacitação de cooperativas e cooperados como parte fundamental para a criação e consolidação de espaços de inovação, de forma a criar um ecossistema que consiga identificar novas oportunidades ao longo do tempo. Para Menezes, estar preparado para esse movimento é vital, buscando ainda usar os hubs como ferramentas para destacar o cooperativismo diante do mercado. 

Os Gestores Cooperativistas do futuro foram o tópico principal da palestra que deu continuidade ao primeiro dia do CoopTalks Summit de 2022. Ministrada por Norman Neto, Diretor a Faculdade ISAE, a palestra abordoy os temas que irão guiar o trabalho dos novos gestores em uma nova década, onde novos debates estão reformulando a forma de posicionamento no mercado. Em sua fala, Neto apontou o ESG como ponto principal da nova gestão das cooperativas, traçando uma conexão entre os tópicos que envolvem esta agenda: a governança, a preocupação social e ambiental. Para ele, trabalhar o ESG de forma efetiva nas cooperativas é a chave para que elas entendam e mensurem o seu impacto na sociedade, um movimento capaz de aprofundar o olhar sobre as decisões que irão guiar a cooperativa em direção ao futuro. Completando sua participação, Neto ressaltou que, o maior objetivo dos gestores deve ser o desenvolvimento de cooperativas mais resilientes. 

Prosseguindo com os bate-papos, o segundo painel do dia contou com a participação de Renata Camargo, CEO da BlackID; e Anderson Bars, Co-fundador da Escola do Caos. Em “De olho nos negócios e suas mudanças contínuas”, os speakers destacaram os temas que estão guiando este novo momento de mercado. Para Renata, um destes temas fundamentais, e que devem ganhar a atenção das cooperativas, é a comunicação. Ela explica que, atualmente, a comunicação precisa abranger um público mais amplo, algo que pode ajudar na penetração das cooperativas em ambientes onde elas ainda não exploraram todo o seu potencial. “Nas cooperativas, uma comunicação bem desenvolvida é uma ferramenta de conexão, importante para uma sensação de pertencimento por parte dos colaboradores”, destacou Camargo. Além disso, Bars trouxe um alerta, lembrando o setor de que a competitividade vista hoje é ainda maior, uma vez que as cooperativas enfrentam não apenas instituições tradicionais, mas também startups com conceitos e práticas disruptivos. “A exigência diante de um processo digital é a mesma perante uma cooperativa ou empresa, criando um novo mercado”, afirmou. Neste novo mercado, as empresas precisam de pessoas com senso de propósito e que queiram realizar uma verdadeira transformação. E para isso, é preciso se comunicar bem, mostrando ao público as maiores qualidades das cooperativas. 

De olho no que está por vir, Leila Navarro, palestrante motivacional internacional com foco em comportamento e motivação, compartilhou sua visão para a nova sociedade, na palestra “Futurabilidade, conectando pessoas e criando futuro”. Em sua apresentação, ela destacou a nova dinâmica criada pelos últimos anos, trazendo a importância das novas ferramentas para a reconexão de uma sociedade que, há tempos atrás, havia se desmembrado. Navarro ainda afirma que as cooperativas devem estar atentas para as tendências do mercado, principalmente em oportunidades para que elas se tornem importantes ferramentas para a sociedade que está sendo construída. 

Encerrando o primeiro dia do 3º CoopTalks Summit, o painel “Lições dos ecossistemas cooperativas globais” teve a presença de Fabíola Nader Motta, Gerente-Geral do Sistema OCB; e José Alves, representante do Conselho de Administração da ACI-Américas. O mundo está cada vez mais conectado e quando tratamos do movimento cooperativista, isso não é diferente. Hoje, as cooperativas são um importante agente de mudança no mundo, onde a criação de novas práticas de intercooperação tem sido fundamental para o fortalecimento do movimento como um todo. No painel, Fabíola destacou a importância de ações de intercooperativas, lembrando da recente nomeação de Márcio Lopes de Freitas para o Conselho da ACI, algo que irá abrir o leque de oportunidades para o cooperativismo brasileiro. “A intercooperação é um caminho para nós crescermos. Através dela, podemos ir ainda mais longe”, afirmou. Complementando sua fala, Alves destacou o tema como fundamental para as cooperativas darem o próximo passo. “Intercooperar passa pela evolução das cooperativas e por sua capacidade de se posicionar no mercado atual”, complementou.  

“O cooperativismo é a forma de tornar o mundo mais justo e equilibrado, com oportunidades para todos. Esse é o nosso principal objetivo” – Fabíola Motta, Gerente-Geral do Sistema OCB 

O FUTURO EM FOCO 

Iniciando o segundo dia desse grandioso encontro, o palco virtual recebeu Gil Giardelli. Em sua palestra “A sociedade do futuro”, o Professor e Roboticista destacou as principais mudanças do mundo atual, como as NFTs, os novos players do mercado de consumo e o que ele chama de capitalismo sem capital, a era do intangível. Giardelli ainda frisou como vital a compreensão de que não há progresso a partir do medo, e que o futuro só chegará para todos a partir da comum vontade de uma verdadeira transformação. Pra completar, Giardelli ressaltou que as cooperativas devem se perguntar “Onde estaremos daqui a 20 anos?”, em um importante exercício sobre a eficiência da gestão à longo prazo. 

Em seguida, o palestrante e Co-Fundador da HSM, José Salibi Neto, compartilhou com o público um panorama sobre como será a “Gestão do Amanhã”. Em sua participação, explicou que é chegado o momento de uma grande mudança, onde devemos criar um sistema que acate novas ideias e novas tecnologias. Para ele, a volatilidade do mundo deve estar no foco das novas gestões nas cooperativas. “A velocidade de transformação da gestão muda a nossa cultura, a nossa gestão e o nosso modelo de negócios”, concluiu. 

Com a presença de Camila Luconi, professora e coordenadora de curso de cooperativismo, e os diretores da MundoCoop, Luis Claudio e Douglas Ferreira, a conversa sobre “Cooperativismo de plataforma: as tendências por trás desse movimento” trouxe uma discussão sobre as novidades acerca do tema. Para Luconi, o cooperativismo de plataforma se conecta com a tendência da economia compartilhada, aperfeiçoando detalhes negativos visto neste outro modelo. Em sua fala, ela ainda reafirmou a importância de órgãos como o Sistema OCB no processo de fomento deste modelo, que deve ganhar uma base ainda mais forte no Brasil, nos próximos anos.  

Trazendo um dos assuntos de maior relevância da atualidade, a professora, palestrante e escritora, Maria Flávia Bastos; e a consultora, advogada e fundadora da Quor – Educação Executiva em ESG, Juliana Bernardo, compartilharam sua visão sobre “O Impacto das estratégias em ESG”. Bastos colocou a comunicação como principal ponto de atenção para as cooperativas, enquanto Juliana alertou sobre a necessidade de um maior compromisso com uma agenda mais efetiva de ações ESG. No painel, as convidadas ainda cobraram um maior comprometimento do mercado com o tema, destacando a importância real de trazer para a organização processos que realmente se preocupem com as questões socioambientais. 

A “Criatividade para Inovação” foi tópico central da palestra de Rodrigo de Barros. O palestrante e estrategista em Inovação trouxe como destaque a necessidade de um novo posicionamento das lideranças, que devem deixar de lado a postura autoritária para adotarem uma postura mais colaborativa. Para Barros, os líderes devem estimular ambientes mais criativos e saudáveis, algo essencial para que um processo de inovação aconteça. 

Concluindo a 3º edição do CoopTalks Summit, o palco virtual da MundoCoop recebeu o último, mas não menos importante, painel “Lideranças do Futuro: como se preparar?”, com a presença de Carolina Utimura, CEO da Eureca; e Luiz C. Parzianello, fundador da ABO Academy. No bate-papo, os convidados ressaltaram algumas habilidades necessárias para as novas lideranças, como a rapidez, empatia, escuta ativa, vulnerabilidade e a capacidade de gerar conexão. Para eles, é preciso desaprender velhos costumes, mantendo o que funciona e buscando novas técnicas e posicionamentos conectados com o novo mercado que temos hoje. Entre os destaques, ainda esteve a necessidade de uma ação por parte de gestores em prol da formação de novos líderes, com foco no futuro. “Os atuais líderes precisam atuar para criar novas lideranças, garantindo a longevidade do cooperativismo no Brasil”, finalizou Carolina. 

Por Redação MundoCoop – Matéria publicada na edição 107 da Revista MundoCoop