Maior floresta tropical do mundo, a Amazônia abriga um terço de todas as árvores do planeta e 20% das águas doces disponíveis. Com 5 milhões de metros quadrados, se fosse um país, a Floresta Amazônica seria o sexto no mundo em extensão territorial. Com todo esse tamanho e biodiversidade, a Amazônia sempre esteve no centro do debate ambiental global, e tem ganhado mais relevância diante do agravamento das mudanças climáticas, que têm no desmatamento uma de suas causas.
Quando se fala em preservar a Amazônia, é preciso sempre levar em conta que, apenas na parte da floresta que está em território brasileiro, existem mais de 20,5 milhões de habitantes. As soluções ambientais necessariamente devem incluir as pessoas e modos de produção que combinem desenvolvimento das comunidades com a manutenção da floresta em pé. E é assim que o cooperativismo entra nessa história.
Sustentável desde sua origem, nosso modelo de negócio combina pilares que são fundamentais para aproveitar o potencial econômico da floresta de forma sustentável, segundo o coordenador de Meio Ambiente e Energia do Sistema OCB, Marco Morato.
“A preservação é feita pelas pessoas, então a organização social dessas pessoas é fundamental para que se proteja a floresta. Outro ponto é a geração de renda, que precisa ter economia de escala para beneficiar toda uma comunidade. E o cooperativismo fomenta essas duas coisas: organização social e geração de renda, seja essa renda vinda do manejo sustentável da floresta, do extrativismo sustentável, dos sistemas agroflorestais, da produção de artesanato com os materiais oriundos da floresta”, afirma.
AÇAÍ JUSTO E SUSTENTÁVEL
Instalada em plena foz do Rio Amazonas, no Arquipélago do Bailique, no Amapá, a Cooperativa Amazonbai é um dos exemplos dessa combinação na prática. Produtora de açaí — alimento que sempre esteve na base alimentar das comunidades ribeirinhas e ganhou fãs pelo Brasil e pelo mundo —, a cooperativa se tornou uma referência em manejo sustentável na Amazônia.
Os açaizeiros são palmeiras de mais de 20 metros de altura. Colher os frutos lá no alto é uma tarefa perigosa, pois é preciso subir a árvore carregando um facão. Na Amanzonbai, os diferenciais da produção sustentável começam no fornecimento de equipamentos de proteção individual para cada cooperado que trabalha na colheita. Além disso, a cooperativa faz o manejo das plantas para que as árvores atinjam altura máxima de 12 metros, reduzindo os riscos e agilizando a retirada dos frutos.
As palmeiras dos 140 cooperados da Amanzonbai convivem com outras espécies nativas da Amazônia. Por serem fonte de sustento dessas famílias, são cuidadas para produzirem durante anos, evitando o desmatamento de novas áreas.
“A Amazonbai faz um manejo de mínimo impacto para manter nossa floresta em pé. Os açaizais são totalmente conservados. A gente não tem desmatamento, não tem destruição da natureza. Aprendemos que tem mais valor manter a floresta em pé do que desmatar”, compara o presidente da cooperativa, Amiraldo Picanço.
Quer mais? O cultivo do açaí da Amazonbai não usa agrotóxicos, fertilizantes ou máquinas. Ele é feito de forma orgânica, apenas pelos cooperados.
Todo esse cuidado na produção levou a cooperativa amapaense a conquistar 8 certificações internacionais ligadas à sustentabilidade. O açaí da Amazonbai é o único no mundo com certificado FSC, que garante que todas as etapas do manejo respeitam a legislação do país, direitos dos trabalhadores e o cuidado ambiental.
“O nosso açaí é diferenciado, porque a gente trabalha com a questão da sustentabilidade, da bioeconomia, de produtos que ajudam a conservar a natureza. E os cooperados ganham com isso. Existe uma repartição justa desses benefícios através da cooperativa”, comemora Picanço.
Atualmente, a Amazonbai produz 150 mil latas de açaí por ano. E além dos benefícios de trabalho e renda dos cooperados, 5% do valor de cada lata vai para um fundo de apoio à Escola Família Agroextrativistas do Bailique.
RESPEITO À FLORESTA
No Norte do Pará, outra cooperativa no coração da Amazônia também se tornou referência internacional de produção sustentável. O primeiro diferencial da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), criada em 1929 por imigrantes japoneses, foi o respeito à floresta.
Logo após a criação, a cooperativa se tornou a maior exportadora de pimenta-do-reino do mundo, até que uma praga dizimou toda a produção. O problema era um sinal claro de que a floresta não era lugar para monocultura.
“A Camta teve que se reinventar e procurar alternativas. E nesta busca por sustentabilidade econômica, entendeu que produzir culturas de curto, médio e longo prazo seria o caminho para sobreviver e hoje esse modelo é conhecido como Sistema Agroflorestal”, explica o presidente da cooperativa, Alberto Oppata.
A criação do Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (Safta), que simula o ambiente natural da floresta nativa, com o cultivo de plantas comerciais em meio a árvores amazônicas, foi uma virada na trajetória da Camta. A partir dessa inovação, a cooperativa passou a produzir e exportar pimenta-do-reino, cacau, açaí, frutas, óleos vegetais e outros produtos do sistema harmônico, em que os ciclos das plantas se complementam.
“Agora, estamos em busca de pagamento pelos serviços ambientais [previsto na Lei 14.119/2021, que aguarda regulamentação] que realizamos, pois têm um custo alto”, pondera Oppata. A ideia é compensar financeiramente atividades de produção sustentável para garantir a continuidade desses sistemas e estimular mais comunidades a valorizar a floresta em pé.
Segundo Marco Morato, coordenador de Meio Ambiente e Energia do Sistema OCB, a conscientização da população ribeirinha sobre as vantagens de produzir em harmonia com a floresta é uma das principais contribuições do cooperativismo para a preservação da Amazônia.
“Esse é o papel do cooperativismo: levar o desenvolvimento sustentável para essas comunidades, oferecendo alternativas ao desmatamento e à grilagem de terra”, afirma. Ainda segundo Morato, ao garantir uma fonte de trabalho e renda para os moradores da floresta, as cooperativas contribuem de forma decisiva para a preservação da Amazônia.
CUIDADO COM OS RIOS
Além de ajudar a preservar a Floresta Amazônica, o cooperativismo também atua em outras frentes de proteção desse importante ecossistema. A Cooperativa dos Profissionais de Transporte Fluvial (Coop-Acamdaf), de Manaus, há anos organiza o recolhimento voluntário de lixo e outros resíduos do Rio Amazonas e de seus afluentes.
Os barqueiros da cooperativa levam turistas em passeios para conhecer o Encontro das Águas dos rios Negro Solimões e nadar com botos. Entre os trajetos, duas vezes por semana, fazem a coleta de lixo nas casas flutuantes de ribeirinhos — tipo de construção muito comum na região. Além disso, uma vez por ano, eles realizavam um grande mutirão de limpeza dos rios, com apoio de cooperados e outros voluntários da comunidade. Quer saber mais dessa história? Leia a matéria completa com a Coop-Acamdaf na Revista Saber Cooperar.
Fonte: SomosCoop