A Conferência da ONU sobre o Clima de 2023 terminou com importantes acordos e um grande protagonismo das cooperativas brasileiras. Nesta edição, grandes passos foram dados, o que resultou em um acordo histórico para transição dos combustíveis fósseis para fontes limpas e renováveis de energia. Dentro os compromissos firmados, estão não apenas um aumento anual de US$ 9 bilhões no financiamento do Banco Mundial para projetos relacionados com o clima, em 2024 e 2025, como também o compromisso no valor de US$ 3,5 bilhões para repor os recursos do Fundo Verde para o Clima; entre inúmeros outros aspectos que devem contribuir com a urgente agenda climática.
Mais uma vez presentes, as cooperativas brasileiras representaram um importante pilar na busca por uma sociedade mais sustentável. Através de comitivas e da participação em painéis e debates, o movimento ressoou sua voz para delegações do mundo todo, reafirmando o compromisso com a agenda discutida desde o início da COP28.
Além de chefes de Estado, diplomatas e outros representantes de governos, a COP 28 reuniu representantes da sociedade civil — entre eles, membros do cooperativismo brasileiro. As cooperativas são reconhecidas pela própria Organização das Nações Unidas (ONU) por seu protagonismo em boas práticas ambientais e a agenda climática faz parte desse compromisso com a construção de um mundo mais sustentável. “Quando falamos em COP do Clima, temos a premissa de que todos devem participar, ou seja, toda a comunidade. E o cooperativismo é a chave para que as pessoas participem desse processo de descarbonização da economia mundial. O combate à mudança climática depende do envolvimento de toda a população mundial e o cooperativismo permite que as pessoas participem nesse processo”, afirmou o coordenador de Meio Ambiente e Energia do Sistema OCB, Marco Morato.
Com esse foco, o Sistema OCB levou à COP28 iniciativas de cooperativas brasileiras que estão contribuindo para a redução de emissões de gases de efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono (CO2). O cooperativismo teve destaque no Espaço Brasil, um pavilhão organizado pelo governo para mostrar iniciativas nacionais, públicas e privadas, de combate à mudança do clima.
A Frimesa Cooperativa Central apresentou seu case de sustentabilidade no dia 09 de dezembro em Dubai, no Espaço Brasil. Representando as cooperativas de produção, falou sobre suas soluções sustentáveis e inovadoras que deixa evidente o compromisso em produzir alimentos de forma verde e eficiente. A cooperativa teve destaque no painel “Cooperativas Aliadas do Desenvolvimento Sustentável e da Segurança Alimentar” organizado pelo Sistema Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB. Para o presidente da Frimesa, Elias José Zydek, “levar as ações do cooperativismo para o mundo nos enche de orgulho, principalmente, através da nossa cooperativa que tem feito um excelente trabalho lançando suas metas ESG até 2040, preocupados com o futuro do planeta”, avalia.
Representando o cooperativismo acreano, a Cooperativa Central de Comercialização Extrativista no Acre (Cooperacre), foi um dos destaques do painel “Cooperativas: aliadas da sustentabilidade ambiental e segurança alimentar”, realizado no sábado (9). A Cooperacre foi escolhida pela valorização da floresta amazônica, promoção de uma bioeconomia sustentável e inclusão social de seus cooperados. Fundada em 2001, a cooperativa nasceu da necessidade de unir coops extrativistas do Acre em busca de melhores oportunidades e negócios para os produtos provenientes da floresta. Atualmente, é responsável pela maior produção de castanha-do-Brasil beneficiada do país e quer se tornar a maior do mundo. Sua atuação abrange 18 municípios e reúne mais de 2,5 mil famílias cooperadas, 12 cooperativas singulares e 25 associações. Com a preservação de 87% das florestas, ela garante um ambiente propício para o desenvolvimento econômico sustentável e contribui para a melhoria da qualidade de vida das comunidades da região. Parceira do Fundo da Amazônia, criado pelo governo federal, a Cooperacre também apoia diversos projetos que incluem a gestão de florestas públicas, monitoramento e combate ao desmatamento.
Reforçando seu compromisso com as discussões da agenda sobre mudanças climáticas, o Sicoob participou do lançamento da Rede Financeira para a Amazônia. O encontro realizado em 05 de dezembro, contou com a participação do Diretor de Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais do Sicoob, Ênio Meinen. A instituição financeira cooperativa representa o setor como membro fundador da “Rede”, ao lado de outros atores do sistema financeiro brasileiro e de nações vizinhas, executivos do BID Invest e da International Finance Corporation (IFC). De acordo com Meinen, o pacto tem como objetivo intensificar ações para o desenvolvimento socioeconômico, ambiental e sustentável da região. A frente envolve agentes financeiros privados e se soma à “Coalizão Verde”, formada por bancos públicos de países da Amazônia.
“Assumimos esse compromisso com foco em incentivar, por meio de apoio técnico e financiamento, a geração de emprego e renda, inclusão financeira e a redução das desigualdades, em convergência com a conservação e restauração da Região Amazônica. Essas metas se associam aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) do Pacto Global da ONU e estão intimamente conectadas com a doutrina cooperativista”, afirmou Meinen.
O Sicredi, que caminha para ter mais de 10 milhões de associados no Brasil, tem um papel de pioneirismo para o desenvolvimento das finanças verdes no país. Um dos maiores exemplos disso se deu quando, em 2022, emitiu a primeira Letra Financeira Pública Sustentável do Brasil. A iniciativa captou R$ 780 bilhões que foram convertidos em crédito para financiar projetos alinhados à sustentabilidade voltados à energia renovável, apoio a pequenos negócios de impacto local e a pequenas e médias empresas lideradas por mulheres. Os resultados já são palpáveis: “Na operação de energia renovável, foi evitada a emissão de 4,9 mil toneladas por ano de gases de efeito estufa. Além disso, nas operações voltadas à elegibilidade social, contribuímos para a sustentação de mais de 80 mil empregos”, explica João Pedro Segabinazzi Stephanou, gerente de operações estruturadas e finanças sustentáveis do Sicredi. O case também foi um dos apresentados com destaque durante a COP28, ao lado de outras iniciativas apresentadas pela OCB.
Além disso, o Sicredi assinou, no dia 05 de dezembro, dois importantes acordos. Integrante do Pacto Global das Nações Unidas (ONU), a instituição financeira cooperativa agora passa a integrar a Rede Financeira para a Amazônia, que busca mobilizar recursos do setor privado para promover, simultaneamente, a melhoria da qualidade de vida na região e a preservação ambiental. Além disso, foi formalizada a captação de US$ 125 milhões para financiar micro, pequenas e médias empresas lideradas por mulheres, inclusive na Amazônia.
A prioridade nas pessoas foi o princípio do cooperativismo mias ressaltado durante a passagem do Brasil pela COP28, segundo Fabíola Nader Motta, Gerente Geral do Sistema OCB. Ela lembrou que o desenvolvimento econômico promovido pelas cooperativas busca, obrigatoriamente, a solução de problemas sociais, a inovação e o empoderamento de pequenos negócios, ampliando a voz, inclusive, da parcela mais vulnerável da população. “As cooperativas garantem trabalho, renda e prosperidade para seus associados, famílias e comunidades onde estão presentes. Falta, no entanto, maior conhecimento e reconhecimento sobre os benefícios que elas oferecem e, por isso, atualmente, a representação institucional é o trabalho mais importante do Sistema OCB”, finalizou.
DO BRASIL PARA O MUNDO
Em todas as regiões do Brasil, iniciativas voltadas para a sustentabilidade estão se multiplicando nas cooperativas. Através de parcerias com agentes de dentro e de fora do setor, o movimento tem buscado consolidar seu papel na busca de uma sociedade mais justa e sustentável. Minas Gerais, que tem se revelado como um dos grandes polos cooperativistas do país, participou ativamente da COP28 com uma grande delegação.
Geraldo Magela Silva, Assessor Institucional do Sistema Ocemg, falou à MundoCoop sobre sua participação na Conferência e ainda, ressaltou os fatores que tornaram o estado um dos protagonistas na captação de recursos para realizar ações climáticas.
Nossa presença se deu forma bem significativa. No Pavilhão do Brasil, tivemos a oportunidade de discutir temáticas de grande relevância em relação ao que o cooperativismo brasileiro desenvolve do ponto de vista da sustentabilidade, alinhado com a temática da Conferência de Mudanças Climáticas. Levamos experiências do sistema cooperativista brasileiro no tocante às políticas que se desenvolvem hoje. Destaco o nosso case mineiro, de produtores de café da Cooxupé, sediada em Minas Gerais e que junto a suas comunidades, atua na preservação ambiental, orientação aos seus cooperados nesse sentido e ainda, na preservação do solo e das nascentes. Essas ações estão perfeitamente alinhadas com as perspectivas das mudanças climáticas, que já está presente na realidade dos produtores rurais brasileiros, que reconhecem o seu papel nesta pauta; como também agregadores de valor para o desenvolvimento das suas atividades econômicas.
Especificamente nesse ano, tive a missão de ser o representante do cooperativismo mineiro e foi uma participação muito efetiva do ponto de vista e das atividades desenvolvidas. Nos eventos paralelos, pudemos apresentar diversas ações, projetos e programas que estão alinhados com a pauta mundial ESG. É importante ressaltar e evidenciar que o cooperativismo mineiro participa efetivamente de inúmeras iniciativas dessa natureza, considerando que o Sistema, é a primeira instituição cooperativista nacional signatária do Pacto Global da ONU, desde 2018. Nosso Sistema foi a primeira instituição a receber o selo BH Sustentável no ano passado, em 2023. Hoje nós desenvolvemos uma série de ações, principalmente nos programas de capacitação desenvolvidos pelo nosso Sescoop, na orientação das questões da sustentabilidade. Ano passado, lançamos o nosso Relatório de Sustentabilidade do Sistema Ocemg, mostrando e evidenciando a importância de todas as ações sustentáveis que estão sendo desenvolvidas pela nossa instituição na orientação das nossas cooperativas, com o objetivo de estimular que elas estejam cada estejam cada vez mais engajadas na perspectiva do desenvolvimento sustentável.
Destaco o programa Minas Energia, que é o nosso projeto de potencialização da transição energética para energias renováveis. Começamos estimulando a implantação de usinas de energia solar em Minas Gerais, nas cooperativas. Hoje, somos líderes nesse tipo de projeto a nível nacional e no caso do cooperativismo, podemos nos considerar pioneiros nesse campo. Essa parceria se estende com o governo do Estado, algo que se alinhou com o desejo de estarmos presentes na COP28.
A partir dessa ótica, vejo que o diferencial do cooperativismo brasileiro em relação ao movimento internacional é exatamente por estarmos em um país que tem dimensão continental. É um país que tem ainda grande parte do seu território preservado do ponto de vista ambiental, que possui um compromisso efetivo de alimentar uma parcela significativa do mundo como um grande produtor e fornecedor de alimentos, e que promove um trabalho integrativo entre os ramos cooperativos, de modo que assegurar que tenhamos uma intercooperação também na visão de desenvolvimento.
Temos as cooperativas agropecuárias, apoiadas pelas cooperativas de crédito participando ativamente e sendo grandes incentivadoras e fornecedoras de recursos para financiamento das atividades agropecuárias no Brasil. As cooperativas de transporte se engajando e integrando para serem responsáveis pela condução da nossa produção, não só para exportação, mas para o trabalho logístico interno. Isso tudo, com uma visão de sustentabilidade.
O modelo do cooperativismo brasileiro está amadurecendo e está atento ao cenário internacional, algo que se evidencia pela nossa presença massiva na COP28. As cooperativas brasileiras têm a competência para agir de forma integrada, agindo e produzindo com as melhoras práticas, e cada vez mais, integrando setores da economia. Ter tido a oportunidade de viver a COP28, nos trouxe perspectivas para que possamos refletir e fazer as adequações no nosso planejamento estratégico, visando o desenvolvimento e fortalecimento do cooperativismo nas próximas décadas.
Por Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop edição 116