O ESG não é mais uma novidade. Diante de tantas mudanças nos últimos anos, o termo que reúne a importância de pensar estratégias em três importantes pilares, ganhou projeção na sociedade como um todo. Não apenas isso, o interesse pelo ESG também se despertou entre o público, com mais de 109 mil menções nas redes sociais, segundo pesquisa da Stilingue (acima dos 4 mil registrados em 2019).
Nas empresas, os investimentos em ESG não param de crescer, e devem atingir a marca de U$53 trilhões até 2025, segundo o estudo global da Infosys, o Radar ESG 2023. Para 90% dos líderes, o ESG comprovadamente traz retornos financeiros legítimos, com muitos deles (41%) afirmando que os resultados aparecem em um curto prazo, de dois a três anos. Hoje, cada 10% de gastos com ESG, trazem um lucro de 1% nos negócios.
Para o especialista em ESG, Victor Kenji Oshiro, a dimensão do tema no contexto atual vem do engajamento de uma sociedade mais atenta, engajada em cobrar responsabilidade governamental, social e ambiental. “As corporações têm sido cada vez mais cobradas a implementarem planos e projetos, além de definirem metas, padrões e metodologias que vão de encontro à agenda ESG, seja pelo lado regulatório ou voluntário. E isso é notório, quando vemos uma crescente de empresas relatando suas atividades em Relatórios de Sustentabilidade ou se aplicando a questionários temáticos de avaliação. Em teoria, o ato de ‘relatar’ algo se remete ao fato de que as empresas têm uma história para contar sobre suas ações e avanços na agenda”, explica.
Esse cenário corrobora uma análise de muitos especialistas, que apontam que 2023 será um divisor de águas para o tema, com o pilar social ganhando mais espaço, e sendo decisivo para a consolidação e afirmação do compromisso com o ESG e sua agenda. Para Oshiro, com a mudança de olhar para a vida como um todo, aspectos mais comuns do dia a dia passaram a protagonizar as conversas em torno do tema, trazendo para dentro das organizações, variáveis muitas vezes denominadas como simples. “A agenda ESG tem ressaltado temas comuns do cotidiano das pessoas com cada vez mais ênfase nas empresas, como as questões de consumo consciente, combate à discriminação, condições adequadas de trabalho, etc”, reforça.
Com esse cenário, diversos players passam a ganhar mais espaço. E as cooperativas, inerentemente conectados com aspectos sociais, têm neste novo momento, a oportunidade de ganharem notoriedade. Mas porque elas se destacariam? Em organizações onde o ESG é essência, o diferencial que as coloca no topo, é a prática.
Desenvolvimento pessoal e coletivo
Com as recentes transformações, diversos são os desafios que a agenda ESG tenta enfrentar. Segundo a pesquisa da PENSSAN, mais de 33 milhões de pessoas chegaram ao final de 2022 sem ter o que comer, por exemplo. Diante de tal dado alarmante, pensar em ações que envolvam todas as esferas passou a ser uma demanda fundamental, alçando empresas e cooperativas a um importante papel de agentes transformadoras e de impacto social. Mesmo aquelas que já possuíam uma postura diferente, como as cooperativas agropecuárias, tiveram que repensar velhas práticas, em prol de um resultado mais efetivo e alinhado com as demandas do presente.
Para buscar as soluções que a sociedade contemporânea precisa, apostar em inovação tem sido um dos caminhos para entender estes novos tempos. Para Sergio Cadore, Presidente da Viacredi, a busca pelo novo é um dos principais pontos deste momento do ESG, junto com aspectos que se conectam diretamente com a atuação das cooperativas.
“Uma das principais mudanças que percebemos é a busca pela inovação, que vem sendo impulsionada pelo aumento da cobrança, por parte dos consumidores, sobre o processo de produção dos produtos e serviços; o crescimento da representatividade de grupos minoritários em cargos de liderança; e a atuação de investidores mais cautelosos, que buscam, cada vez mais, práticas de transparência nas empresas em que estão investindo. Um movimento que vem definindo as tendências da economia global. Reflexo disso é o crescimento acelerado na procura por negócios que incentivem uma economia colaborativa. Modelo que já é praticado pelas cooperativas desde seu surgimento”, afirma. Ao voltar para os caminhos que levaram as cooperativas ao patamar hoje alcançado, o ESG tornou-se um pilar essencial; em um movimento onde o tema está presente já em sua origem, há mais de 200 anos. “Investir em ESG é reafirmar para o mercado, as práticas sustentáveis que estão na essência do cooperativismo”, completa.
Detentora do selo ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, no estado de Santa Catarina, em 2021, a Viacredi é uma das inúmeras cooperativas que apostam no pilar social como um dos grandes elementos de sua estratégia ESG. A partir de capacitações e outros programas, a cooperativa – que faz parte do Sistema Ailos – participa ativamente do desenvolvimento de seus colaboradores, fazendo parte do presente e do futuro das comunidades. “Oportunizamos que as pessoas se desenvolvam, incluindo-as em todos os âmbitos da sociedade, seja financeiro, profissional ou pessoal. Assim, o indivíduo se torna um verdadeiro agente da transformação, causando impacto real em sua casa, bairro, cidade e país”, frisa Cadore. Tal posicionamento, vem direto do Plano Estratégico 2022-2025, onde a cooperativa destaca sua atuação na agenda sustentável mundial.
Com o destaque para o aspecto social, o próximo passo da agenda ESG pode ser aquele em que as cooperativas conquistem de vez o seu protagonismo. Alinhadas com essa missão, através do princípio do interesse pela comunidade, olhar para o ESG como um caminho para o desenvolvimento de pessoas, é a chave para o sucesso coletivo, como a própria Viacredi exemplifica. Prova desse grande movimento, é a constatação de que tal estratégia não se trata de um caso isolado, mostrando uma concordância involuntária entre todas as cooperativas, sejam quais forem os seus ramos.
Para Adriana Delafina, Gerente de Pessoas e Gestão na Veiling Holambra, o olhar social para com o ESG, deve estar no centro de tudo, guiando decisões estratégicas que se moldem ao redor das necessidades do cooperado e da comunidade em que ele está inserido. “Ao olharmos pelo prisma social, ele transforma o resultado da cooperativa diretamente e indiretamente, já que promover ações sociais na comunidade contribui para o desenvolvimento da região onde estamos inseridos e fortalece o princípio cooperativista”, ela destaca.
Localizada no interior de São Paulo, a Veiling Holambra possui uma vasta atuação voltada ao pilar social. “Nossa política de responsabilidade social possui critérios que norteiam nossas ações. Em 2022, por exemplo, realizamos mais de 15 ações com 1.900 pessoas impactadas nas cidades de Santo Antonio de Posse, Arthur Nogueira, Holambra, Jaguariúna, Mogi Mirim e Valinhos, reforçando a preocupação com a comunidade onde estamos inseridos. Para promover essas ações, realizamos leilões beneficentes de flores e plantas, nos quais clientes, cooperados e cooperativa agem em conjunto nesta frente. Além disso, temos uma Universidade Corporativa, onde promovemos o desenvolvimento e qualificação do nosso ecossistema: colaboradores, cooperados e cliente. Fazem parte dos nossos valores, ter responsabilidade Social e Ambiental, bem como, valorizar as pessoas, respeitando a diversidade”, destaca.
Mais do que exercer os princípios cooperativistas, olhar para o ESG como um todo é um passo essencial para que o setor continue relevante. Não apenas isso, é necessário tratar o tema com seriedade, entendo que mesmo que as cooperativas possuam naturalmente aspectos ESG, é preciso atualizá-los. Através de uma estratégia bem construída, as cooperativas têm a capacidade de atuarem melhor e comunicarem bem aquilo que desenvolvem, mostrando ao mundo as suas particularidades. Para Adriana, prezar por essa conformidade é garantir que as cooperativas continuem o seu trabalho, e ganhem projeção em um mercado cada vez mais competitivo. “Dar atenção às essas temáticas é uma forma de nos mantermos competitivos e atendermos a expectativa do consumidor informado e seletivo, posicionando a cooperativa como organização que se preocupa e adere aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e à agenda ESG como um todo”, finaliza.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop