Prospectar o futuro é um desafio que acompanha a humanidade há milênios. Prever os próximos passos da sociedade envolve, consequentemente, as transformações do mercado, atuais e constantes. E é nesse contexto que a nova geração entra em pauta.
Carregada de características singulares e versáteis, a juventude tem conquistado não só o centro das principais discussões corporativas como, também, provado que almejar uma visão a longo prazo precisa passar por uma verdadeira mudança no presente.
Hoje, incluir a nova geração se tornou uma das principais estratégias para a longevidade dos negócios. Segundo pesquisa da consultoria Deloitte, antes da pandemia 49% dos millennials acreditavam que sairiam do seu atual trabalho em menos de 2 anos, após a pandemia 50% dos millennials já se veem ficando 5 anos ou mais na sua atual empresa. Dado positivo que vem moldando uma nova realidade.
Valorização das relações e experiências dentro do espaço de trabalho, capacidade de adaptação, preferência pela colaboração e consciência coletiva são exemplos de tópicos que já despontam como tendência empresarial e dialogam perfeitamente com o posicionamento adotado por essa parcela da população. Entretanto, apenas investir na diversidade não anula os desafios pela frente.
Mais do que atrair o jovem, é necessário criar um ambiente onde ele enxergue um sentido naquilo que faz, onde atua e no que quer conquistar a partir disso. Ponto em que o velho conhecido propósito ganha o foco. “É válido questionar sobre o quanto as organizações têm a mentalidade de criação do pipeline de liderança, iniciando dos seus programas de jovens talentos e olhando para estagiários e jovens aprendizes como excelente estratégia para ocupar posições de juniores, já aculturados e entendendo o contexto da organização”, pontua a CEO da Eureca, Carolina Utimura, no artigo “Sinais de Futuro das Novas Gerações Pós-Pandemia” através do Linkedin.
Além disso, ao olhar para organizações como as cooperativas, geralmente criadas e mantidas há décadas, é possível notar uma grande distância etária entre o colaborador mais velho e o mais jovem. Diferença essa que tende a aumentar com o prolongamento da atuação profissional e o início cada vez mais precoce de carreiras, duas vertentes crescentes no mercado atual.
A capacidade de equilibrar diferentes posicionamentos e gerações em uma única cultura, que dialogue mais facilmente com ambos, se tornou, então, a saída para
muitos desses problemas. Oportunidade perfeita para o cooperativismo se destacar.
De olho em novos talentos
Seguindo essa onda de renovação, recentemente, a Sicredi Novos Horizontes PR/SP integrou a iniciativa da Central Sicredi PR/SP/RJ, juntamente com a Tecpuc, de oferecer a vinte jovens bolsistas de colégios estaduais um curso profissionalizante sobre cooperativismo de crédito, visando apoiar a inserção no mercado de trabalho.
Os alunos foram selecionados através de um processo seletivo em conjunto com as escolas considerando, entre outros requisitos, o desempenho escolar e o cunho social do Projeto, que é oportunizar a formação aos alunos com baixa renda familiar.
Para o presidente da Sicredi Novos Horizontes PR/SP, Luciano Dias Carneiro Kluppel, abrir espaço para futuros profissionais integrarem a cooperativa investindo em formação e atraindo o interesse dos jovens pelo cooperativismo é uma forma eficaz de se comunicar com a nova geração. “Com a formação criamos um banco de talentos e podemos considerar os alunos como futuros candidatos, proporcionando a eles a possibilidade de trabalhar em uma cooperativa e terem uma renda para investirem em seu futuro e seus sonhos. A cooperativa ganha mais visibilidade através do Programa pelo impacto na comunidade e na vida destes jovens”.
O cooperativismo de crédito é uma das vertentes do movimento que mais crescem no mercado e no Brasil. Levantamento recente do AnuárioCoop 2022 – Dados do Cooperativismo Brasileiro, realizado pelo Sistema OCB, mostra que só no Paraná o número de cooperados no ramo deu um salto de mais de 200 mil de 2020 para 2021. Ainda, estima-se que, no momento, quase metade da população do Paraná tenha alguma ligação com o cooperativismo e atrair a juventude para esse contexto já é parte inerente desse progresso.
Nesse sentido, o pilar educação, presente na Agenda BC#, parte do planejamento estratégico do Banco Central do Brasil (BCB), e nas metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para um mundo melhor, é uma importante ferramenta para vencer um grande desafio global, o de incluir jovens nas instituições financeiras cooperativas. “Toda vez que um jovem é convidado a estudar, aprender, está dedicando seu tempo à educação. Toda vez que a cooperativa investe nisso, entendemos que possibilitamos a eles estarem estudando ao invés de estarem na rua ou em atividades que não lhe darão futuro”, acrescenta Luciano.
“Queremos ver jovens inseridos no mercado de trabalho, dedicados por um propósito e com esperança de um futuro, possibilitamos a eles através de programas como estes que seus sonhos permaneçam vivos”
Luciano Dias Carneiro Kluppel – Sicredi Novos Horizontes PR/SP
De geração para geração
No agro, outro gigante do cooperativismo, o cenário é ainda mais propício. Segundo informações do AnuárioCoop 2022, em 2021 o ramo gerou 239 mil empregos diretos no país. No Paraná, por exemplo, ocorreu um aumento de mais de 10 mil pessoas no número de cooperados e empregados, reforçando um dos motivos pelos quais o Estado ocupa a posição de grande potencia nacional, possuindo as maiores cooperativas agro do Brasil.
Entre muitos fatores, esse fenômeno de crescimento tem acontecido também motivado pela sucessão familiar, onde fidelizar a juventude envolve ações além das atividades diárias e procuram ampliar – e perpetuar – a indispensável atuação do setor.
Com o objetivo de formar líderes e proporcionar conhecimento para quem assumirá os negócios da família no futuro, foi criada em 2019, a partir do movimento de jovens na Castrolanda, a Comissão Jovem Cooperativista. Além dos cursos, formações, visitas técnicas e de benchmarking, imersões em cooperativismo e participações nos comitês setoriais, a Comissão Jovem Cooperativista realiza, anualmente, o GiraJovem, evento com palestras e discussões relacionadas ao agronegócio e à sucessão familiar. Atualmente, já foram seis edições que impactaram mais de 200 jovens de 18 a 35 anos.
O Cooperado e Coordenador da Comissão Jovem Cooperativista, Eduardo Groenwold, conta que um dos melhores meios de vencer o desafio de aproximar os jovens dos negócios da família e da cooperativa é mostrando que eles fazem parte e também devem acompanhar e auxiliar nas decisões. “Uma das iniciativas da Comissão é a participação dos jovens cooperativistas nos comitês setoriais. Eles se inscrevem, passam por entrevistas com as áreas de Gestão de Pessoas e Cooperativismo e com a própria Comissão e então são selecionados para a participação. Nas reuniões, eles podem acompanhar as discussões relacionadas à área de atuação da família e as decisões tomadas pelos membros dos comitês”.
Mas somente atrair não é o suficiente! O trabalho ligado aos jovens precisa ser efetivo e, principalmente, duradouro. Nesse contexto, sem dúvidas, um dos maiores aliados é o modelo cooperativista. “Em nossas iniciativas, aperfeiçoar os conhecimentos deles não apenas nas questões técnicas das áreas de negócio, mas também em cooperativismo, para que entendam a essência da Cooperativa e se interessem cada vez mais em participar das discussões da Castrolanda”, ressalta Eduardo.
“Entendemos que os jovens são a estratégia para a sustentabilidade dos negócios e da Cooperativa”
Eduardo Groenwold – Cooperado e Coordenador da Comissão Jovem Cooperativista
Para os próximos meses, a Castrolanda pretende dar sequência aos projetos que fazem parte do planejamento da Comissão e também garantir o sucesso de um novo projeto: os grupos de estudos para jovens cooperativistas. A iniciativa é realizada mensalmente e traz sempre um tema relacionado à uma das áreas de negócios da cooperativa, tendo como público-alvo cooperados e filhos de cooperados com idade entre 15 e 35 anos.
Por Fernanda Ricardi Silva – Redação MundoCoop