Desde a pandemia, as cooperativas vêm se desafiando a encontrar a melhor forma e modelo de trabalho. Entre os principais temas que o RH das empresas e das cooperativas terão que enfrentar nos próximos anos estão a adoção do mais adequado as suas realidades.
Qualquer um deles apresentam desafios, lados positivos e negativos que as cooperativas precisam enfrentar. Apesar das pesquisas indicarem o híbrido como o mais apreciado, algumas cooperativas têm adotado o presencial, por apresentarem uma maior aproximação com os associados e cooperados.
Alexandre Cyriaco, gerente de RH da Coop explica que na prática, o cenário em que vivemos tem adotado o presencial. “No entanto, as empresas, perceberam que há espaço para uma forma de trabalho híbrida, onde o colaborador teria direito a um ou dois dias de trabalho remoto e os outros dias presencialmente nas empresas”, lembra Cyriaco.
Com tantas opções, um dos maiores desafios das cooperativas tem sido encontrar um modelo de trabalho que melhore não só a produtividade dos colaboradores, mas se preocupe com as suas saúdes emocionais e mentais.
Antônio César Marini, gerente de Gestão de pessoas da Coamo Agroindustrial Cooperativa conta que é importante colocar na balança temas como a possível volta ou não para o trabalho presencial, o luto experimentado por alguns que perderam seus familiares e amigos do trabalho ou fora dele, as sequelas deixadas para quem ficou com Covid-19, o absenteísmo e as incertezas que seguem com relação ao controle da doença.
Por conta desses aspectos, as modalidades que exigem presença vão sofrer com a fuga de profissionais que desejam um modelo de home office/anywhere office ou, pelo menos, modelos híbridos.
“Essa migração irá acelerar a qualificação de eixos inteiros da cadeia econômica e, portanto, tornar mais rápidas as mudanças em curso”, lembra Ana Tomazelli, psicanalista e idealizadora do IPEFEM (Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), pós-graduada-graduada em Gestão de Pessoas pela FGV, Administração e Gestão de Empresas pelo IBMEC, Psicanálise e Saúde Mental (IBCP).
Nesse processo é importante envolver as equipes de Recursos Humanos das cooperativas. Elas conhecem os benefícios do home office e do trabalho híbrido, porém é preciso analisar o impacto que as suas culturas terão, caso adotem um ou outro modelo.
Eliane Rodrigues, Consultora e mentora profissional lembra que cada um deles exigirá a transformação das relações entre colaboradores e gestores. Dentro desse processo será necessário intensificar as competências das equipes de gestão, criando formas de conexão até então predominantes, com recursos virtuais de conexões embasadas em treinamentos.
“A chave do sucesso aqui é ser capaz de medir a produtividade e controlar os ganhos e os ônus das soluções adotadas, já que o mercado está superaquecido para muitas profissões e para algumas cooperativas estas políticas podem significar a sobrevivência do negócio”, aconselha Sandra Freitas, CEO da Good Jobs Consultoria, empresa especializada em RH, recolocação profissional e transição de carreira.
4-Day Week
É possível que novos modelos de trabalho sejam criados, entre eles o 4-Day Week. O movimento “4-Day Week” implanta a semana de quatro dias de trabalho. Ele nasceu em 2019, por uma iniciativa realizada na Nova Zelândia, que ganhou força na pandemia de Covid-19 e se espalhou por países da Europa, África e América do Norte.
No mundo 500 empresas testaram a modalidade de jornada em que o profissional continua recebendo 100% do salário, mas trabalha 80% do tempo. Em troca, se compromete a manter 100% de produtividade, no modelo que ficou conhecido como 100-80-100.
Natália Guazelli, advogada especialista em Direito Empresarial, conta que um trabalhador satisfeito vai produzir mais e melhor. “Projetos como esse podem ajudar no amadurecimento dos colaboradores, pois saúde e motivação podem se reverter em maior produtividade”, explica.
O presencial, e outras o híbrido
Algumas cooperativas consideram o modelo presencial o mais adequado, por uma série de fatores. Já outras percebem no híbrido uma melhor opção tanto para as cooperativas, quanto para os seus colaboradores.
Uma delas, a Sicredi Pioneira optou pelo presencial por considerá-lo, entre outras coisas, o mais indicado para a vivência do colaborador da cultura da organização. Daniela Migliorini Cervo, assessora de Gestão de Pessoas da Sicredi Pioneira, conta que a cooperativa o adotou, por primarem sempre pelo atendimento ao associado, com atendimento consultivo, e o relacionamento. “Além dos colaboradores viverem a cultura organizacional da instituição.
Ainda assim, nossa liderança educadora, atua de forma próxima ao colaborador, e com Feedback anytime o que reflete na nossa pesquisa de clima que vem em uma crescente e neste ano chegamos a 93% índice de confiança na nossa pesquisa de clima”, exemplifica.
Já na Coop, a cooperativa decidiu apostar no modelo híbrido, que em sua visão traz vantagens para a organização e colaboradores. “Aqui na empresa implantamos o modelo de 4 dias de trabalho presencial e 1 dia de remoto. Contudo, naqueles casos em que há necessidade de um trabalho com maior concentração, ou até mesmo que seja um trabalho realizado de forma exclusivamente individual, sem a interferência ou ajuda de outras pessoas da equipe ou mesmo de outras áreas, o gestor pode decidir por conceder mais dias de trabalho remoto. Isso com a autorização prévia da diretoria imediata ou do RH. Nossa maior preocupação é com relação a Cultura organizacional, uma vez que estamos passando por um processo de transformação cultural. Além disso, manter o DNA Cooperativista é muito mais difícil com trabalho exclusivamente remoto”, conta Cyriaco.
As pesquisas apontam o híbrido como o mais aceitável, mas existem desafios
Entre as pesquisas que indicam qual seria o melhor deles, está a da Accenture mostrando que 63% das empresas de alto crescimento implementaram modelos de trabalho flexíveis. Ele permite que a produtividade seja realizada em qualquer lugar. Por outro lado, o mesmo estudo, apontou que 69% das empresas, com crescimento negativo ou nulo rejeitam o conceito de trabalho híbrido.
Segundo um estudo aplicada pela universidade de Stanford, mais da metade dos trabalhadores globais (55%) preferem um modelo que combine as formas presencial e remota, demonstrando a crescente aceitação dessa abordagem.
Um estudo da PwC indica que 77% das organizações do Reino Unido planejam reconfigurar seu espaço de escritório existente e metade reduzirá o tamanho dele, o que significa uma economia de recursos para empresas e funcionários em teletrabalho.
No entanto, apesar dessas estatísticas positivas, a gestão de equipes híbridas nas cooperativas é repleta de desafios. Para que funcione bem, elas devem ser flexíveis e considerar o impacto sobre colaboradores, clientes e outras partes interessadas.
Rejane Matos, administradora com especialização em Inteligência de Mercado e gerente de Marketing do Grupo Soulan e da Thomas International Brasil explica que o ideal é mesclar o trabalho presencial com o remoto e compreender cada perfil de profissional.
A especialista lembra um estudo realizado por um psicólogo da universidade de Harvard, William Marston, que identificou quatro preferências comportamentais em seu famoso modelo DISC.
Ela relata que os colaboradores com perfis de alta dominância, se mantêm motivados nos modelos híbridos, pois tem iniciativa e focam nos resultados. Já os com o perfil influentes evoluem quando tem interações sociais. Portanto, os líderes devem promover reuniões online. Quando o colaborador apresenta alta estabilidade, ele necessita de atualizações detalhadas e uma comunicação mais eficaz.
Por último, o perfil de alta conformidade, que são detalhistas e muito focados, podem ter dificuldades de se adaptar nos modelos híbridos. Para facilitar o processo os líderes devem fornecer atualizações detalhadas e planos estruturados.
Por Priscila Gorzoni – Redação MundoCoop