O cooperativismo no Brasil vem se desenvolvendo de maneira sólida e promete avançar pelos próximos anos. Segundo dados do Anuário Coop, em 2021 os ativos totais do setor alcançaram a marca e R$ 784,3 bilhões, um aumento de 20% em relação a 2020. Além disso, o cooperativismo alcançou 26% de aumento na soma das associações, se comparados com 2020 e 2021.
O ano de 2022, segundo os dados da FEBRABAN, encerrou com 799 cooperativas financeiras no Brasil, compreendendo R$ 550 bilhões de ativos, o que significa uma participação de 4,04% nos ativos do Sistema Financeiro Nacional, e 5,78% das operações de crédito. As cooperativas financeiras fecharam o ano com 17 milhões de cooperados, o que representa 8% da população brasileira.
Esse número, porém, também concentra cases onde a presença do cooperativismo transformou a realidade de municípios brasileiros. Como é o caso de São Roque de Minas, que viu seu desenvolvimento avançar após a chegada as cooperativas de crédito.
Na cidade, após a reunião de 27 produtores em julho de 1991, nasceu a Sicoob Sarom, uma Cooperativa de Crédito Rural de São Roque de Minas. O sucesso foi automático, dois meses após a sua instalação a cooperativa conseguiu fechar o seu balanço com R$ 4,5 mil. Em dezembro de 2011 chegou a R$12 milhões.
O caso não é algo isolado e o histórico do cooperativismo brasileiro de crédito tem demonstrado cumprir o seu objetivo, auxiliar as necessidades da comunidade e trazer uma melhor distribuição dos recursos financeiros.
O que elas fazem
O principal diferencial das cooperativas de crédito é o oferecimento de condições mais adequadas à realidade financeira dos seus cooperados. Além disso, o atendimento nas agências, promovendo troca de experiências e formação sobre cooperativismo e educação financeira, são motivos de destaque. “Dessa forma, o cooperativismo de crédito vem se desenvolvendo no sistema financeiro, se apresentando como a principal instituição financeira para mais de 4,16 milhões de pessoas no Brasil. Somado ao fato de possuir a maior rede de atendimento no país, com 7.976 pontos de atendimento, o sistema nacional de crédito cooperativo se consolida como um dos principais agentes de inclusão financeira”, aponta Carlos André Santos de Oliveira, diretor-executivo do Sistema OCB/ES.
O Sicoob, sistema de crédito cooperativo do Brasil, possui 42% dos números do SNCC, e, considerando os balanços fechados em dezembro de 2022, conta com 343 cooperativas, R$ 230 bilhões de ativos e R$ 138 bi de crédito.
No final do ano, o Sicoob contava com 7 milhões de cooperados, número que aumenta diariamente com a expansão do sistema. “O Sistema Nacional de Crédito Cooperativo cresceu 26% em 2021 e 29,22% em 2022, demonstrando solidez e constância, enquanto o Sistema Financeiro Nacional chega próximo a 15%. Estima-se que o crescimento do Cooperativismo Financeiro em 2023 fique entre 20% e 25%”, conta Eliane Jaqueline Metzner, Diretora de Mercado do Sicoob Credicapital.
Os especialistas explicam que o crédito é o principal impulsionador de uma economia, pois proporciona meios de aumentar a produção em todos os setores. E o cooperativismo avança contribuindo com a economia global. Por outro lado, as cooperativas são agentes de educação financeira no dia a dia, por meio do atendimento, conhecimento dos negócios e ofertas de soluções adequadas a cada caso, customizando as relações. “O Banco Central apoia e reconhece o papel das cooperativas no acesso ao crédito, investimentos e serviços financeiros, inclusão social e desenvolvimento econômico dos municípios, onde, em muitos deles, é a única Instituição financeira e propulsionador do crescimento das economias locais”, complementa Metzner.
Como isso ocorre
As cooperativas financeiras possuem em seu planejamento estratégico os objetivos de expansão e crescimento para a consolidação da presença no mercado.
Eliane exemplifica esse funcionamento por meio de parcerias com associações comerciais, cooperativas de produção e trabalho, sindicatos e entidades de classe. “Eles levam benefícios à população e tornam mais justo o acesso aos produtos e serviços financeiros. Também atuam pontualmente, conhecendo o indivíduo, suas relações, projetos e necessidades”, explica a Diretora de Mercado do Sicoob Credicapital.
Para que isso ocorra, e dê certo, é preciso enfrentar alguns desafios, tanto para as cooperativas financeiras, como para o mercado em geral. Eles vão desde questões relacionadas ao avanço acelerado das tecnologias, processos internos, inadimplência, globalização de investimentos. “O principal deles é atrair e reter as pessoas para que participem ativamente da vida da Cooperativa, tanto nas operações quanto nas ações de engajamento. Vivemos em um mundo high-tech, de conexões cada vez mais online, onde a nossa identidade é um grande diferencial, por humanizar as relações. Não somos digitais, somos virtuais através de nossas equipes de apoio e dos canais de atendimento, desde aplicativos, sites, WhatsApp, telefone, videochamadas. Por meio do relacionamento, oferecemos soluções adequadas às suas necessidades e aderentes aos seus projetos de desenvolvimento”, diz Elaine.
Destaque nacional
Em Minas Gerais, só as cooperativas de crédito possuem 1205 Postos de Atendimentos, presentes em 586 cidades, o que representa 68,7% dos municípios. O setor de crédito é o que tem o maior número de cooperados e teve como sua maior movimentação em 2020.
As 193 cooperativas financeiras mineiras reuniram 1,7 milhão de cooperados, mantiveram 13,4 mil empregados e movimentaram R$ 33,5 bilhões. Apesar da crise econômica gerada pela pandemia de COVID-19, as cooperativas foram responsáveis por 45,7% de toda a movimentação do cooperativismo mineiro em 2020.
Já no Espírito Santo, elas estão presentes em todos os 78 municípios do estado. “O cooperativismo capixaba vem, ano a ano, demonstrando sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento sustentável nas cidades e no campo, gerando renda e emprego, aumentando a produtividade e promovendo as melhores práticas de gestão”, lembra o diretor-executivo do Sistema OCB/ES.
Oliveira destaca como referência em termos de valores, os mais de R$17 bilhões em tributos recolhidos pelas cooperativas e mais R$ 18 bilhões referentes ao pagamento de salários e outros benefícios destinados a colaboradores. Ele conta que em 31 de dezembro de 2021, o Sistema OCB do Espírito Santo registrava um total de 119 cooperativas, que reuniam 610.969 cooperados e empregavam 9.955 colaboradores.
Enquanto o número de cooperativas ficou estável em relação ao ano anterior, houve um crescimento de 21,6% no número de cooperados e de 3,8% no quadro de colaboradores.
“De acordo com esses números e com base em dados do IBGE, podemos estimar que, em 2021, mais de 1,6 milhão de pessoas estavam envolvidas com o cooperativismo no Espírito Santo, número que é 4,4% superior ao registrado em 2020 e equivale a 39% da população total do estado”, ressalta.
O valor das contribuições das cooperativas capixabas em impostos e taxas teve, em 2021, um crescimento de 28,9%, somando mais de R$ 553 milhões em tributos pagos nos âmbitos federal, estadual e municipal. O faturamento teve, em 2021, um crescimento da ordem de 27%, alcançando R$ 8,4 bilhões, o equivalente a 5,5% do PIB nominal do Espírito Santo. Já o patrimônio líquido alcançou um valor total de R$ 5,6 bilhões, o que representa um crescimento de mais de 55% em relação ao registrado em 2020.
Carlos conta que as estimativas e perspectivas indicam um futuro brilhante para o cooperativismo no estado. Esse modelo de negócio tem se mostrado uma alternativa sólida no Espírito Santo, especialmente em um cenário de incertezas e desafios. “As cooperativas têm desempenhado um papel fundamental na economia local, promovendo a inclusão social, fomentando o empreendedorismo e fortalecendo as comunidades. Um dos pontos que o estado está avançando é na diversificação dos setores de atuação do cooperativismo, como distribuição de energia fotovoltaica e a variedade dos produtos de agricultura familiar, sem falar na ampliação do cooperativismo de crédito, responsável por grande parte de número de cooperados registrados em cooperativas. Essa diversificação reflete a confiança dos empreendedores e da população no modelo cooperativista como uma opção viável e benéfica para o desenvolvimento econômico”, lembra ele.
Outra estimativa positiva trazida pelo especialista está relacionada ao aumento do quadro de associados nas cooperativas já existentes. Ele explica que com a conscientização sobre os benefícios do cooperativismo, mais pessoas têm se interessado em se tornar parte ativa dessas organizações. “Além disso, o fortalecimento das parcerias entre as cooperativas e o poder público tem contribuído para a ampliação do alcance e da influência dessas entidades. Um dos destaques dentro do tema é a busca por novos mercados. O cooperativismo capixaba tem buscado parcerias e intercâmbios comerciais, tanto no âmbito regional quanto internacional. Essa abertura para novos mercados amplia as oportunidades de negócios para as cooperativas e impulsiona a economia do estado como um todo”, complementa.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop