Oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, o Dia Internacional das Mulheres é celebrado em todo o mundo desde o início do século 20. Ao longo dos anos, a data se transformou – com as celebrações incorporando novas reivindicações, alinhadas com os retrocessos e avanços da sociedade.
A origem da data escolhida para celebrar as mulheres tem algumas explicações históricas. No Brasil, é muito comum relacioná-la ao incêndio ocorrido em Nova York no dia 25 de março de 1911 na Triangle Shirtwaist Company, que matou 146 trabalhadores — 125 mulheres e 21 homens (na maioria, judeus) — e trouxe à tona as más condições enfrentadas por mulheres na Revolução Industrial. No entanto, há registros anteriores a esse episódio que trazem referências à reivindicação de mulheres para que suas causas fossem incluídas nos movimentos de luta de trabalhadores.
No Brasil, 2023 trouxe grandes avanços na busca pela igualdade de direitos trabalhistas entre homens e mulheres. Sancionada em julho, no dia 23 de novembro o Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, assinou o Decreto nº 11.795/2023, regulamentando a Lei nº 14.611 que estabelece a obrigatoriedade de igualdade salarial entre mulheres e homens. O decreto trata da transparência e igualdade salarial, além de critérios remuneratórios entre mulheres e homens que exercem trabalho de igual valor ou atuam na mesma função. As medidas se aplicam às empresas com 100 ou mais empregados e que tenham sede, filial ou representação no Brasil.
Entre diversas iniciativas voltadas à participação da mulher no mercado de trabalho, está o movimento Elas Lideram 2030, que atua em parceria com o Pacto Global da ONU Brasil e ONU Mulheres. O projeto tem como ambição ter 1500 empresas comprometidas com a paridade de gênero na alta liderança até 2030. Até 2025, espera-se chegar à marca de 30% de mulheres em cargos de alta liderança e, em 2030, eleva-se para 50%.
Cresce participação feminina no cooperativismo
Segundo dados do Anuário do Cooperativismo 2023, houve um crescimento da participação feminina no cooperativismo em 2022, com as mulheres representando 41% dos mais de 20 milhões de cooperados no Brasil, de acordo com o levantamento mais recente do Sistema OCB. Também houve aumento da participação feminina em cargos de liderança nas cooperativas. Em 2021, 20% dos dirigentes de cooperativas eram mulheres. No ano seguinte, esse número subiu para 22%, sendo o segmento de crédito um dos que mais contribuíram para esse aumento.
Outro dado do Anuário que levanta a questão da equidade de gênero no cooperativismo é a porcentagem de empregados homens e mulheres nas cooperativas. Em 2022, houve um aumento de 15% da participação feminina em relação a 2021, com o número de colaboradoras atingindo 51% da força de trabalho cooperativa e ultrapassando a participação masculina.
Liderança
Segundo os dados do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) as mulheres ocupam apenas 15,2% das cadeiras nos conselhos administrativos, fiscais e diretorias de capital aberto do país. A pesquisa demonstrou, que embora o número seja baixo, ele teve um pequeno aumento com relação a 2022, que era 14,3%. Com as cooperativas ganhando mais espaço e participação nos últimos anos, os números da liderança feminina no cenário completo, tem sido promissores ano após ano.
“Apesar do número de mulheres que têm ensino superior ser maior no mercado de trabalho, os cargos de posição executiva de alta gestão e conselhos de administração são ocupados, em sua maioria, por homens. Para diversos autores, a diversidade é importante para os negócios, visto que uma maior diversidade na força de trabalho aumenta a eficiência organizacional e, consequentemente a produtividade, permitindo que a empresa tenha acesso a novos segmentos de mercado, gerando aumento da lucratividade”, explicou Heloísa Helena Lopes, Vice-presidente do Conselho de administração da Sicredi Pioneira, em entrevista à MundoCoop.
Em todo o país, algumas cooperativas apresentam histórias ímpares quando o assunto é a liderança feminina. A Únilos, que integra o Sistema Ailos e conta com mais de 1,5 milhão de cooperados, foi a primeira Cooperativa de Crédito do Brasil a receber o Selo da ONU Mulheres e se destaca atualmente, por ter uma diretoria 100% feminina. Em reportagem exclusiva, Silvania Junckes de Amorim – diretora administrativa na cooperativa – afirmou à MundoCoop que o feito foi realizado graças a inúmeros fatores, incluindo o importante passo da adesão a estratégias da ONU. “A Únilos, com uma diretoria 100% feminina, aderiu aos Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU, garantindo não apenas a igualdade salarial, mas também proporcionando oportunidades iguais de crescimento para homens e mulheres”, enfatizou.
Em outra história de destaque, Maura Carrara, presidente da cooperativa Sicredi Nossa Terra no Paraná, conquistou o seu espaço de forma resiliente. Reconhecida e respeitada por todo o setor cooperativista, ela foi a idealizadora do “Chá das Bruxas”, premiado em 2017 na Áustria, pelo Woccu – Word Council of Credit Unions (Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito). O projeto já mobilizou e formou milhares de mulheres líderes para o cooperativismo de crédito. “É preciso questionar a ausência de contribuições femininas, sentir falta de visões diferentes. É preciso estar aberto e preparado para novas ideias. Mas acima de tudo, vejo que é preciso resiliência, ser incansável, convidar e trazer para a mesa, ouvir e valorizar a diversidade através de implantação de iniciativas positivas, do contrário levaremos séculos para chegar à paridade”, relatou Carrara, em uma entrevista exclusiva à MundoCoop.
De norte a sul do país, exemplos evidenciam que há uma longa caminhada para a conquista plena de uma equidade para homens e mulheres no mercado de trabalho. Com as cooperativas atuando de forma massiva em diversas frentes, tal tarefa tem avançado degrau a degrau nos últimos anos, lançando luz sobre um futuro com melhores perspectivas. Apesar dos desafios, as cooperativas seguem compromissadas com esse objetivo, e devem se firmar como grandes exemplos para o mercado externo.
Por Redação MundoCoop