Imagine um grupo de professores que, depois de 20 anos trabalhando na mesma escola, se vê, de repente, sem trabalho. Por conta da crise e da falta de planejamento, o estabelecimento foi obrigado a fechar as portas. Mas onde muitos profissionais veriam um beco sem saída, eles enxergaram uma oportunidade! E se em vez de procurarem emprego em outros colégios, eles unissem forças para abrir o próprio negócio? É aí que o cooperativismo entra nessa história — como um caminho para quem acredita no empreendedorismo coletivo.
De acordo com o dicionário, a palavra empreendedorismo significa “disposição ou capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos, serviços e negócios”. Somada ao adjetivo coletivo, temos um novo conceito que tem tudo a ver com aquele antigo (e verdadeiro) ditado popular: “a união faz a força”.
Empreendedorismo coletivo é, portanto, o nome que se dá a diversas iniciativasque buscam resultados comuns para um grupo de pessoas ou organizações. Incluem-se aí as entidades de representação, os clubes de compras, algumas fundações e, é claro, as cooperativas. Afinal, onde existe a união de pessoas pelo bem coletivo, existe o cooperativismo — uma das formas de empreender coletivamente de maior alcance e relevância do Brasil.
“Hoje, quase 19 milhões de brasileiros estão vinculados a uma cooperativa. Nosso modelo de negócios gera 493 mil empregos diretos e injeta R$ 784,3 bilhões na economia”, afirma Tânia Zanella, superintendente do Sistema OCB — entidade de representação do cooperativismo no Brasil.
Ainda segundo a executiva, o cooperativismo é destaque em setores importantes da economia como o Agronegócio, a Saúde e a Geração de Energia Limpa e Renovável. “Também somos referência quando o assunto é sustentabilidade, valorização das pessoas e cuidado com o meio ambiente”, garante.
De olho no futuro
A primeira cooperativa da história nasceu da necessidade de um grupo de trabalhadores da Inglaterra do século XIX de buscar melhores condições de vida. Para aumentar seu poder de compra durante uma crise, 28 tecelões se uniram para comprar produtos em grandes quantidades e estocá-los em um armazém. Sempre que precisavam, podiam retirá-los a preços mais baixos que nos mercados locais, em uma estratégia que deu origem ao que se conhece atualmente como economia colaborativa.
Se no começo, a ferramenta dos cooperativistas foi a compra coletiva, hoje as possibilidades são diversas. “Nosso modelo de negócio é versátil. Posso dizer, sem medo de errar, que ele se adapta a diversas realidades e — mesmo com quase 180 anos — segue moderno e atual”, comemora a superintendente do Sistema OCB.
Uma prova de que o cooperativismo é um modelo de negócio cada vez mais atual é o crescente surgimento de empreendimentos coletivos cooperativos baseados em plataformas digitais, uma inovação recente do mundo do trabalho.
Por meio de sites e aplicativos, as plataformas conectam prestadores de serviço ao consumidor final, em um modelo em que cada trabalhador é responsável por sua geração de renda. Elas surgiram com os aplicativos de transporte, de entregas, quenem sempre garantem condições justas para os trabalhadores que atuam como prestadores de serviços.
A solução cooperativista foi criar plataformas em que os trabalhadores são também os donos e gestores do negócio. Nelas, a política de remuneração e divisão de resultados é definida coletivamente. Assim, ninguém é explorado por ninguém. Quer mais? Sites e aplicativos cooperativistas devem criar fundos para a promoção da qualidade de vida e do desenvolvimento desses cooperados.
“As cooperativas de plataforma são uma resposta à precarização das relações trabalhistas do século XXI”, explica Tania Zanella. “Elas facilitam a conexão dos prestadores de serviços com os clientes finais, remunerando os profissionais de forma justa e transformando-os em donos do próprio negócio. É um modelo de empreendimento coletivo mais justo e sustentável, que utiliza a tecnologia para melhorar a vida das pessoas, ao invés de explorá-las.”
Atualmente, existem cerca de 300 cooperativas de plataformas no mundo. No Brasil, as pioneiras foram a Señoritas Courier, aplicativo de entregas do estado de São Paulo; a Pay on Demand (PODD), de transporte de passageiros, do Espírito Santo; e a Ciclos, de energia compartilhada, planos de saúde e telefonia e dados móveis, também do ES.
Curiosidade: Para empreender coletivamente no cooperativismo, é preciso formar um grupo de, no mínimo, 20 pessoas com um mesmo propósito. No caso das cooperativas de Trabalho, Produção de Bens e Serviços, 7 pessoas já são suficientes. Quer saber mais? Clique aqui.
Fonte: SomosCoop