As expectativas são positivas para as cooperativas que desejam usar as ferramentas virtuais, como o metaverso, avatares, inteligência artificial em seus negócios. Para se ter uma ideia do potencial desse setor, as estimativas são de que até 2023 esse mercado crescerá aproximadamente U$ 1 trilhão, segundo uma pesquisa realizada pela GlobalData. Só em 2021 esse setor rendeu o valor de US$22,7 bilhões e os especialistas da área indicam aumentos e investimentos das empresas nos próximos anos.
Quando o assunto é o metaverso, as organizações que querem alcançar o sucesso em seus negócios precisam estar de olho nessa nova ferramenta. Um relatório da Gartner indicou que até 2026, 25% das pessoas passarão pelo menos uma hora por dia no metaverso durante o trabalho, os estudos, as compras, relacionamentos e entretenimento. No mesmo estudo indica-se que 30% das organizações no mundo terão produtos e serviços no metaverso. Kenneth Corrêa, professor de MBA da FGV explica que o metaverso já demanda uma série de serviços que precisam de profissionais especializados para a execução no ambiente imersivo. “Precisamos considerar o cenário de trabalhar no mesmo cargo e empresa que você já trabalha, mas usando os metaversos. Também há um outro cenário, que é trabalhar em um novo cargo ou função, exclusivamente dentro de um metaverso”, lembra.
O metaverso ganhou destaque em outubro de 2021, quando Mark Zucherberg resolveu mudar o nome da controladora do Facebook, Instagram e Whatsapp e investiu no “futuro da comunicação”. “A Inteligência Artificial deve ganhar ainda mais força nos próximos sete anos por sua versatilidade. Projeções da McKinsey dão peso a essa expectativa de crescimento e consolidação, já que mostram a geração de US$ 13 trilhões em termos globais. Aos que desejam prever as próximas tendências, fica o alerta de que a tecnologia é cíclica. O que perdeu o brilho em um dia, pode irradiar mais forte que o sol em outro. Avaliar os lançamentos e analisar o potencial a longo prazo faz toda a diferença para empresas que querem chegar mais longe”, afirma Vinícius Gallafrio, CEO da MadeinWeb e Mobile.
As cooperativas estão investindo
Conectadas às novidades, várias cooperativas tem investido nas inovações tecnológicas, entre elas o metaverso. Uma delas, o Sicredi realizou 4.742 iniciativas nas edições da Semana Nacional de Educação Financeira em 2022 e 2023, alcançando mais de 20 milhões de pessoas, e entre as ferramentas usadas, está o metaverso. Em 2023, foi lançado um universo do Sicredi no Roblox, um jogo no metaverso que visa trabalhar, de forma lúdica, a educação financeira e o cooperativismo com crianças e adolescentes. O projeto foi desenvolvido pelo Lab de Inovação do Sicredi em parceria com a Fundação Sicredi, o jogo, chamado “Universo S902”. Durante a experiência as crianças e adolescentes puderam interagir com os habitantes do universo, desenvolver atitudes cooperativas que os recompensam, fazer compras valorizando o comércio local, aprender a usar um caixa eletrônico, entre outras. Desde o lançamento, 4,7 mil crianças já foram impactadas pelo jogo.
A Sicoob Credicitrus usou o metaverso no evento de promoção do Circuito Comemorativo Credicitrus. Ele reuniu milhares de pessoas nas cidades de Frutal, em Minas Gerais, Colina, Fernandópolis, Guaíra, Itápolis, Jales, José Bonifácio, Matão, Monte Alto, Morro Agudo, Novo Horizonte, Olímpia, Penápolis, Taquaritinga e Viradouro, em São Paulo. Durante os três dias, os participantes puderam acompanhar as apresentações de artistas locais e da região, e aproveitar as atividades disponíveis gratuitamente como apresentações teatrais, pílulas de conhecimento, contação de histórias, oficinas de cupcake, recicláveis e pinturas, pipoca, algodão doce, brinquedos infantis, área de inovação com simuladores (experiência no metaverso), parede de escalada, balão e a carreta Gênese, do Hospital do Amor.
Cada vez mais conectada ao universo digital, o Sicoob Metropolitano criou um canal de atendimento no metaverso, que desenvolveu avatares com o objetivo de possibilitar a interação entre as pessoas, cooperados e associados. O objetivo do projeto era reproduzir no espaço virtual o ambiente físico, usando as tecnologias da realidade aumentada e da internet. O projeto de atendimento no metaverso do Sicoob surgiu por meio de uma parceria com uma startup americana de NFT (Non-Fungible Token) envolvida com a preservação ambiental. E a ideia começou a ser gestada na organização em 2022, quando a área de inovação começou a pesquisar sobre o assunto e a entender se a demanda fazia sentido na instituição.
Uma equipe multidisciplinar foi treinada e formada para trabalhar em conjunto com a startup. A cooperativa precisou também desenvolver um portal web, adquirir equipamentos de realidade virtual para proporcionar a experiência imersiva. Rogério Silva, head de inovação do Sicoob Metropolitano, conta que para acessar o canal virtual, o cooperado não precisará usar os óculos de realidade aumentada ou outro dispositivo. “O objetivo é simplificar o processo, com a interação por meio do acesso ao ambiente do site por meio de um login. A implementação do projeto está em processo final e em breve todos os cooperados terão a oportunidade de ter essa experiência de atendimento”, diz.
Mundo real do virtual
A proposta do projeto do Sicoob aproxima um pouco mais o digital do mundo real. Isso ocorre por meio da interação do usuário no mundo digital com uma pessoa física representada por um avatar. “Buscamos humanizar o atendimento digital, encontrando um meio termo entre o atendimento analógico e o digital”, explica Silva. Em sua fase de teste a proposta já apresentou resultados positivos, abrindo novas contas e prospectando outros cooperados. Ela se baseia na união da segurança com a agilidade do ambiente virtual
Tudo começou na pandemia, quando a organização se viu obrigada a investir no universo tecnológica, por conta da aceleração da digitalização do sistema financeiro e bancário. Nem tudo foi fácil durante o seu desenvolvimento, um dos primeiros desafios foi compreender o que era o metaverso e como usá-lo. “Ele é um ambiente onde existem várias soluções, muitas vezes não compatíveis entre si, o que levantava muitas dúvidas na fase de descoberta da tecnologia”, lembra Rogério.
Outro obstáculo foi ter clareza nos objetivos do projeto com relação aos negócios e alinhá-lo as expectativas dos cooperados. Além disso, foi um desafio ter clareza sobre o objetivo do projeto frente ao negócio e alinhar as expectativas da cooperativa com relação ao uso do metaverso. O head de inovação do Sicoob Metropolitano conta que havia muitas dúvidas relacionadas à integração das áreas da cooperativa, principalmente temas relacionados à operação, à sustentação e à manutenção do projeto após o lançamento. Não menos importante foi a necessidade de se desenvolver uma estratégia de comunicação para engajar os usuários.
Bons resultados
Antes mesmo de ser lançado, o projeto já gerou bons resultados nas feiras de 2022 em Foz do Iguaçu, com mais de 100 atendimentos em um dia e meio de atendimento. “As pessoas ficaram surpresas ao perceber que o avatar com quem estavam conversando era uma pessoa de verdade. Essa foi a melhor experiência que elas tiveram no espaço”, relata. Além da vivência marcante, tanto nas feiras de Foz do Iguaçu, quanto na de Cianorte, o projeto metaverso, o Sicoob conquistou várias novas contas.
Os resultados positivos estimularam a cooperativa a expandir a proposta, definindo os indicadores, as metas, criar interações pós-atendimento e medir a experiência do usurário. O objetivo final é promover o conhecimento sobre o cooperativismo e gerar negócios para atrair novos associados. Guilherme Costa, Gerente do Núcleo de Inteligência e inovação do Sistema OCB conta que todos os anos muitas tendências se destacam e geram perspectivas para o futuro. Identificá-las não é uma ciência exata, mas é, sim, uma habilidade muito importante na hora de inovar.
“É importante lembrar que, junto com a transformação digital acelerada, existem novas gerações de consumidores dispostos inclusive a pagar mais pela novidade, atendimento personalizado, entre outros. Quando se pensa em negócios, muito se tem falado sobre a experiência do usuário. As organizações terão que pensar cada vez mais como hiperpersonalizar seus produtos e serviços para atrair e fidelizar clientes. No mercado de TI, a inteligência artificial é o assunto do momento, com a popularização do ChatGPT e outras ferramentas, mas existem ainda outros grandes desafios como a conectividade 5G e a cybersegurança”, finaliza Costa.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
Matéria publicada na edição 116 da Revista MundoCoop