As cooperativas brasileiras têm descoberto que investir em sustentabilidade, seja por meio dos créditos sustentáveis ou certificados de energias limpas, faz bem ao planeta, aos negócios e aos seus bolsos.
De acordo com o Instituto Totum, o Brasil deverá dobrar o número desses certificados ainda nesse ano. As estimativas são de que cheguemos aos 50 milhões, e só no ano passado foram negociados 22 milhões de certificados, o dobro de 2021. Segundo os especialistas esse crescimento se deve a uma maior preocupação das empresas em limparem seu consumo de energia.
Investir em sustentabilidade por meio desses sistemas é a tendência para os próximos anos. A previsão é que esse número aumente devido às facilidades, Leis e Decretos que tem estimulado o setor. Neste contexto, os principais investimentos das cooperativas, pensando em sustentabilidade, tem sido os certificados de energias limpas e nos créditos sustentáveis.
Marco Morato, coordenador de Meio Ambiente e Energia do Sistema OCB, conta que o cooperativismo vê com bons olhos o investimento em sustentabilidade, em especial. Um dos motivos é o de que as cooperativas possuem ativos ambientais nas florestas em pé ou em outras atividades produtivas que geram e podem ser recompensadas com esses créditos. “Cria-se um ambiente favorável para a efetiva realização de um mercado de carbono no Brasil, uma vez, que gera infraestrutura e demanda por esse crédito lastreado no bem ambiental. Desta forma, temos um contexto para construir um caminho seguro para este novo mercado”, desta Morato.
Entre as ações estão os investimentos no Selo de Energia Renovável, que absorve todos os tipos de consumidores, e pode ser usado pelas cooperativas e as empresas. “Eles são possibilidades para quem ainda não consegue substituir a fonte energética de combustível fóssil, por exemplo, comprar esse certificado e neutralizar as emissões de gases do efeito estufa. Estes mecanismos contribuem para uma transição energética mais adequada, sem comprometer o desenvolvimento da atividade econômica. Esses certificados nos dão um fôlego e o cooperativismo tem um potencial muito grande para gerar energias limpas e ser emissor desses certificados”, analisa.
Tudo conspira a favor
Os estímulos em apostar nesses títulos tem sido vários, desde decretos que facilitem a “limpeza” das energias consumidas, como também preservar o planeta, melhorar a imagem, economia e lucro nos negócios. Um dos decretos é o 11.456/23, em que o governo zera os impostos para as transações envolvendo algumas dessas práticas, no caso as da fotovoltaica, que usam painéis para converter luz solar em energia elétrica. O Decreto faz parte de um Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis), que estipula a isenção até 31 de dezembro 2026.
Morato explica que a isenção é fundamental, mesmo que temporária. “Estamos em um momento de redução da atratividade do modelo de geração distribuída. Como previsto na Lei 14.300/22 (Marco Legal da Microgeração e Minigeração Distribuída), os benefícios e subsídios desse modelo começam a ser reduzidos neste ano”, manifestou o coordenador de Meio Ambiente e Energia do Sistema OCB, Marco Morato.
Os tipos de certificados
Em termos de Certificados, se destacam os de Energia Renovável (Renewable Energy Certificate), os conhecidos Green Tags, cada vez mais em alta no país. Este, se destina a empresas que têm como objetivo limpar o seu consumo de energia e reduzir as emissões de gases e de efeito estufa tem optado por eles. Seu funcionamento é como um selo de origem de energia elétrica consumida, onde cada certificado comprova que 1 MW/hora foi gerado por meio de fonte eólica, hídrica ou de biomassa.
Com relação as vendas dos selos, eles seguem as orientações internacionais e da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), da Associação Brasileira de Energia Limpa (Abragel), da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (ABRACEEL) e da Associação Brasileira de biogás e de Biometano (ABiogás).
No setor das cooperativas, existe uma variedade de tipos de certificados de energias limpas, cada uma tem um objetivo. A certificação I-REC faz um rastreamento das energias renováveis em megawatts por hora, e desta maneira permite que o consumidor opte por uma mais sustentável. O Programa de Certificação de Energia Renovável (REC Brazil) tem por objetivo fomentar o mercado de energia limpa em conjunto com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Já a GAS-REC rastreia o gás natural, o biogás e o biometano que são originários das usinas de produção renováveis. Existem também a Certificação de Melhores Práticas de Gestão de Energia Renovável, que entre outras coisas, dá reconhecimento das boas práticas dos consumidores quando eles consumem a geração de energia renovável. “O setor como um todo será estimulado com a manutenção e a geração de novos empregos e renda. Hoje temos 35 cooperativas com esse perfil e, com certeza, vamos avançar ainda mais nesse modelo de geração de energia renovável”, frisa Morato.
Muitas cooperativas têm investido nos certificados e créditos sustentáveis. Uma delas é a Frísia que está comercializando créditos de soja sustentável para as empresas da Dinamarca e da Alemanha. A função da cooperativa é estimular e intermediar a venda desses créditos e dar a certeza ao consumidor de que nessa propriedade o produtor faz boas práticas e se preocupa com o meio ambiente. Dentro da Frísia, vários cooperados já estão inseridos nessa prática. Entre eles, Fabiano Gomes, proprietário da fazendo Pau Furado, que fica no município de Teixeira Soares, nos Campos Gerais do Paraná entrou para a história ao oferecer 2281 créditos de soja sustentável para as empresas internacionais. Fabiano separou 784 hectares de sua fazenda voltado para os créditos, e nele são produzidos soja, milho verão, feijão, trigo, cevada e aveia. Cada crédito foi vendido por US$ 2,50 para uma empresa da Dinamarca. E outra empresa da Alemanha arrematou cada um por US$ 2,80 cada. A negociação teve a intermediação da cooperativa, que já conta com um programa específico unindo a sustentabilidade e a competitividade.
Gomes explica que a iniciativa veio de encontro com o modelo de organização da propriedade, e investir nos créditos foi apenas dar um passo a mais. O especialista em meio ambiente da Frísia, Jean Cesar Andrusko explica que os créditos foram disponibilizados para todas as empresas do mundo, durante um período pré-determinado (28 de dezembro a 11 de janeiro) em uma plataforma online, onde cada tonelada de soja equivalia a um crédito.
“O nosso objetivo é agregar valor à produção tendo em vista que haverá a rastreabilidade e a comprovação da sustentabilidade. O cooperado não é obrigado a participar, mas, quando ele apresenta interesse, assina um contrato simbólico e começamos a fazer as mentorias, que inclui visita à propriedade, realização de um diagnóstico e criação de plano de ação. O produtor adequa a propriedade na velocidade dele”, afirma Andrusko.
A cooperativa também participa de um programa de Fazendas Sustentáveis, que funciona dentro de uma plataforma de serviços, oferecidos ao cooperado com o objetivo de aumentar a sustentabilidade e competividade em seus negócios. Dentro dele a primeira iniciativa foi com uma maltaria em Ponta Grossa, no Paraná, em que uma das exigências é de se oferecer uma cevada sustentável, cumprindo para isso uma série de regras em sua produção.
Além da Frísia, outros grupos de cooperativas têm buscado novas oportunidades através dos créditos. O Sicoob Credicapital, liberou mais de R$ 3 milhões nesses créditos como uma maneira de apoiar os empresários e produtores que apostam em energia sustentável. De maio de 2022 a maio desse ano, foram investidos R$1,7 milhão em projetos de eficiência energética para as cidades, e R$1,9 milhão em projetos no campo, totalizando mais de R$3,6 milhões em créditos.
Entre os investidores desse modelo está o cooperado Reni Fernandes Felipe, que faz parte de um grupo de empresários em Quedas do Iguaçu, no Paraná. Ele e mais 9 empreendedores resolveram comprar quatro terrenos, e atualmente possuem como um de seus principais investimentos, a energia sustentável. A família Padovani, também cooperados da Sicoob desde 2012, resolveram transformar a sua fazenda de gado de confinamento em Cascavel, no Paraná em um espaço sustentável. O projeto envolve um biodigestor e a filosofia de uma agricultura biológica de preservação do solo.
Fábio Padovani conta que desde o início teve uma preocupação ambiental muito forte. “Nossa inclusão biológica é bastante abrangente, diminuindo a utilização de agroquímicos de maneira geral, fertilizantes, germicidas e pesticidas. Na fazenda, os dejetos do gado são destinados para um separador. Os sólidos se transformam em fibra e posteriormente em fertilizante das áreas de produção. Já os líquidos são destinados para o biodigestor e se transformam em gás biometano, que gera energia elétrica para abastecer toda a fazenda e as casas dos trabalhadores do local, através de um gerador que tem capacidade de até 75 kW/hora”, conta Fábio.
Assim como Fábio, o cooperado Hélio Camilo Marra Jr., é um dos proprietários da empresa de transportes Pioneira, e em 2023 decidiu instalar uma usina fotovoltaica em sua empresa. “Fizemos uma análise dos nossos gastos versus o investimento e vimos que o custo se pagará em 3 anos. Nossa conta de energia era de R$ 12 mil, no primeiro mês foi para R$ 1 mil e agora, nossa expectativa é para que caia para R$ 500”, conta Hélio.
Sistemas Solares
Outras cooperativas como a Cocamar têm trabalhado com a comercialização de sistemas solares. Eduardo Sanna de Carvalho, Gerente Comercial Energia Renovável e Irrigação da Cocamar, conta que a cooperativa entrou nesse mercado, entre outros motivos, buscando atender as necessidades dos cooperados, ofertar um produto que pode gerar uma redução de até 95% na conta de energia elétrica, além da facilitar o pagamento em safra direto com a Cocamar. “Na primeira etapa, nosso consultor faz uma visita no local da instalação para uma avaliação técnica do tamanho do sistema. Na sequência essas informações vão para a equipe de projeto onde é elaborada a proposta técnico comercial. Na etapa seguinte, a proposta retorna ao consultor para a negociação junto aos clientes. Vindo a ter êxito na venda, programamos a entrega e a execução da instalação”, explica.
As vantagens do investimento para os cooperados são inúmeras, entre elas está a de que a utilização da energia solar reduz as emissões de gases de efeito estufa, preserva recursos naturais, diminui a dependência de combustíveis fósseis e promove o acesso à energia limpa e sustentável. “Dessa forma, contribui significativamente para a proteção do meio ambiente e a busca por um futuro mais sustentável”, Carvalho destaca.
Já na Coop, são emitidos certificados de energia de fontes renováveis há mais de 8 anos. Marcos Moises Neves Fernandes, Engenheiro de Eficiência Energética e Inovação da Coop, relata que iniciaram a sua migração para o ambiente de contratação livre em 2015 com 17 unidades. “Migramos mais 8 em 2016 e atualmente são 28 unidades no (ACL). A manutenção das unidades em ambiente livre é uma atividade que consiste em análise de indicadores, monitoramento de cenários climáticos, assim conseguimos assegurar nossa permanência financeira e sustentável saudável no ACL. Atualmente, conseguimos mensurar em nossos certificados o quanto de GEE (Gases Efeitos Estufa) deixamos de emitir anualmente fazendo uso de energia de fontes renováveis”, finaliza Neves.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop