Dentre todos os ramos do cooperativismo brasileiro, o transporte é um dos que mais ganharam projeção nos últimos anos. Atuando em diversas frentes, suas cooperativas trazem desenvolvimento através da criação de ecossistemas que levam melhores condições de trabalho para motoristas atuantes em diversos mercados, do transporte escolar à entrega de encomendas, passando pelas cargas e passageiros.
Segundo o AnuarioCoop – Dados do Cooperativismo Brasileiro, divulgado pelo Sistema OCB, atualmente o Brasil conta com 982 cooperativas de transporte, reunindo mais de 99 mil cooperados, um aumento de 10% em relação ao ano anterior. Direta ou indiretamente, o ramo – que completa 20 anos em 2022 – gerou mais de 5,8 mil postos de trabalho, com destaque para o estado de Minas Gerais onde 1.954 profissionais estão empregados.
Com diversas frentes de atuação, o ramo transporte possui a maior parte das suas atividades em dois segmentos. Na distribuição das cooperativas de transporte, 45,2% atuam com o transporte rodoviário de cargas e 38,9% com o transporte coletivo de passageiros. Além destes, destaca-se o transporte individual de passageiros (15,1%); o transporte náutico de cargas (0,7%) e o transporte aéreo de cargas (0,1%).
No quesito frota, o ramo também continua a crescer: hoje, as cooperativas de transporte de cargas somam aproximadamente 35 mil veículos. Implementos rodoviários (semi-reboque) representam 32,5% da frota, seguidos pelos caminhões tratores (24,6%) e caminhões simples (23,7%). Segundo o Sitcarga, neste conjunto a maior parte da frota possui mais de 21 anos (9.059 veículos), seguido por veículos de 11 a 15 anos (8.570); até 5 anos (6.232); de 6 a 10 anos (5.921) e de 16 a 20 anos (4.749).
Desafios e crescimento
Diversos desafios estiveram presentes no caminho das cooperativas de transporte nos últimos anos. Porém, tais barreiras não impediram o crescimento de 11,4% em seu PIB em 2021, número 3x maior do que o setor de serviços, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Elias Gomes Assêncio, Diretor Presidente da Coorptrans, tal crescimento está diretamente conectado com as mudanças comportamentais impulsionadas pela pandemia, assim como a conexão com diversas atividades que foram impactadas pela pandemia em maior ou menor escala. “Nos últimos dois anos, durante a pandemia da Covid-19, houve retração do segmento de passageiros, que apenas a partir do início desse ano começou a se recuperar. Porém, um aumento significativo nas vendas online de produtos e o crescimento do agronegócio, impulsionou o segmento de cargas”, explica.
Trazendo liberdade para pequenos e médios transportadores, o ramo inclui ainda o transporte turístico, atividade de destaque no mercado brasileiro. Com tamanha diversificação, a agregação de profissionais em cooperativas tornou-se ainda chave para driblar o aumento de preços dos combustíveis e outros insumos, cenário que não apresentou estabilização diante da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Assim como em outros setores, o transporte também ganha novos contornos nos diferentes estados em que está presente. Assêncio explica um pouco deste cenário, destacando as particularidades da atuação na região sudeste e sul. “Diferente dos demais estados, São Paulo conta com cooperativas dos segmentos de cargas e passageiros atendendo clientes em sua maioria do setor terciário, enquanto estados do Sul, Centro Oeste e Norte trabalham forte com a agropecuária, realizando intercooperação com grandes cooperativas agrícolas”, explica. Atualmente, São Paulo reúne 71 cooperativas e 8.334 cooperados,
Olhando para além dos muros
Em 2021, as cooperativas de transporte somaram R$ 1,5 bilhões em ativos, um aumento de 32% em relação a 2020. Aos cofres públicos, foram mais de R$613 milhões em tributos, isso sem contar os mais de R$225 milhões investidos em salários e benefícios aos seus funcionários. Em pleno crescimento no país, tais resultados têm atraído olhares que vem de fora do ecossistema das cooperativas.
Para Evaldo Matos, Coordenador Nacional do Ramo Transporte na OCB e Presidente da Confederação Nacional do Transporte de Cargas e passageiros – CNTCOOP, a grandeza do ecossistema brasileiro é o maior trunfo desse segmento. “O Brasil é o grande celeiro do mundo. Quando se trata de transporte de passageiros, só em 2020 foram 2,2 bilhões de passageiros transportados no sistema de ônibus urbano, considerando somente 9 capitais do país, além dos outros modais de transporte de passageiros existentes segundo dados da CNT. Com a expansão da tecnologia e o crescimento da produção, os desafios e oportunidades se tornam cada dia maiores. Mas uma coisa é certa, transportar é preciso”, destaca.
Com perspectivas de expansão em todos os segmentos em que atua, as cooperativas representam desenvolvimento não apenas para empresas, mas principalmente para seus associados e cooperados. “Mais uma vez, as cooperativas de transporte se deparam diante de um extraordinário cenário, onde podem ser protagonistas desse grande movimento de organização de pessoas que clamam por melhores condições e renda, e um sonho de se livrarem dos atravessadores de mercado em busca de uma vida mais digna. Um protagonismo que vem em seu bojo, a observância dos princípios dos cooperativistas, das leis, do respeito nas relações e ainda na possiblidade de praticar um dos mais valorosos princípios cooperativistas, que é a intercooperação”, Matos completa.
Neste contexto, em 2022 foram produzidos cases que devem ganhar ainda mais espaço nos próximos anos. Um deles vem da Cooperativa de Transporte de Araraquara (Coomappa), que neste ano criou seu próprio aplicativo, a Bibi MOB e passou a oferecer viagens mais baratas e taxas menores para os motoristas.
Aplicativos como esse trazem ainda luz à nova onda digital presente em todos os setores do cooperativismo. Contudo, Elias Assêncio traz um alerta para que as cooperativas não recebam de forma leviana tais novidades. “Entendo que temos que estar bastante atentos aos temas de Inovação e Tecnologia, porém, é necessário lembrarmos que a tecnologia deverá sempre ser meio e não fim. Afinal de contas, a tecnologia por si só não basta, ela deve servir a algo dentro das necessidades do mercado e da sociedade”, comenta.
Além destas iniciativas, o ramo transporte ainda atua junto a outros segmentos do cooperativismo. Segundo o AnuarioCoop, em 2021 24% das cooperativas fizeram negócios com o ramo crédito. Ainda no setor, 8% das cooperativas de transporte adquiriram produtos ou serviços de cooperativas de Trabalho e 5% adquiriram produtos de cooperativas Agropecuárias. Somado a este cenário, 8% das cooperativas do ramo transporte utilizaram planos de saúde de cooperativas de Saúde
Futuro sustentável
Seja no transporte de cargas ou de passageiros, é fato que a expansão deve e vai continuar, sejam quais for as tendências a ganharem espaço nos próximos anos. Se por um lado a tecnologia deve exercer grande influência na estruturação de estratégias, por outro o setor caminha em busca de uma atividade carbono zero, com iniciativas voltadas à veículos que utilizem combustíveis fósseis, novidade que já vem sendo adotada pelo mercado.
No ambiente regulatório, maiores articulações buscam projetar lideranças a ganharem ainda mais voz, com o ramo transporte se organizando de forma ainda mais coordenada, movimento que deve impulsionar a conexão com novos players. “Possuímos uma demanda crescente de insumos e serviços. Nos relacionamos com o mercado fornecedor por meio da CNTCOOP – Confederação Nacional das Cooperativas de Transporte, por meio das nossas federações estaduais – Fetranscoop MG, Fetranscoop MT e Rede Transporte RS, por meio das cooperativas singulares de cada região ou diretamente pelo cooperado”, Evaldo acrescenta.
Com mais de 1 milhão de transportadores autônomos registrados na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e mais de 2 milhões atuando de maneira informal no e-commerce (entregas de encomendas, alimentos etc..), as cooperativas de transporte possuem no mercado grande potencial de expansão. Somado a esse cenário, as mais de 200 mil pequenas empresas de transporte com menos de 50 funcionários representam uma oportunidade única para uma grande colocação no mercado, algo que criaria maior competitividade.
Hábitos se reinventam. A forma como o brasileiro se locomove, transporta e consome foram modificados de maneira permanente. Com foco e articulação, as cooperativas têm capacidade de protagonizarem um novo momento, trazendo transformações efetivas e alinhadas com as vidas humanas por trás de tudo. Cabe ao setor, com ajuda de seus colaboradores, identificar e explorar tais oportunidades. “Todo o contingente de transportadores são públicos potenciais para as cooperativas de transporte, que possuem em sua natureza ambiente propício para contribuir com a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas e potencialização dos seus ganhos. O Brasil tem crescido e ainda crescerá muito nos próximos anos, principalmente no agronegócio. E o transporte é o principal aliado desse desenvolvimento”, finaliza.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop