Em 2050 cerca de 70% da população mundial viverá em áreas urbanas. A projeção é da da Organização das Nações Unidas – ONU e envolve, entre outros aspectos, a questão da segurança alimentar interligada a fatores como qualidade e disponibilidade dos alimentos.
Dentro deste cenário, modelos de negócios que aliam tecnologia e sustentabilidade, como as fazendas urbanas e fazendas verticais, se mostram promissores por utilizar racionalmente espaços antes ociosos – como telhados de prédios ou galpões – localização estratégica dentro dos grandes centros urbanos, produção orgânica, sustentável e em grande escala e em menor tempo, com redução de emissão de carbono, por meio do uso de tecnologia de ponta – reduzindo sensivelmente o uso de terra e água no cultivo.
Estados Unidos e Europa
Os exemplos são vários, tanto no exterior como no Brasil. A americana Tower Garden, localizada em Los Angeles, utiliza o formato de torre (vertical) e a tecnologia aeropônica, que requer 90% menos terra e 90% menos água, eliminando a necessidade de de quaisquer herbicidas e pesticidas prejudiciais e redução de pegada de carbono, com colheita do alimento na metade do tempo.
Entre os clientes famosos que adotaram a Tower em seus “telhados” estão a Universidade de Stanford, o Hotel Bellagio e o refeitório da sede do Google e Atlantic Beach Urban Farms
A alemã ECF Farmsystems ostenta o título de maior fazenda urbana da Europa, a partir da aquaponia (método que combina combina agricultura e piscicultura), produz peixes, verduras e legumes em larga escala na cidade de Berlim.
O reservatório que abastece os tanques com os peixes utiliza água de chuva, que é enriquecida naturalmente com resíduos orgânicos dos animais e utilizada na irrigação das plantas.
“Ao combinar a aquicultura (criação de peixes) e hidroponia (cultivo de vegetais e ervas na água), produzimos nossos alimentos com consumo reduzido de água e recursos. A localização urbana também encurta as rotas de transporte e as cadeias de frio. Desta forma, nossas fazendas protegem o meio ambiente e garantem produtos frescos nas prateleiras dos supermercados. Já instalámos quatro fazendas em Berlim, Wiesbaden, Bad Ragaz (CH) e Bruxelas. Outras fazendas já estão sendo planejadas” afirma o co-fundador da ECF Christian Echternacht.
Experiência Brasileira
No Brasil, a startup BeGreen inaugurada em 2017 e com fazendas urbanas no Boulevard Shopping – Belo Horizonte (MG), Passeio das Águas Shopping – Goiânia (GO), no telhado do Shopping da Bahia – Salvador (BA), no Via Park Shopping – Rio de Janeiro (RJ), no Parque D. Pedro Shopping – Campinas, no 7º andar da sede do Ifood – em Osasco e na Mercedes-Benz – São Bernardo do Campo (SP), totaliza uma área de 10,2 mil m² – cuja a capacidade de produção aproximada atinge 24 toneladas por mês ou uma produtividade média de 3,33 Kg/m².
Recentemente, inaugurou sua primeira “fazenda urbana” na cidade de São Paulo. Construída no Plaza Sul Shopping, no bairro da Saúde, a unidade tem uma área produtiva de 570m² e capacidade de produção de 1.841,1 Kg/mês. Isso significa 1,3 mil pés de hortaliças, entre alfaces, folhosos e temperos – totalmente livres de agrotóxicos – disponíveis aos consumidores da cidade a cada mês.
“Será nossa fazenda urbana de maior impacto em número de vendas e clientes. Depois de abrir sete unidades em grandes cidades, chegamos em São Paulo com a parceria da Aliansce Sonae (holding que administra o Plaza Sul Shopping), localização estratégica e alta tecnologia. Essa é uma cidade em que tudo se potencializa, o que é feito bem e o que é feito mal, por isso entramos nesse mercado no momento ideal, os cinco anos de experiência da BeGreen nos prepararam para isso”, declara Giuliano Bittencourt, fundador e CEO da BeGreen.
Credito Rural nos grandes centros
Conversamos com Jaime Basso – presidente da Sicredi Vale do Piquiri Abcd PR/SP , sobre este movimento: fazendas urbanas ou verticais são tendência? Existe viabilidade financeiramente empreendimentos como estes? As fazendas urbanas e fazendas verticais podem fazer uso das linhas de crédito para o agronegócio?
“Sim para tudo…” diz Basso. De acordo com sua análise, estamos no caminho de um processo de conscientização do uso sustentável dos espaços. “Não existe ainda uma cultura para estocar, aproveitar o terreno e assim por diante. A cooperativa trabalha essa conscientização na base, por meio do programa A União Faz a Vida – um programa que nós levamos para as escolas“.
Sobre as fazendas urbanas, Jaime Basso lembra que é um formato que já existe em vários locais do mundo, inclusive em Palotina, cidade sede da Sicredi Vale do Piquiri Abcd PR/SP, no oeste do Paraná.
A Fazenda Urbana de Palotina é a primeira do gênero do estado do Paraná e foi idealizada pelo casal Paulo Machajewski e Vivian J. S. Andrade e será tema de uma outra reportagem do DiárioZonaNorte, já em produção.
“Nós temos lá em Palotina, uma cidade pequena, dois associados da cooperativa que construíram uma fazenda urbana, que começou com uma horta dentro da cidade e agora montou uma estufa lá, que se não me engano, fomos nós que financiamos… onde produz com a hidroponia alface, rúcula, almeirão, couve, enfim… E tem uma fila de gente no dia a dia, que vai lá comprar a verdura fresquinha. E isso em uma cidade de 30.000 habitantes” continua Basso.
“O financiamento do projeto, o custeio… são possíveis enquadrar, estão dentro das linhas de crédito rural. Agora, é só questão de encontrarmos a linha correta e fazer esse aporte de recurso também na construção. Incluindo outras modalidades como fazendas produtoras de orquídeas, de flores, de morangos, por exemplo. E isso nós financiamos muito, inclusive entra dentro de recursos do próprio BNDES e com prazo para pagamento de forma a viabilizar o empreendimento“, completa o presidente da Sicredi Vale do Piquiri Abcd PR/SP.
O Sicredi é a segunda maior instituição financeira do Brasil em crédito rural. A proximidade com os associados, permite que a instituição financeira cooperativa conheça de perto as necessidades e peculiaridades de cada local onde a cooperativa atua, oferecendo consultoria e soluções adequadas para cada realidade. De acordo com Jaime Basso, o agronegócio tem a sua disposição cinco linhas de crédito:
- Investimento: linha de crédito que disponibiliza diversos tipos de investimento para o fomento do agronegócio.
- Cédula do Produtor Rural (CPR): título com a finalidade de obtenção de recursos para desenvolver o empreendimento rural.
- Custeio: para as despesas de produção das atividades agrícolas e pecuárias.
- Comercialização: linha de crédito com os recursos necessários para comercializar os produtos da produção agrícola.
- Industrialização: se destina a financiar a industrialização agropecuária, da produção própria ou de terceiros, de acordo com projetos específicos.
“Liberamos na Safra 19/20, foram 199 mil operações, com 20,5 bilhões de reais. Na Safra 20/21 foram 218 mil operações realizadas, no montante de 28 milhões de reais. Nessa última safra, que encerrou agora em junho, foram 233 mil operações, com valor de 37 bilhões de reais. E agora, no Plano Safra 2022/2023 a estimativa é 50,6 bilhões de reais. O valor representa um aumento de 33% e a projeção é que os recursos sejam disponibilizados em cerca de 272 mil operações. Na safra passada, houve uma redução nos investimentos, visto que os recursos acabaram logo, não tinha equalização e o BNDS acabou não disponibilizando. Mais, nas demais linhas o crescimento foi grande, só dos investimentos que houve aquela redução E esse ano a tendência é aumentar, continuar no crescimento” conclui Jaime Basso.
Fonte: Diário Zona Norte