Não é inédito o fato de que o Brasil se tornou uma das maiores referências no cooperativismo mundial. Proporcionalmente gigante igual as dimensões continentais que o país apresenta, as últimas décadas mostraram a magnitude do modelo cooperativista no país, que possui 4.880 cooperativas e ao menos 18,8 milhões de cooperados.
Neste cenário alguns ramos destacam, como o crédito e o agro. Porém, outros têm observado crescimentos igualmente excepcionais, figurando ao lado das grandes potências do movimento. Um deles, o Consumo, está em segundo lugar no total de cooperados. São 2 milhões em todo o país, reunidos em 247 cooperativas espalhadas por todo o país, oferecendo quase 15 mil empregos e levando qualidade de vida, preços justos e desenvolvimento para milhões de vidas, direta e indiretamente.
Apesar de apresentar números menores se comparado aos maiores setores, esse número já representa um crescimento acima da média, como explica Márcio Valle, Coordenador Nacional do Sistema OCB para o Ramo Consumo. “O número de cooperativas passou de 123 para 247, aumento de 106%. Neste período houve uma mudança de critério de classificação dos Ramos, com as cooperativas Educacionais de Pais e de Turismo de Consumidores passando a integrar o Consumo. Mas o maior crescimento veio mesmo das cooperativas de consumo, de compra em comum de produtos ou serviços para fornecimento aos cooperados, através de operações de supermercados, drogarias e postos de combustível, entre outras”, explica.
Em resumo, as cooperativas de consumo nasceram junto com o movimento cooperativista, na Inglaterra em 1844. Verdadeiros exemplos da filosofia que os cooperados seguem até hoje, essas cooperativas foram criadas com o objetivo de realizar a compra de produtos e serviços para seus cooperados, utilizando-se da soma de poder de compra, para reduzir custos e melhorar o atendimento aos associados da cooperativa. Inseridas dentro do ramo consumo, estão serviços vitais para a sociedade como as cooperativas de serviços educacionais, que representam 27% das cooperativas do ramo, segundo dados do AnuárioCoop – Dados do Cooperativismo Brasileiro 2022.
Apesar de seguir os mesmos modelos vistos em outros países, o Consumo no Brasil possui uma trajetória diferente, algo que moldou a forma como o setor se constitui. “No Brasil, o cooperativismo de consumo originou-se e teve seu desenvolvimento ligado a empresas ou organizações, como sindicatos, prefeituras e associações de funcionários. Poucas tiveram origem a partir da iniciativa popular, nascendo independentes de qualquer vínculo e, portanto, com melhores condições de decidir sobre suas estratégias e ações de expansão e desenvolvimento”, explica Valle. Com essa diferença em sua concepção, uma grande mudança ao longo dos anos foi promovida, impulsionado por um novo e diferenciado tratamento tributário, algo que afastou empresas da visão cooperativista inicialmente criada para seus negócios. Diante disso, o Consumo passou de 2.420 cooperativas em 1960, para 247 no levantamento lançado neste ano.
PANORAMA: O RAMO CONSUMO EM NÚMEROS
Em números totais, o Rio de Janeiro concentra o maior número de cooperativas, com 72 localizadas no estado. Contudo, São Paulo possui o maior número de cooperados: 1,5 milhão, distribuídos em 35 cooperativas.
Entre os três maiores segmentos de cooperativas que compõem o ramo: 27% são de serviços educacionais, 20% de produtos alimentícios e 15% de Farmácias.
São R$3 bilhões em ativos totais (8% acima do resultado de 2020), com um capital social de R$341 milhões. Em 2021, as sobras do exercício chegaram a R$140,3 milhões.
Em 2021, as cooperativas de consumo investiram R$348 milhões em salários e benefícios ao seus cooperados.
Tal diferenciação tributária, que resultou na diminuição de cooperativas de consumo ao longo das décadas, é o motivo pelo qual o mesmo se fortalece. Com recentes avanços na pauta que corre no Congresso, apoiada por lideranças através da Frente Parlamentar pelo Cooperativismo (Frencoop), observamos um novo momento, algo que explica o crescimento contínuo visto nos últimos anos. “Além do reconhecimento do adequado tratamento tributário ao ato cooperativo realizado pelas cooperativas de consumo, acatando o princípio da não incidência tributária, sem dúvida uma questão primordial, há também necessidade de crédito para expansão, modernização e a própria operação, além continuidade na formação de lideranças e gestores, o que tem sido suprido pelo SESCOOP – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo, e suas bases estaduais”, Valle destaca.
Apesar destes avanços, Valle ressalta que atualmente a capacidade de expansão é menor, com o crescimento acontecendo através de iniciativas de empreendedores que veem no cooperativismo uma nova forma de negócio, pautada pelo propósito. “Atualmente não há forte potencial de expansão. O que se observa são ações corajosas de empreendedores que trazem o cooperativismo inserido nos seus valores e princípios”, complementa.
Novos hábitos, para um novo consumo
Como o próprio nome indica, o ramo consumo está diretamente ligado com os hábitos de compra que o consumidor desenvolveu ao longo dos anos. Este comportamento, que se molda através de fatores externos e internos, contextos sociais e outras variáveis, não é diferente quando entra em jogo a compra coletiva, proporcionada pelo modelo de cooperativa de consumo.
Com a retomada da economia após uma das maiores crises sanitárias da história, o setor respira aliviado, através de novos hábitos que prometem impulsioná-lo para a próxima década. O cenário, traz um novo leque de oportunidades para as cooperativas de consumo, e para todo o movimento. “Um dos maiores impactos, que já está ocorrendo, é a mudança de hábito do consumidor, que tem buscado cada vez mais praticidade, com preferências variadas e preços justos. Isto para cada ocasião e necessidade de compra, que muda constantemente. Outras questões como tecnologia (digital commerce) e maior conscientização a respeito de causas ligadas à preservação do meio ambiente, responsabilidade social e atuação ética e transparente (“ESG”), estão levando o consumidor a valorizar empresas com propósitos claros e definidos”, ressalta. Neste contexto, entender as dores e vontades do consumidor passou a ser um elemento vital, não apenas para entregar serviços mais assertivos, mas também para garantir a sua longevidade.
Sendo a base da sociedade e de tantas atividades essenciais para a vida cidadã, é inegável que o Ramo Consumo é um pequeno grande. Expressando a mais pura essência do que o modelo cooperativista pretende ser e fazer na sociedade, tais cooperativas são um exemplo para as demais, mostrando como o modelo de negócio impacta vidas e as conduz rumo ao futuro.
Modernas desde a sua concepção, as cooperativas são o modelo de negócio do futuro. Mas para que sigam em frente, é importante trabalhar em conjunto para o seu sucesso. “As cooperativas, como um todo, são modernas, pois tratam da essência da nossa existência, a cooperação e a sustentabilidade. Esta é a principal tendência que continuará a tracionar, cada vez mais, a empresa cooperativa. Tecnologias, metodologias de gestão, máquinas, equipamentos e instalações mais produtivas são meios, que se compra ou desenvolve. Mas pessoas comprometidas e unidas por propósito é que farão a diferença”, finaliza.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop