Cresol, Sicoob, Sicredi, Unicred, Uniprime… Em todas as partes do País, as cooperativas de crédito têm se tornado cada vez mais populares, seja pelos juros mais baixos, pela facilidade de atendimento ou por seus modelos de negócios que transformam correntistas em sócios-cotistas. Mas o fato é que elas estão ajudando a equacionar um dos maiores entraves do sistema financeiro do Brasil: a concentração bancária. Junto com fintechs, que atraem clientes de todas as partes do País sem a necessidade de abertura de agências e contratação de equipes, as cooperativas estão avançando a passos largos, mesmo preservando o tradicional olho no olho entre trabalhadores e gerentes. Segundo relatório do Banco Central, a concentração do mercado de crédito vem em vertiginoso declínio desde 2016, abrindo o mercado de forma brusca pela primeira vez na história.
Os números e resultados financeiros das cooperativas dão a dimensão da força do cooperativismo no mercado de crédito. O Sicredi, por exemplo, superou neste ano a marca de 7 milhões de associados e presença em todos os estados e no Distrito Federal, com 2,4 mil pontos de atendimento e abertura de 200 novas agências. Em 2022, os ativos sob gestão alcançaram R$263,5 bilhões, aumento de 33,4% sobre 2021. “Ao mesmo tempo que estamos em ritmo acelerado de entregas relacionadas à digitalização, seguimos, por meio das nossas cooperativas, abrindo agências para mantermos o diferencial do relacionamento próximo com as pessoas de cada localidade em que estamos presentes”, disse o presidente do Sicredi, César Bochi. “Estudos comprovam que essa presença física gera desenvolvimento socioeconômico para os municípios e assim também conseguimos manter a conexão com a realidade de cada local.” O objetivo, segundo Bochi, é gerar alternativa aos associados, que podem resolver questões da rotina por aplicativo e contam com consultoria nas agências.
O resultado líquido do Sicredi em 2022 foi de R$5,9 bilhões, alta de 24% na comparação com o ano anterior. A partir desse desempenho, R$ 2,5 bilhões foram distribuídos diretamente aos associados em conta corrente, poupança ou remuneração ao capital social. A distribuição é um dos diferenciais do modelo cooperativista e é realizada individualmente em cada uma das 105 cooperativas de crédito que formam o Sicredi, a partir de seus resultados positivos. Esses montantes são colocados à disposição dos associados na assembleia e eles votam a sua destinação. Cada associado recebe valores calculados a partir do seu número de cotas.
“Outra cooperativa que avança em ritmo acelerado é o Sicoob. A cooperativa, com 4,5 mil pontos de atendimento físico e mais de 7,5 milhões de cooperados, expandiu a carteira de crédito em 170% nos últimos cinco anos. O volume de empréstimos saltou de R$4 bilhões, em 2020, para R$ 140,1 bilhões ao final de 2022. Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais do Sicoob, avalia que foi a partir da pandemia que o segmento assumiu uma posição de maior destaque na indústria financeira. Isso porque, segundo ele, quando há alguma adversidade, as cooperativas costumam se fazer mais presentes, ocupando espaços deixados por outros bancos, que se retraem diante das incertezas econômicas e riscos associados a esse cenário. “A postura mais arrojada justifica-se pelo compromisso que essas entidades têm com o seu público, em que indivíduos e empreendedores são cooperados, como donos do negócio”, afirmou.
O executivo endossa a realidade de que o cooperativismo financeiro, somado à presença de novos atores, vem contribuindo para a redução da concentração do crédito no âmbito do sistema financeiro nacional. Pelos cálculos do BC, em 2017 mais de 78% do crédito brasileiro estava restrito a quatro bancos. Excluindo-se o crédito rural e imobiliário, que têm o amparo de uma parcela significativa de recursos direcionados, a concentração nesse grupo caiu para 50% atualmente. E o melhor: as cooperativas financeiras geraram R$ 131,2 bilhões em ganhos econômicos para os seus cooperados. Somente no Sicoob, os cooperados tiveram um ganho superior a R$60 bilhões no ano passado. “As cooperativas, ao oferecerem soluções com preços mais atrativos, de forma isonômica para os seus cooperados, promovem justiça financeira e contribuem para um sistema mais eficiente e inclusivo”, disse Meinen.
Fonte: Istoé Dinheiro, com adaptação da MundoCoop