O agronegócio passou por diversas transformações na última década. Muitas delas, impulsionadas por fatores como a economia interna e externa, as mudanças climáticas e outras variáveis que impactam a produção diariamente. Mesmo com tantas novidades, o setor cresceu, e hoje é fundamental para a segurança alimentar da sociedade como um todo.
Para o fortalecimento da cadeia acontecer, olhar para a base – para o campo – e entender as demandas do produtor é essencial para que haja um desenvolvimento coletivo, sustentável e efetivo. Buscando olhar para o produtor e ajudá-lo nos desafios que ainda virão, a Holambra Cooperativa Agroindustrial lançou o Telescope Holambra, um hub de inovação que cria um ecossistema que irá unir agtechs, aceleradoras de startups e outros players do mercado.
Com o lema “Construir o futuro do agro em cooperação”, o projeto foi pensado para atuar na raiz da cadeia de produção, e vem na esteira de um desenvolvimento tecnológico no campo que até 2026, deve crescer 183%. Além disso, buscar novas soluções para as atuais demandas vem sendo uma preocupação constante do setor, uma vez que a população aumenta a cada ano, tornando imprescindível que o volume de produção também aumente, sem causar impactos ao meio ambiente.
Para apresentar o novo projeto da cooperativa, a Holambra realizou o lançamento de seu primeiro hub de inovação para o agro nesta quarta-feira, em Paranapanema, cidade que fica a 260km da capital e onde reside a sede da cooperativa que atua num raio de 150km, impactando a vida de pelo menos 160 cooperados. Para Shandrus Hohne Carvalho, CEO da Holambra Cooperativa Agroindustrial, o Telescope surge em um momento de necessidade de conectar os diferentes elementos da cadeia, olhando para todas as fases da colheita até o cliente final e analisando as necessidades e particularidades do produtor.
Além disso, com o Telescope, a cooperativa deve explorar ainda mais a diversidade geracional que está presente na Holambra, uma cooperativa com mais de 60 anos de história. A partir do novo ecossistema, espera-se uma integração ainda mais entre os cooperados e produtores, não apenas os mais novos, que já nascem com uma bagagem voltada para uma produção mais tecnológica, mas também para aqueles que vem de outro momento. “As gerações querem participar e querem assumir novos novas responsabilidades dos negócios da família, sucedendo seus pais e aprendendo durante anos. Com uma cabeça diferente, com um conhecimento diferente, querendo realmente inovar e fazer e colocar processos e uma visão diferente no mercado”, afirma Shandrus.
Construindo o agro em coletividade
Cooperativismo se faz da união de pessoas, e o Telescope Holambra vem para ressaltar essa máxima do setor. Unindo diferentes elementos do mercado, o hub de inovação da Holambra contará com o apoio de diversos nomes do setor agro e de tecnologia, criando desde o primeiro momento uma base forte para as iniciativas que virão a seguir. E essa intercooperação foi colocada em evidência durante o lançamento, que recebeu cooperados e importantes parceiros da cooperativa.
Durante sua fala inicial, Luiz Morcelli, Gerente de Inovação da Holambra Cooperativa Agroindustrial, mostrou um pouco do que o público pode esperar do Telescope. Segundo ele, a partir de agora a ferramenta irá buscar a fonte dos problemas do campo, ouvindo os produtores e entendendo quais as demandas e dores existentes neste momento. A partir disso, o ecossistema Telescope entra em ação, unindo empreendedores, investidores, setor público, corporações e outros players que ajudarão no desenvolvimento de soluções para a cadeia de produção em todas as suas fases.
Para apresentar melhor os envolvidos no Telescope, a Holambra apresentou dois painéis. No primeiro deles, os “Investimentos em Agtechs” foram o foco, com a presença de Francisco Jardim (SP Ventures), Silvio Passos (AgroVen), Robson Magnami (Bossa Nova Agtech) e Shandrus Hohne Carvalho, CEO da Holambra. No bate papo, os convidados puderam compartilhar um pouco sobre a história do desenvolvimento das agtechs no país, trazendo pontos-chave para que o setor chegasse ao patamar que alcançou nos últimos anos. Para Francisco, um dos antigos problemas vistos na dinâmica do mercado era a desconexão entre as agtechs e os produtores, em um movimento que ele chama de “a solução na frente do tempo”. Segundo ele, houve um momento em que o produtor possuía as soluções, porém não possuía as condições ou o interesse em adotá-las.
Com o passar do tempo e o desenvolvimento do próprio produtor, a capacidade das agtechs de agregar novidades é maior, possibilitando uma real produtividade através das novidades apresentadas pelos hubs Para Robson Magnami, no decorrer dos anos e após a pandemia, buscar parcerias tornou-se vital para que o mercado de agtechs se fortalecesse. “A colaboração é fundamental para o desenvolvimento das startups, de forma a incluir diferentes gerações, com foco em quem está dentro do ecossistema”, afirma. Segundo Silvio Passos, iniciativas como o Telescope são uma evolução natural do setor, visto o DNA das cooperativas. “O modelo de cooperativa tem em sua natureza as características de um hub”, frisou.
Em um segundo bate papo, a Inovação no Agro levou Guga Stocco (Futurum Capital) e Pompeo Scola (Cyclo Agritech) para o debate mediado por Luiz Morcelli. Durante a conversa, Stocco reforçou que a visão da tecnologia no agro muitas vezes é equivocada, criando entraves no desenvolvimento. “A tecnologia é uma ferramenta e não um produto. Há diversas barreiras pelo caminho, como a mão de obra e o volume de opções disponíveis”, ressaltou. Neste sentido, ter um plano de ação é essencial, de forma a acompanhar um movimento coletivo.“Precisamos ser cada vez mais eficientes, uma vez que o mundo caminha para este sentido”, completa.
Para Pompeo Scola, CEO da aceleradora Cyclo Agritech, é preciso criar mais ambientes para o desenvolvimento de startups, olhando sempre para a tecnologia como um recurso que seja “viável no presente e viável no futuro”, como descreve. Neste contexto, buscar parceiros de fora da caixa é um dos caminhos, de forma a fortalecer todo o setor. “É preciso unir elementos não óbvios para financiar novos projetos e negócios”, finaliza.
Tendências em andamento
Para encerrar a manhã, a Holambra trouxe para os holofotes três iniciativas já em andamento, e que estão disponíveis para o cooperado. Na primeira delas, da AgHolmes, uma solução utilizando inteligência artificial busca apoiar a contabilidade das cooperativas, impedindo erros que possam criar problemas e consequentemente, multas. O projeto, apresentado pelo CEO da AgHolmes, Cleber Gaudino, atraiu 405 testers em sua primeira fase, e já apresenta resultados positivos.
De olho no aumento da produtividade, João Barbosa, CEO da Dioxd, apresentou um novo sistema de tratamento de sementes, que utiliza gás carbono para aumentar em 12% a eficácia da semente, resultando em aumento de produção em um formato que é completar a outros processos químicos já praticados pelo mercado.
Por último, Claudio Guerra, Técnico Comercial da FireLimit, destacou o produto da startup que busca mitigar os impactos do fogo na lavoura, que resulta em perdas superiores a U$25,1 bilhões. Com um produto de baixa toxicidade, a startup busca facilitar o processo de controle das chamas, criando um composto inédito para o mercado, que tem a capacidade de extinguir as chamas.
Tais projetos, são apenas uma pequena parcela das novidades que estão presentes no mercado. Para Aguinaldo Gomes Marques, Fundador e COO da Cyclo Agritech Aceleradora, observar as novas gerações é um passo complementar na busca por novas soluções, uma vez que as diferentes gerações dentro do campo, observam diferentes demandas e problemas. “Temos que pegar a geração seguinte, que está herdando as terras dos pais. Acreditamos que ali vão sair algumas demandas que os pais não irão identificar”, nos conta. Inaugurada em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, a Cyclo é uma das principais parcerias do Telescope.
Os próximos passos
Com o lançamento do Telescope na manhã de ontem, 17 de agosto, a Holambra agora inicia de prontidão o seu novo momento no processo de desenvolvimento da cooperativa. Segundo Morcelli, a partir de agora o time do hub entra em ação, pela base, ouvindo o que o produtor tem a dizer. Para os próximos meses, é esperado o início das iniciativas e projetos junto às startups, tirando do papel as soluções que serão apresentadas. Ainda no futuro próximo, a Holambra Cooperativa Agroindustrial inaugura o espaço físico do projeto, sedimentando de vez o Telescope Holambra como um espaço permanente de inovação e desenvolvimento para o produtor e para o agronegócio como um todo.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop