O biochar é um sólido semelhante ao pó de carvão. É obtido da palha do café por meio da pirólise, um processo de extração de carbono presente em resíduos vegetais. O material não apenas contribui para a redução das emissões de CO2, mas também aprimora a fertilidade do solo, consolidando-se como uma solução estudada e validada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Lajinha, município situado nas Matas de Minas Gerais e sede da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé), entra para a história como lar da primeira fábrica de produção de biochar da América Latina. A startup francesa NetZero, conhecida pelo seu inovador modelo que utiliza o material como ferramenta para combater as alterações climáticas e promover a sustentabilidade agrícola, em parceria com a Coocafé, inaugurou este ano a revolucionária usina Guy Reinaud, que homenageia o avó do fundador.
A parceria entre a startup e a cooperativa, que reúne mais de 10 mil cafeicultores das Matas de Minas e Montanhas do Espírito Santo, traz novos horizontes para a sustentabilidade agrícola. A Coocafé fornecerá resíduos provenientes do envelhecimento do café, que serão transformados em biochar pela NetZero. O biochar será utilizado pelos agricultores em suas plantações, promovendo um aumento na produtividade das culturas e uma redução na dependência de fertilizantes. Além dos benefícios ambientais, o uso do biochar na produção de café oferece vantagens econômicas substanciais.
A fábrica Guy Reinaud, que recebeu esse nome em homenagem a um dos pioneiros do biochar, tem a capacidade de produzir mais de 4.500 toneladas de biochar anualmente, equivalente a retirar mais de 6.500 toneladas de CO2 da atmosfera a cada ano.
O carvão vegetal usado para melhorar a fertilidade do solo, a produtividade de lavouras, e que reduz a emissão de gás carbônico, passa por uma fase testes na região.
O presidente da Coocafé, Fernando Cerqueira, ressaltou que o projeto representa um avanço para a sustentabilidade e a solução do problema da destinação da palha de café, que hoje é utilizada como combustível pelos produtores.
“Hoje, quase 100% dos produtores têm esse material como combustível. A metodologia visa o resgate de carbono e a geração de créditos de carbono positivos, beneficiando o meio ambiente. A Coocafé cedeu terreno e aproximou a NetZero dos associados para a implementação do projeto. Vamos impactar mais de 400 produtores ligados à cooperativa em Lajinha e região. A metodologia do biochar beneficia toda a cadeia, melhorando as condições do solo e promovendo a diminuição do uso de químicos no cafezal. Faz parte da essência do cooperativismo o trabalho com sustentabilidade (ambiental, econômica e social), além de disseminar tecnologias inovadoras e educação”.
A cidade de Brejetuba, no Espírito Santo, também se uniu a esse movimento revolucionário com uma nova unidade de produção de biochar a começar a operar em 2024 com a mesma capacidade da unidade de Lajinha e a apenas 25 km de distância da pioneira, beneficiando-se de melhorias notáveis em termos de hardware e software. A cooperação entre a NetZero e a Coocafé demonstra a importância do trabalho conjunto e da busca por inovações no cenário agrícola.
Pedro de Figueiredo, sócio-fundador da NetZero, compartilha a visão de captura de CO2 por meio da pirólise rápida e como o biochar se destaca como a única fonte orgânica e natural de captura de carbono. Ele destaca os objetivos ambiciosos da empresa em expandir esse modelo globalmente e seu desejo de tornar a agricultura mais sustentável.
“O biochar é a única fonte de captura de CO2 de maneira orgânica e natural. A empresa tem um projeto ambicioso de estender o projeto para o mundo inteiro, capturando CO2 em diferentes regiões do globo e tornando a agricultura sustentável. A primeira planta, localizada em Camarões, já captura 6.500 toneladas de CO2/ano”, destacou.
A inauguração da fábrica de biochar Guy Reinaud em Lajinha e a instalação da unidade em Brejetuba representam marcos cruciais no esforço global de combater as mudanças climáticas e promover uma agricultura sustentável.
Além dos benefícios ambientais, a utilização do biochar na cultura de café pode trazer benefícios econômicos, como aumento de produtividade e redução do uso de fertilizantes responsáveis pela emissão de CO2. A empresa busca parcerias com cooperativas do agronegócio que compartilhem os mesmos valores e tem como objetivo trazer conhecimentos de última geração para locais que passariam anos para ter a mesma tecnologia.
O francês Olivier-Guy, fundador da NetZero, inspirado pelo interesse de seu avô, Guy Reinauld pelo biochar, e com a contribuição de seu pai, transformou essa paixão em um modelo de negócios inovador. A história da NetZero é um testemunho do poder do conhecimento transmitido entre gerações e da colaboração entre diferentes atores para promover mudanças significativas.
“Os resultados mostram ser possível reproduzir o nosso modelo de negócio em qualquer parte do mundo. Temos fartura de biomassa e vamos iniciar o projeto de expansão por aqui, no Brasil. Nosso primeiro propósito é descarbonizar o mundo, e depois, tornar a agricultura sustentável. E uma das forças do agro é o cooperativismo na veia. Procuramos muito parceiros e fomos felizes em contactar a Coocafé, onde encontramos solo bastante fértil, pois dividimos os mesmos valores. A cooperativa é, foi e será essencial para o desenvolvimento do agro onde a NetZero está inserida”.
Fonte: Conexão Safra