Novas tendências emergem com frequência, prometendo disrupções, evoluções e mudanças nas dinâmicas de inovação, tecnologia, mercado e hábitos. Algumas se concretizam, outras continuam se desenvolvendo e enquanto diversas mais não encontram o caminho do sucesso.
O ano de 2022 serviu para que inovações pudessem se consolidar como elementos importantes para os negócios das cooperativas. Ficar de olho no que acontece no mercado corresponde a uma parte fundamental para o planejamento e a gestão da inovação.
Por isso, neste artigo, iremos compilar seis tendências que, em 2022, ganharam corpo, viraram realidade e impactaram na inovação e nos negócios. Aproveite a leitura!
1. Implementação do 5G no Brasil
A internet de quinta geração, conhecida como conexão 5G, com sua alta velocidade, baixa latência e forte estabilidade, promete revolucionar as telecomunicações e acelerar a transformação digital. A disponibilidade do 5G, entretanto, ainda é globalmente muito desigual.
O Brasil é uma boa notícia em relação à implementação da tecnologia. Após o leilão para a exploração e oferta das frequências do 5G no país, realizado no final de 2021, este ano foi o de começar a disponibilizar a conexão de quinta geração.
Apesar de alguns atrasos, o ano terminou com o 5G disponível em todas as capitais brasileiras, além de outras grandes cidades. Segundo os dados mais recentes da Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel, a rede contou com 4,550 milhões de acessos em outubro de 2022.
Próximos passos da caminhada 5G
As próximas fases da instalação do 5G no país prevê a disponibilização da tecnologia em cidades menores. O objetivo da Anatel é que, até o final de 2029, todos os municípios brasileiros sejam contemplados pela internet de quinta geração.
Para 2023, a principal meta é ampliar a quantidade de antenas nas capitais e no Distrito Federal para, no mínimo, uma antena a cada 50 mil habitantes.
Do ponto de vista da inovação, o desafio é descobrir como melhor tirar proveito do potencial liberado pela disponibilidade da tecnologia. Algumas das áreas ligadas ao cooperativismo em que ela pode potencializar mudanças são:
- Agro: A conectividade ainda representa um desafio para o agro brasileiro, já que a internet ainda não está presente em mais de 70% das propriedades rurais. O acesso ao 5G promete culminar em um agronegócio mais automatizado e autônomo, com maior uso de máquinas e robôs, além de facilitar o monitoramento de lavouras e uso remoto de maquinários.
- Saúde: a telemedicina cresceu com a pandemia e pode ficar ainda mais sofisticada com o 5G. Aliando o 5G e dispositivos vestíveis, como relógios inteligentes, a captura de informações fisiológicas se torna mais eficiente. Esses dados ajudam os médicos a encontrar diagnósticos e a fazer acompanhamentos em processos de recuperação.
- Finanças: a absorção do 5G nas finanças ajuda a digitalizar o relacionamento com os cooperados, melhora os sistemas de detecção de transações fraudulentas e mecanismos de segurança do internet banking. Coopavel se planeja para o 5G
O cooperativismo brasileiro já está ciente do potencial proporcionado pela tecnologia 5G. A paranaense Coopavel (Cooperativa Agroindustrial de Cascavel) possui uma parceria com as empresas de tecnologia Huawei e PTI a fim de explorar a conexão de quinta geração no agronegócio.
A atuação conjunta almeja avaliar o monitoramento e a transmissão em tempo real de imagens em alta definição sobre o solo e plantações para acompanhamento à distância e orientações técnicas.
Além disso, o impacto do 5G no funcionamento autônomo de máquinas e equipamentos (tratores, colheitadeiras, semeadeiras e plantadeiras, por exemplo) também é alvo de atenção da coop.
2. Data Design
A importância dos dados para os negócios não para de crescer e, com isso, torna-se cada vez mais importante compreendê-los. A partir de uma demanda pela visualização efetiva dos dados, o data design (design de dados) deixou de ser uma das tendências de 2022 e se tornou realidade.
O conceito de data design almeja comunicar os dados por meio de uma representação visual com base em imagens e gráficos. Assim, seu objetivo é facilitar a comparação de dados e a compreensão de conceitos complexos. Tanto que essa mesma ideia pode ser chamada de “data storytelling” – ou o ato de contar histórias por meio dos dados.
A visualização adequada de dados tem três pilares essenciais, que são:
- Precisão
- Utilidade
- Replicação
Dessa maneira, o data design possibilita que pessoas sem conhecimentos profundos sobre dados possam acessar e compreender informações cruciais de uma organização. Consequentemente, essas pessoas ficam mais capacitadas para tomar decisões subsidiadas pelos dados apresentados.
Dados que contam histórias
Os dados se tornaram elementos cruciais para tocar os negócios. Quando eles são usados de forma inteligente e efetiva, são capazes de agregar valor aos produtos e serviços das cooperativas.
Para que esse patamar seja alcançado, entretanto, os dados precisam ser refinados e bem comunicados. Afinal, não é todo mundo que consegue ler uma planilha com clareza e assimilar as informações dispostas em uma tabela. Por isso, a ideia é de que, por um lado, os dados contam as histórias; por outro, o design tem o papel de ilustrá-las.
No cooperativismo, onde as decisões são coletivas e tomadas pelo corpo de cooperados por meio das assembleias, o data design é um ferramenta poderosa. Com a visualização adequada dos dados relevantes para as cooperativas, os associados têm uma melhor compreensão das informações dispostas e podem votar com mais segurança e consciência.
Confira o relatório do conselho da Coop – Cooperativa de Consumo, por exemplo. As informações são dispostas visualmente, através de gráficos e ilustrações. Dessa maneira, a assimilação dos dados fica mais fácil para a compreensão dos cooperados.
O cooperativismo é uma cultura orientada a dados
O Anuário do Cooperativismo Brasileiro, produzido pelo Sistema OCB, por exemplo, é uma ferramenta que emprega o conceito de data design para comunicar a magnitude e o desenvolvimento do cooperativismo brasileiro.
Os dados são disponibilizados por meio de representações visuais dinâmicas e interativas. Com isso, o Anuário facilita a absorção das informações, o que gera inteligência de mercado e estimula a busca pelo conhecimento sobre o cooperativismo.
3. Agenda ESG
A “onda ESG” deixou de ser uma onda e vem se tornando um fator preponderante para negócios de todos os setores. Os pilares da sustentabilidade ambiental, desenvolvimento social e governança são demandas crescentes na sociedade como um todo, na busca por um mundo mais igualitário, verde e ético.
Criado em 2004, o conceito de ESG nunca foi tão prevalente quanto em 2022, como o gráfico do Google Trends deixa evidente.
A agenda ESG está sendo imposta, majoritariamente, pelos consumidores. As novas gerações, sobretudo, estão focadas em manter um estilo de vida mais sustentável e socialmente consciente. Como consequência disso, as marcas que atendem essas aflições obtêm vantagem competitiva – algo que faz toda a diferença em uma economia acirrada e dinâmica.
Esse fenômeno é exemplificado por uma pesquisa da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Em São Paulo, 60% das empresas avaliam critérios ESG para contratar fornecedores. No mais, o ESG ainda se consolida como uma maneira de aumentar a atratividade dos produtos e construir uma marca positiva.
Cooperativismo avançando no ESG
O cooperativismo cumpre um papel importante nos avanços da agenda ESG, uma vez que a maioria de seus princípios convergem com as tendências sustentáveis. Um exemplo disso é a história de como a Certel, maior cooperativa de eletrificação do país, que instalou um eletroposto para abastecer carros elétricos gratuitamente.
As energias renováveis são protagonistas no enfrentamento às mudanças climáticas, e o Brasil se destaca nesse aspecto. A matriz energética do país apresenta um índice renovável de 84% perante aos 27% da média mundial. O cooperativismo brasileiro também marcou presença na COP27, a Conferência do Clima das Nações Unidas.
4. Consolidação do e-commerce
O e-commerce já vinha, há alguns anos, como uma modalidade em crescimento no varejo, conforme o acesso à internet foi sendo difundido. Com a pandemia de covid-19, contudo, o e-commerce explodiu. A dúvida que ficou era: com o fim das restrições e do isolamento social, ele se manteria firme e forte em 2022?
A resposta é que o e-commerce não só se manteve robusto, mas continuou sua trajetória de crescimento. Um levantamento indica que o faturamento do comércio eletrônico nos cinco primeiros meses de 2022 apresentaram um aumento no faturamento de 785% na comparação com o período pré-pandemia.
Ou seja: o e-commerce veio para ficar. Muitos consumidores que não tinham hábito ou confiança para comprar online cederam à modalidade durante a pandemia e tomaram gosto pelas facilidades do comércio eletrônico.
Esse fenômeno proporcionou, ainda, o surgimento do recommerce, mais um derivado da potencialização do consumo online. Este novo tipo de comércio corresponde à revenda de produtos de segunda mão pela internet. Dessa maneira, eles voltam ao ciclo de consumo custando menos e com impacto ambiental reduzido, importantes tendências de 2022.
E-coop
Diante das restrições que se impuseram em decorrência da pandemia, uma série de cooperativas lançaram iniciativas de e-commerce. É o caso, por exemplo, do Ailos Aproxima, um marketplace para empreendedores idealizado pelo Sistema Ailos, que reúne 13 cooperativas de crédito no Sul do Brasil e da Cocamar Cooperativa Agroindustrial.
5. Emergência dos superapps
Um dos caminhos que os serviços digitais estão tomando é a concentração de diversas modalidades em um mesmo aplicativo. Afinal, quanto mais recursos uma mesma plataforma fornecer, maior é a comodidade para o usuário e a fidelidade com a marca. A partir dessa lógica, os superapps se consolidaram como uma das tendências de 2022.
Na prática, os superapps são aplicativos que centralizam uma gama de atividades online em um único lugar. Esse conceito é um sucesso no mercado asiático graças a apps como os chineses WeChat, da Tencent, e o Alipay, do Alibaba, duas big techs. A Gartner descreve que os superapps são como canivetes suíços.
O WeChat, por exemplo, começou como um aplicativo focado em trocas de mensagens. Devido ao sucesso e ao crescimento da base de usuários, ele adicionou serviços de pagamentos e passou a hospedar um marketplace, dentre outros serviços.
SuperApps chegam ao Ocidente – e ao Brasil
Aos poucos, esses ecossistemas integrados começaram a chegar no ocidente, e a Garntner estima que, até 2027, mais da metade da população mundial usará superapps.
A consultoria cita o aplicativo britânico Revolut como um exemplo de sucesso. Trata-se de uma fintech que, além de oferecer serviços financeiros tradicionais, expandiu sua atuação. Agora, freelancer, pequenos e médios negócios podem ofertar seus produtos e serviços dentro do ecossistema.
No Brasil, o maior exemplo de superapp é o Magalu, da rede varejista Magazine Luiza que, além de servir como plataforma de compras, proporciona uma gama de serviços. Um deles, por exemplo, é uma conta digital. O app disponibiliza, ainda, marketplaces e cursos educativos. WhatsApp, PicPay e Mercado Pago são outros superapps que atuam no Brasil.
No cooperativismo, há o Super App, da Unimed Goiânia, que centraliza diversos serviços voltados à saúde. A iniciativa visa melhorar a experiência dos pacientes e dos cooperados em um ecossistema digital.
6. Ambidestria organizacional
A ambidestria organizacional é um conceito que descreve a concomitante busca pela eficiência operacional e a capacidade de inovação de forma equilibrada. Isto é: olhar para as possibilidades de inovação que se apresentam para o futuro, explorando tendências e oportunidades, enquanto também mantém o foco na sustentação do negócio.
Diante dos desafios encarados pelas organizações em 2022 – como a instabilidade econômica de muitos países, os efeitos da guerra na Ucrânia, a retomada lenta do crescimento, problemas nas cadeias de produção e dificuldades enfrentadas por gigantes da tecnologia – a inovação disruptiva no longo prazo precisou andar de mãos dadas com a operação eficaz do dia a dia.
Pilares da ambidestria
Um estudo publicado pela Harvard Business Review comparou 35 iniciativas de inovação e descobriu que 90% das organizações que usam estrutura ambidestra alcançaram seus objetivos estratégicos. Por outro lado, somente 25% das organizações que usam outro tipo de estrutura alcançaram seus objetivos.
A ambidestria possui dois pilares que devem avançar lado a lado. São eles:
- Inovação de sustentação: são as novas ideias que incrementam os produtos e serviços que já são oferecidos pela organização, a fim de torná-los mais atrativos, eficientes e rentáveis. Ou seja, é a inovação incremental, que melhora elementos que já existem. Seus efeitos são sentidos mais rapidamente.
- Inovação de crescimento: trata-se da busca por ideias inovadoras disruptivas, mais profundas e revolucionárias, e que trabalham com prazos mais longos e desafios incertos. Pode representar a mudança de modelo de negócios ou a apresentação de um novo produto criado do zero ao mercado, por exemplo.
A inovação de crescimento tem riscos inerentes. Afinal, um grande investimento pode não dar os resultados esperados e fracassar. Por isso é tão importante manter uma base sólida que possa dar suporte – o que se alcança por meio da inovação de sustentação.
É senso comum que uma organização deve garantir o presente ao mesmo tempo em que garante o futuro. As técnicas, processos e percepções de uma estratégia ambidestra permitem que inovações disruptivas e inovações tradicionais do atual modelo de negócios da empresa coexistam e se complementem.
Tendências nem sempre são fáceis de prever. Muitas vezes, alguma inovação em potencial pode seguir como tendência por anos, até que enfim se consolide como uma realidade de impacto nos negócios e na sociedade. Em outros casos, o tempo pode deixá-las para trás como um potencial que não se realizou por limitações tecnológicas ou aspectos culturais.
Fonte: Inovacoop com adaptação da MundoCoop