O valor de mercado das empresas é definido, hoje, cada vez mais por como elas pensam e agem diante de dilemas sociais e ambientais. No século XXI, os desafios das marcas são crescentes. Quem não compreender e abraçar esta nova realidade estará fora do jogo e será esquecido, soterrado.
Na medida em que o valor de mercado de uma empresa é ditado cada vez mais por como ela pensa e age diante de uma realidade cada vez mais plural e mutante, vemos as demandas atingirem um novo patamar de complexidade. A “febre” do ESG (Environmental Social Governance) é a onda surfada pelas corporações mundiais. Tamanha é a ênfase nesta nova mentalidade corporativa, que cria na sociedade a expectativa de que agora a mudança desejada por muitos será geral e real.
Mercado de crédito de carbono, transparência, diversidade e inclusão são os principais temas encontrados em artigos sobre tendências de ESG, e com razão. No entanto, para ampliar o debate, é preciso abordar temas até agora relegados a um segundo plano, mas que são tão ou até mais importantes.
Percepção da agenda social como uma questão prioritária no Brasil. Por vezes, ao tratar de ESG, temos a impressão de que a sigla é dominada pela agenda ambiental. Compreensível, considerando-se ser esta a principal pauta no mundo e a existência de uma forte e justa pressão pela compensação das pegadas geradas pelas atividades produtivas.
A reflexão necessária é: não existe sustentabilidade sem justiça social. E sem avançar na solução de questões básicas acerca da qualidade de vida em países subdesenvolvidos, fracassaremos em nossos objetivos como um todo. Não há como tratar de economia de água se faltam caixas d’água em moradias precárias. Não há como abordar gestão responsável de resíduos, se a população é excluída da esfera do consumo, até mesmo de bens essenciais. Não há como falar de alimentação saudável se as pessoas estão famintas ou mal alimentadas.
Ciência e tecnologia como motor da geração de impactos em escala. Muito além do uso da AI (Inteligência Artificial) e IOT (Internet of Things) na otimização de processos e gestão de dados em tempo real, estamos assistindo a uma verdadeira revolução no campo da nanotecnologia. Vivemos um novo ciclo de evolução que transformará drasticamente a cadeia produtiva de materiais, a geração de energia, a filtragem de água e diversas outras áreas.
O empreendedorismo periférico como a 4a economia no Brasil. Celso Athayde, fundador da Cufa (Central Única das Favelas) levou este conceito para o Fórum Econômico de Davos e foi algo que me tocou profundamente. À frente da Catraca Livre, acompanho a cena cultural periférica há tempos. E vejo como esta produção criativa tem ditado tendências na formação cultural do nosso povo. Vejo esse mesmo protagonismo na comunicação, com oscreators espalhados pelas quebradas do país. Na moda, pipocam movimentos inovadores como o Brasil Core, que inspirou o mundo. Hoje assistimos a um novo campo em ebulição na indústria criativa. Ele é forte, abrangente e veio das periferias para ocupar e transformar. Só não vê quem não quer.
Para avançar de forma estruturada em novas estratégias de ESG precisamos mergulhar fundo na realidade das pessoas. Temos que saber quem são, quais suas dores, desejos e sonhos. Devemos participar de suas vidas e oferecer soluções efetivas a problemas e angústias. Como se opera este milagre? Simples: com ações transformadoras, com histórias reais bem contadas e com conteúdos relevantes. Estamos dando passos significativos nesta direção. Seja por consciência ou por necessidade de sobrevivência, a mudança já acontece. Se existe um caminho para construir marcas admiradas, é este. E ele começa com cada um de nós fazendo a seguinte pergunta: afinal, qual é minha razão social?
*Marcos Dimenstein é CEO do Catraca Livre e idealizador da C-Hub, agência especializada em comunicação de impacto