O Cooperativismo de crédito é mais que um modelo de negócio, é uma forma de viver que busca equilíbrio nas relações de consumo e soluções para dificuldades encontradas no sistema capitalista moderno.
A principal característica da economia tradicional é a forma como produzimos e distribuímos os bens. Para as sociedades de capital só é bem econômico, ou seja, tem valor de troca, aquilo que é escasso, não se preocupando com aquilo que é abundante. O que descobrimos é que existem problemas profundos na raiz desse modelo remontado desde as relações de escambo. O paradigma que encontramos nessa relação de consumo é de competição e egocentrismo, uma vez que os bens não são suficientes e as pessoas querem maximizar sempre seus ganhos. Há uma tensão entre a utilidade das coisas e a finitude dos bens em detrimento aos desejos infinitos das pessoas. É assim que convencionamos viver. Charles Eisenstein, matemático americano, destaca a criação de uma escassez artificial, criada pelas marcas e pela suposição de exclusividade de alguns produtos ou serviços. Tudo que é escasso é mais caro e por esse motivo só pode ser acessado por poucos, os que têm mais dinheiro. Todo esse sistema alimenta diferenças sociais e sérias atitudes irresponsáveis ao colocar o dinheiro no centro de tudo.
Com intuito de melhorar a qualidade de vida das pessoas, em 1844, um grupo de tecelões ingleses guardaram um pouco de dinheiro para comprar itens básicos de alimento direto do produtor e abriram um pequeno armazém. Nesse empreendimento inovador e coletivo, eles eram donos e consumidores ao mesmo tempo. No final repartiam tudo que ganhavam, criando a primeira cooperativa moderna do mundo. A prosperidade e o ganho foram tão relevantes que esse modelo, o cooperativismo, nunca parou de crescer. De lá para cá, em todos os continentes bilhões de pessoas participam de cooperativas em todos os setores da economia.
Especialmente no ramo financeiro, elas buscam edificar uma economia solidária e colaborativa, com a geração de oportunidades para todos, estimulando poupança, promovendo educação e melhorando o empreendedorismo e educação financeira. Para a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) é possível equilibrar o econômico e o social, o indivíduo e o coletivo em uma empresa que é ambivalente, onde os agentes econômicos são conectores e apregoam um olhar de abundância, gerando um círculo de virtuosidades que se retroalimenta para promover a prosperidade de todos.
Longe de querer acabar com o capitalismo e de defender o comunismo ou o socialismo, o cooperativismo é um modelo que busca equilíbrio e a melhor distribuição de renda, além de descentralizar o poder. Com uma gestão democrática, concede vez e voz às pessoas e permite que seus associados assumam posições de donos e decisores do futuro da cooperativa. Colocamos do mesmo lado o produtor e o cliente, a produção e a sustentabilidade para o desenvolvimento das comunidades onde o cooperativismo está inserido.
As oportunidades existentes para o cooperativismo, ainda desconhecido por muitos, estão primeiro no entendimento do seu modelo socioeconômico, no mindset de que é possível compartilhar ao invés de ter a posse e de que a maximização egoísta na verdade afeta os bens comuns. I Incluir uma forma colaborativa em nossa cultura é extremamente urgente e importante para a perenidade e manutenção da humanidade. Países mais desenvolvidos são mais cooperativos por natureza e buscam olhares de ganhos locais. No Brasil, já houve uma enorme evolução no marco legal das cooperativas desde a lei 5764/1971, que está em constante aperfeiçoamento da governança, além da especialização e profissionalização dos colaboradores e o incentivo do próprio Banco Central no aumento da participação do Cooperativismo no Sistema Financeiro Nacional.
Temos percebido cada vez mais a valorização de ideias e princípios sustentáveis como o ESG (abreviação de environmental, social and governance) e os ODS (Objetivos do desenvolvimento sustentável). As cooperativas já atuam nesse escopo há dezenas de anos, de forma natural, mas ainda precisam se conectar melhor e dar mais visibilidade às essas iniciativas.
Em resumo: confiança é a chave para o cooperativismo. A colaboração e a participação são fundamentais para que haja sucesso em todo empreendimento. Quanto maior for a participação do cooperado mais adequada, representativa e satisfatória será a cooperativa. Não existem perdedores onde todos ganham!
*Diogo Angioleti é especialista em finanças e comportamento do Sistema Ailos